A vida de quem
trabalha no cemitério se mistura a dor e tristeza das famílias que enterram
seus mortos, tendo por muitas vezes que consolar e dar palavras de apoio numa
época de grande sofrimento.
Assim
acontece como pedreiro Luís Carlos Mariano, que há 18 anos trabalha no
Cemitério Jardim da Saudade, localizado na Zona Norte de Londrina. “Em 1995
havia a frente de trabalho, que realizava diversas atividades para a
prefeitura. Nos cemitérios tinha pedreiros, zeladores e coveiros. Eu fazia
parte dela. Porém, com o fim da frente de trabalho, comecei a construir e
revestir túmulos. Neste período de 18 anos e nos últimos dias, presenciei
muitas atividades paranormais”, revela. Surpreendentemente,
ele diz que os fenômenos acontecem no fim da tarde, quando o cemitério está
mais tranquilo e as pessoas de coração puro, crianças e animais tem maior
percepção em relação aos acontecimentos. Um dos episódios foi em 2008, às cinco
da tarde. “Escutei uma voz feminina chamando meu nome por três vezes. Ao olhar não
vi ninguém. Aquilo me arrepiou, mas não tive medo. No cemitério estão
enterradas pessoas boas e ruins e aqui há assombrações e almas que vagam e
procuram uma luz ou caminho. No começo tinha medo, mas já me acostumei”,
afirma.
Apesar
do fato distante, Luís diz que nos últimos dias, algumas assombrações e coisas
estranhas rondam o cemitério. “Ao construir uma sepultura, tinha que colocar
quatro lajes de 50 quilos cada em cima da mesma. É um trabalho difícil e havia dificuldade.
Inesperadamente, surge um homem, de uns 40 anos, saudável e vestido com uma
roupa azul clara que me ajudou. Porém, ao se virar para agradecer, ele não
estava lá e vi um revoar de pássaros”, diz. Evangélico de igreja pentecostal, Luís
acredita que na hora mais difícil do trabalho, um anjo lhe ajudou. Outro fato
que o deixou assustado, foi quando uma loira, com os cabelos compridos soltos e
um vestido branco longo, pediu uma informação a respeito da sepultura de uma
criança com seis anos, morta há pouco tempo de maneira trágica. Ao não saber
com exatidão, pediu que a moça, de olhos azuis, procurasse a portaria do
cemitério, distante a seiscentos metros, para obter a informação. Ela agradeceu
e, ao se abaixar por alguns instantes a loira já estava na portaria.
Mas não é apenas a bondade que ronda
o lugar. Muitos vão aos cemitérios para realizar mal ao próximo e os exemplos são
muitos. Certo dia, Luís presenciou duas moças agachadas numa cova, mexendo na terra
por uns dez minutos. Ao saírem, por curiosidade, o pedreiro foi verificar o que
haviam feito. Ele constatou a terra revirada e lá haviam enterrado um pequeno
caixão com a fotografia de outra mulher. Desconfiado dum feitiço, no mesmo
instante retirou a fotografia e a levou na igreja, no intuito de quebrar a
maldição. Além deste tipo de feitiço, é comum ver nos cemitérios sapo com a
boca costurada com o nome de alguém lá dentro; o nome da pessoa amarrado ou
acorrentado no cruzeiro; ou bonecos, que representam a pessoa, espetado com
agulhas, tudo isso desejando o mal.
Apesar
dos fatos sobrenaturais e feitiços, os cemitérios são bem frequentados no dia a
dia. Os motivos são diversos, como visitas a um ente falecido; os que celebram
cultos e novenas, este último sempre às segundas feiras, no Jardim da Saudade.
Há também os que vão para meditar e refletir, devido à tranquilidade. Mas, com
certeza, o local mais visitado dum cemitério é o cruzeiro, onde fiéis acendem
velas para “iluminar” o caminho das almas, ou dar oferendas a santos e orixás. São
inúmeras as oferendas, como dinheiro, cachaça, vinho, champanhe, cigarro,
pipoca, velas, quadros, santos de gesso, balas e uma infinidade de objetos
ligados à cultura que envolve as crenças e religiões. “É comum, ao passar
próximo ao cruzeiro, achar dinheiro, porem não pego, foi oferecido a alguém. No
entanto, vejo pessoas se apoderar das bebidas, do dinheiro e dos cigarros
encontrados no local. Não faço isso. Acredito que ao pegar algo que está lá,
pode trazer coisas ruins para a vida do sujeito”, afirma.
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