sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Os desafios da Infância e da Juventude no Brasil (Por Aldo Moraes)


Vivemos no Brasil duas visões e práticas diferenciadas com relação à situação da infância e juventude após 20 anos da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente: uma consiste nos sistemas prisionais que se espalham pelo país, demonstrado que em nada recuperam adultos, crianças ou adolescentes. De outro lado há iniciativas de escolas públicas junto com organizações não governamentais que conquistam a criança e o adolescente com práticas comunitárias de esporte, arte e cultura.     
                                                                                       
O problema do abandono social à que crianças e jovens são submetidos (na maior parte das vezes por carência econômica das famílias) é grande e mirar este desafio com esperança e determinação de "dias melhores" é realmente apontar para um novo Brasil.                                                                                                     
Há dez anos o Banco Mundial já divulgava um estudo sobre o impacto da educação pré-escolar, confirmando que intervenções-chave no início da vida são pequenos investimentos que trazem bom retorno e bem estar físico, mental e econômico ao longo da vida do futuro adulto. Mas o que espera uma criança brasileira que nasce em um lar muito pobre e tem seu destino quase sempre traçado pela falta de oportunidades, a começar pela desvantagem no acesso aos estímulos adequados à creche e à pré-escola?
        Tendo aumentadas as chances de fracassar (repetências e evasões escolares) o futuro jovem/adulto terá uma profissão mal remunerada e constituirá uma família pobre, completando o ciclo de pobreza que se alimenta desde o início da vida. Em situação de extrema exclusão social, os jovens são cooptados pelas drogas e pelo mundo do crime, o que é profundamente lamentável. Quando levados a instituições de sistema prisional infanto-juvenil, muitas vezes se degradam pelo convívio violento e sem atividades de inserção (arte, cultura, educação e esporte) em um modelo que onera os Estados e Municípios.               
Um estudo da Secretaria Nacional de Direitos Humanos divulgou que o custo para manter uma criança ou adolescente infrator internado, chega até a R$ 7.000,00 mensais. Por outro lado, projetos sociais que trabalham atividades culturais, esportivas e educativas se mostram eficientes na reconstrução da identidade não só de crianças, mas das próprias comunidades. Essa experiência se amplia com a iniciativa de Escolas Públicas em consolidar a educação em tempo integral mesmo quando precisam buscar parcerias e recursos para iniciar as atividades. E isso sempre a um custo menor que os sistemas de repressão.                
Como já dissemos num artigo anterior (A escola reinventada), a escola é ambiente de reflexão e embate intelectual. Ao buscar parcerias para a implantação de contra turno ela se torna fundamental para evitar ou combater a violência familiar, o uso de drogas e a evasão escolar. Tal conquista social e educativa é de baixo custo e se utiliza da criatividade e de agentes que já atuam na sociedade, como é o caso de artistas, esportistas e educadores sociais. Os resultados dessas ações poderão ser vistos em médio prazo e quem sabe, chamar a atenção de autoridades e especialistas sobre alternativas eficientes de transformação do indivíduo e da educação no Brasil.

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