Vivemos no Brasil duas visões e práticas diferenciadas com relação à
situação da infância e juventude após 20 anos da criação do Estatuto da Criança
e do Adolescente: uma consiste nos sistemas prisionais que se espalham pelo
país, demonstrado que em nada recuperam adultos, crianças ou adolescentes. De
outro lado há iniciativas de escolas públicas junto com organizações não
governamentais que conquistam a criança e o adolescente com práticas
comunitárias de esporte, arte e cultura.
O
problema do abandono social à que crianças e jovens são submetidos (na maior
parte das vezes por carência econômica das famílias) é grande e mirar este
desafio com esperança e determinação de "dias melhores" é realmente apontar
para um novo Brasil.
Há
dez anos o Banco Mundial já divulgava um estudo sobre o impacto da educação
pré-escolar, confirmando que intervenções-chave no início da vida são pequenos
investimentos que trazem bom retorno e bem estar físico, mental e econômico ao
longo da vida do futuro adulto. Mas o que espera uma criança brasileira que
nasce em um lar muito pobre e tem seu destino quase sempre traçado pela falta
de oportunidades, a começar pela desvantagem no acesso aos estímulos adequados
à creche e à pré-escola?
Tendo aumentadas as chances de
fracassar (repetências e evasões escolares) o futuro jovem/adulto terá uma
profissão mal remunerada e constituirá uma família pobre, completando o ciclo
de pobreza que se alimenta desde o início da vida. Em situação de extrema
exclusão social, os jovens são cooptados pelas drogas e pelo mundo do crime, o
que é profundamente lamentável. Quando levados a instituições de sistema
prisional infanto-juvenil, muitas vezes se degradam pelo convívio violento e
sem atividades de inserção (arte, cultura, educação e esporte) em um modelo que
onera os Estados e Municípios.
Um
estudo da Secretaria Nacional de Direitos Humanos divulgou que o custo para
manter uma criança ou adolescente infrator internado, chega até a R$ 7.000,00
mensais. Por outro lado, projetos sociais que trabalham atividades culturais,
esportivas e educativas se mostram eficientes na reconstrução da identidade não
só de crianças, mas das próprias comunidades. Essa experiência se amplia com a
iniciativa de Escolas Públicas em consolidar a educação em tempo integral mesmo
quando precisam buscar parcerias e recursos para iniciar as atividades. E isso
sempre a um custo menor que os sistemas de repressão.
Como já dissemos num artigo anterior (A escola reinventada),
a escola é ambiente de reflexão e embate intelectual. Ao buscar parcerias para
a implantação de contra turno ela se torna fundamental para evitar ou combater
a violência familiar, o uso de drogas e a evasão escolar. Tal conquista social
e educativa é de baixo custo e se utiliza da criatividade e de agentes que já
atuam na sociedade, como é o caso de artistas, esportistas e educadores
sociais. Os resultados dessas ações poderão ser vistos em médio prazo e quem
sabe, chamar a atenção de autoridades e especialistas sobre alternativas
eficientes de transformação do indivíduo e da educação no Brasil.
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