Dona Vilma e a implantação das cotas na UEL
Na década de 1970, a já
falecida Vilma Santos de Oliveira, a Yalorixá Mukumby, passou a desenvolver
atividades de terreiro, onde atuou na conservação da cultura afro-brasileira. Nesta
época ela iniciou sua militância política e negra, inspirada pelas lições
acumuladas do cotidiano (convivendo com o racismo e a discriminação), do
movimento estudantil e da formação familiar vinculada ao tio Leodoro e à AROL.
Yá Mukumby começou a participar do grupo União e Consciência Negra,
inicialmente organizado por Nilson Domingues. Posteriormente engajou-se no
Movimento Negro de Londrina, liderado na época por Idalto José de Almeida. A
partir deste momento ela dedicou sua vida pessoal às bandeiras sociais e
políticas.
Foi em meados dos anos 1980
que ela entrou no Partido dos Trabalhadores, conquistando visibilidade e sendo conhecida
e respeitada pela sociedade londrinense com o envolvimento no debate político e
racial. Enquanto representante da realidade da população afro-brasileira, ela enfrentou
problemas por ser mulher negra e de família pobre, elementos significativos
para sua formação política e expressivo enfrentamento das situações de
discriminação na sociedade brasileira.
Antes de militar no
movimento negro, Dona Vilma militava na vida cotidiana e observava as relações
sociais com enfoque racial. A partir desta vivência ela começa a questionar, encarar
e principalmente enfrentar valores raciais hegemônicos na sociedade
londrinense, que não escapavam de uma perspectiva nacional de embranquecer o
Brasil e que ratificava a condição de marginalização e subalternização da
população negra. Nesse sentido, Dona Vilma, junto com outros representantes do
Movimento Negro, também participou da elaboração da Semana Zumbi dos Palmares, e
no tocante à questão das políticas afirmativas no âmbito local. Uma das grandes
conquistas do Movimento Negro em Londrina, no qual ela atuou foi a instituição
do sistema de cotas na UEL (2004/2005).
O sistema de cotas na UEL
funciona da seguinte maneira: 20% das vagas para negros e 20% destinadas a
alunos da rede pública. Durante a instituição das cotas produziram-se materiais
de apoio à discussão sobre ações afirmativas. Dentre eles está o livro “O negro
na universidade: o direito à inclusão”, organizado por Jairo Queiroz Pacheco e
Maria Nilza da Silva, do qual Dona Vilma participou como co-autora e produziu um
capítulo que faz parte das comunicações orais, fruto de sua participação no
seminário que deu nome à obra. Dona Vilma fez uma palestra de abertura na mesa
que discutia as ações afirmativas no seminário referido e a discussão, transcrita
no livro, traz elementos como a luta pelas cotas enquanto reparação histórica e
combate à desigualdade racial, reafirmando a responsabilidade do Estado na
aplicação de políticas públicas voltadas para a população negra. No texto ela faz
um convite a comunidade acadêmica, alertando para a necessidade da reflexão
sobre as questões raciais brasileiras, racismo, discriminação racial e
injustiças sócio-históricas sofridas pelos negros.
Implantada na UEL em 2005, as cotas constitui-se
num sistema que reserva vagas para candidatos oriundos das escolas públicas. A
cada vestibular 40% das vagas de graduação são reservados a alunos cotistas,
sendo 20% para oriundos de escola pública e 20% para quem se declara negro e
oriundo de escola pública.
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