“E eu digo sim/E eu digo não
ao não/E eu digo: É proibido proibir” (trecho da emblemática canção de Caetano
Veloso, inspirada nos gritos de maio de 68, em Paris)”
Há
exatos 50 anos, em maio de 1968, o mundo era sacudido por manifestações
estudantis que se desdobraram por vários países adequando os gritos em torno de
cada realidade e transformando os rumos da sociedade, da política e da cultura.
Além da França, Estados Unidos, Alemanha, Tchecoslováquia, México e Brasil
tiveram manifestações.
Tudo começou com uma grande onda
de protestos que teve início com manifestações estudantis para pedir reformas
no setor educacional na França. O movimento cresceu tanto que evoluiu para uma
greve de trabalhadores que balançou o governo do então presidente, Charles De
Gaulle.
Uma série de conflitos entre
estudantes e autoridades da Universidade de Paris, em Nanterre, cidade próxima
à capital, fez que em 2 de maio de 1968, a administração decidisse fechar a
Universidade e ameaçando expulsar vários estudantes acusados de liderar o
movimento contra a instituição. As medidas provocaram a reação imediata dos
alunos de uma das mais renomadas universidades do mundo, a Sorbonne, em Paris.
Eles se reuniram no dia seguinte para protestar, saindo em passeata sob o
comando do líder estudantil Daniel Cohn-Bendit. A polícia reprimiu os
estudantes com violência e durante vários dias Paris virou cenário de batalhas
campais. A reação brutal do governo só ampliou a importância das manifestações:
o Partido Comunista Francês anunciou seu apoio aos universitários e uma
influente federação de sindicatos convocou uma greve geral para o dia 13 de
maio. No auge do movimento, quase dois terços dos trabalhadores cruzaram os
braços. Pressionado, em 30 de maio De Gaulle convocou eleições para junho.
Maio de 68 foi um momento
importante na luta pela liberdade e pelos direitos humanos e repercutiu com
obras no cinema (como o filme Baiser volés, de Truffaut; Mourir d’aimer, de
André Cavatte e Tout va bien, de Godard, para citar alguns exemplos); na música
(a letra de Street fighting man, dos Stones fala dos protestos na visão da
sonolenta Londres; Sinfonia de Luciano Berio inclui slogans gritados nas
passeatas; Vangelis lançou álbum em 1972 que continha áudios das manifestações
e transmissões de rádios) e na literatura, o livro The Merry Month of May (1971), de James Jones, conta a
história de um expatriado norte-americano que se vê acidentalmente em meio aos
protestos.
No
Brasil, em plena ditadura militar, o clima social já vinha tenso e em março de
1968, o estudante Edson Luis de Lima Souto foi morto com um tiro, no prédio da
UNE, no Rio de Janeiro, durante conflito de universitários com a polícia
militar. Em abril, uma bomba destrói a entrada do jornal O Estado de São Paulo
e em 15 de maio, outra bomba explode na porta da Bolsa de Valores de São Paulo.
No
campo cultural, em 1967 os festivais de música retratavam a política e as
novidades estéticas e se consolidam como movimento a partir do lançamento do
disco Tropicália (Caetano, Gil, Tom Zé, Mutantes) no ano seguinte. Vaiado com É
proibido proibir, Caetano faz um discurso indignado (“É essa juventude que quer
tomar o poder?”) e tem os microfones cortados. Duas das fontes de inspiração
para o Tropicalismo, o filme Terra em Transe, de
Glauber Rocha, e a peça O Rei da Vela,
montada por Zé Celso Martinez, são de 1967. Em janeiro, estreou a peça Roda
Viva (de Chico Buarque), também com direção de Zé Celso Martinez, cujo elenco é
agredido em julho de 68.
“1968, o Ano que não terminou”, de
Zuenir Ventura é um dos livros que retratam esse período junto com “1968 - o Diálogo é a Violência: Movimento Estudantil e Ditadura Militar
no Brasil”, de Maria Ribeiro do Valle e “Em Busca do Povo Brasileiro - Artistas da Revolução, do CPC à era da TV”,
de Marcelo Ridenti. O ano termina com vaias à canção Sabiá, de Tom Jobim e
Chico Buarque, e com Geraldo Vandré torturado e perseguido pelo sistema.
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