quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Após dedicar parte da vida a cerâmica, aos 76 anos, Benito Galli toca sanfona e anda de bicicleta nas horas livres

A imagem pode conter: 1 pessoa, tocando um instrumento musical

De origem e com cidadania italiana, Benito Mussolini Galli nasceu em Jataizinho em julho de 1939. Seus pais vieram num trem de carga em 13 de maio de 1932, da região de Assis. Na época não havia a ponte que ligava a cidade a Ibiporã e aquela foi a primeira mudança que chegava de trem para a cidade. “Meus pais, Medardo Galli e Teresa Galli, iam para Londrina. Mas na época havia uma diferenciação: os ingleses da Companhia de Terras do Norte do Paraná fizeram lotes na Warta para italianos e no Heimtal para alemães. Devido a Warta ser longe do núcleo urbano que se desenvolvia, ele preferiu ficar em Jataizinho. Isto se alia ao fator de existir o Tibagi, propicio a pesca”, diz.                                    
Estabelecido no município, Medardo Galli comprou uma chácara na parte para evitar o risco de contrair malária nas proximidades do Tibagi. E, sempre que ia pescar via a cerâmica de Caetano Bertanholi abandonada. Observando a situação comprou a olaria com o lucro obtido no plantio e comércio de arroz e frutas, no qual já atuava na Itália e realizava na chácara. Na olaria eles produziam telha. “Meu pai, Dionisio Stricker e Ferrugio Manfrinato abriram a estrada até a Seção Coqueiro. Ela ia até a Fazenda São José, de propriedade de Lázaro Vieira, irmão de José Eduardo Vieira, dono do antigo Banco Bamerindus.”, recorda.                                                                                        
Benito Mussolini Galli lembra que nesta época ele tinha seis anos e via constantemente, onde era a algodoeira Pernambucanas, o funcionamento de um matadouro de porcos, que abatia de 400 a 500 animais vindos de carroça, caminhão ou tocados a pé com vara de localidades como Assai, Rancho Alegre, São Jerônimo da Serra e Frei Timóteo. “Vi pessoas tocar mais de vinte porcos na estrada. Isto porque não havia compradores naquelas localidades. A banha do porco era vendida para a Casa das Banhas, em São Paulo. De lá vinha, por trem, latas vazias para se colocar o produto. Onde hoje é o Correio, era o local da carga, descarga e preenchimento das latas. Quanto aos miúdos e pedaços de carne, estes eram dados a quem quisesse”, recorda.                               
Dividindo o tempo entre a cerâmica e a criação de animais, aos 13 anos Benito Mussolini Galli aprendeu a dirigir um caminhão Ford 1942 e em 1958 se habilitou. Era meados de 1954 e ele vendia porcos e galinhas pelas ruas da cidade, onde cada frango valia dois mil reais. “Num pedaço de madeira amarrava quatro frangos de cada lado e até o meio dia vendia tudo. Com o dinheiro, em maio de 1954 comprei uma sanfona que guardo até hoje. Comprar uma sanfona ou bicicleta era difícil naquele tempo. Assim, em dezembro do mesmo ano toquei o primeiro baile em Ibiporã, no Limoeiro, quanto tinha 15 anos. Quanto a sanfona, adquirida na Rua São Bento em São Paulo, na Casa Só Terno, uma loja que não existe mais, eu a vi num catalogo que chegou a meu pai, dono de uma caixa de correio que recebia publicidade através de revistas e folhetos”, recorda Benito, que já tocava gaita de boca e para buscar a sanfona, viajou de trem por mais de 20 horas. Tamanho foi o sucesso do “sanfoneiro”, que ele tocou por oito anos em bailes de casamento. No período ganhou muito dinheiro e o cachê por baile era o valor de um porco gordo e meio, que daria hoje em torno de R$400,00 ou cento e vinte mil reais na época. Além de sanfoneiro, Benito Mussolini Galli foi cerâmica e trabalhava mais de 16 horas por dia na Cerâmica Cruzeiro. “Arrendei-a de meu pai em meados de 1956. A produção era direcionada para Nova Londrina, Paranavaí, Paraíso do Norte, Rondon, Cidade Gaúcha e Cianorte. Era o sertão que se desbravava na época. Como tocava sanfona, abri um show de uma dupla de meninos que cantavam muito bem, onde muitos iam de caminhão para vê-los. Posteriormente soube que era Chitãozinho e Xororó”, recorda.                             Outra lembrança foi quando ajudou a montar a Cerâmica Kennedy, que se chama assim devido ele admirar do ex-presidente americano John Kennedy, que gostava da paz. “Quando foram construídas casas na região, ao ser próximo a cerâmica, o bairro ficou conhecido por Jardim Kennedy”, pontua. 

Nenhum comentário: