Os pais do
professor Joaquim Braga são Carmelita Maria e José Domingues (já falecido).
Nascido em 10 de março de 1952 em Cornélio Procópio, ele viveu em Ivaiporã até
os 17 anos, mudando-se com a mãe e dez irmãos para Londrina em 1969. Nesta
trajetória ele trabalhou por mais de 20 anos na UEL, iniciando a carreira com
escriturário e saindo como Chefe de Divisão. Para engrossar a renda familiar,
Braga também acumulava o emprego no antigo Banco do Estado do Paraná
(Banestado). Formado em Letras na UEL, em 1999, no ano seguinte começou a
lecionar nas escolas públicas estaduais. Ele participou de várias atividades
como o Grito dos Excluídos, um fórum de denúncias contra a discriminação, além
do Desfile de 7 de Setembro.
Mantendo a
origem humilde, Joaquim Braga recorda que tinha enraizado a cultura rural, onde
na infância vivenciou o sertanejo e o caipira, não conhecendo o samba e nem
imaginando o que era uma escola de samba. Morando nas imediações da Vila
Casoni, conheceu músicas de Martinho da Vila, como “Pequeno Burguês” em 1972.
Com esta vivencia aos poucos se interessou pelo carnaval, que na época subia a
Paraná, nas imediações da loja Pernambucanas. “O carnaval era uma pequena
bateria de 30 a 40 componentes, mestre sala, porta bandeira, destaques com
fantasias e passistas. Entre as escolas a Unidos Independentes, Vila Nova, Bafo
de Jibóia, Jardim do Sol, Bahia abraça Londrina e Acadêmicos da Vila Casoni.
Por morar nas imediações da Vila Casoni e Santa Terezinha fui convidado a
participar”, recorda Braga, que sonhava em tocar bateria. Mas havia uma
hierarquia para tocar surdo, bumbo ou pandeiro. Como iniciante em 1973 ele
tocava frigideira, batendo-a no asfalto e ritmando demais instrumentos. A
escola ficou em último lugar, mas o Novo Jornal, criado naquele ano e um dos
primeiros a ser colorido em Londrina, publicou na capa, em 9 de março de 1973
sua foto com a frigideira. “Foi marcante. Desfilei três anos, mas havia uma
visão crítica e sociológica que me fez tomar consciência sobre algumas
desigualdades no carnaval, como por exemplo os diretores, ao fim dos desfiles tomavam
cerveja e uísque e oferecerem aos componentes baianos e passistas cachaça. Isto
me incomodava e por fim me afastei”, diz.
Voltando a
freqüentar o Bar Zumbi em 1983 ele via o carnaval crescer na cidade. Nesta
efervescência também crescia o Cinco Conjuntos, onde sua família morava e aos
fins de semana ele passava ali. “O Cinco Conjuntos surgiu como um núcleo
residencial e popular. A geada de 1975 foi uma das causas que retiraram as
famílias do campo, empurrando-as para as margens da cidade. Ali se formavam os
“grilos”, ou seja, invasões. O financiamento do BNH (Banco Nacional de
Habitação) ajudou a fazer conjuntos habitacionais como o Engenheiro Aquiles Stenghel, Engenheiro Luiz de Sá,
Engenheiro João Paz, Jácomo Violin, Semíramis de Barros Braga e Maria Cecília,
além de outros que ajudaram no processo de desfavelização. “Meus
familiares residiam no Luís de Sá, próximo ao atual Centro Cultural. Não havia
asfalto e aos fins semana, junto com meus irmãos e amigos, realizamos uma
batucada e roda de samba. A idéia da escola aflorava e pensávamos em batizar
como Unidos dos Cinco Conjuntos. Mas freqüentando o Bar Zumbi, alguém sugeriu o
nome Zumbi dos Palmares. Era um nome bom, mas restrito. Escolhemos Quilombo por
ser abrangente. Na época a diretoria era composta por mim, o comerciante
Gavilan, João (atual professor de História no Colégio Champagnat), Valdir de
Assis (compositor de vários sambas da escola), Pedro Domingos, Jair Domingos,
Luiz Antônio e posteriormente o Agenor Evangelista. Fundamos a Quilombo dos
Palmares em 20 de novembro de 1984 em homenagem ao Dia da Consciência Negra”,
recorda Braga.
Naquele ano
eles desfilaram, mas obtiveram a última colocação. Joaquim Braga observou que a
escola tinha poucos integrantes, as pessoas até iam aos ensaios da Quilombo,
mas devido a tradição do meio rural e hábitos como ouvir música sertaneja,
muitos se inibiam. Para resolver a falta de membros, a diretoria teve a idéia
de chamar travestis para desfilar. “Havia uma travesti famosa em Londrina, a
Minervina. Eu e o Gavilan fizemos contato com ela e assim os travestis
começaram a participar, além de fazer a Quilombo dos Palmares ser conhecida por
isto. Muitos ficaram com receio e acharam estranho. Mas o preconceito acabou
quando eles se mostraram pessoas de respeito, além de levar um pouco de luxo a
escola de samba. Os travestis participaram do carnaval por volta de sete anos e
neste período muitos vinham de Curitiba, Cascavel, Maringá e São Paulo para
desfilar”, lembra o professor Braga.
No decorrer
dos anos a Quilombo dos Palmares fazia os ensaios num espaço em frente a
Lanchonete Chapa Hall, perto do Depósito Alvorada ou no meio da Saul Elkind. O
empenho deu a ela o titulo de vice campeã em 1986 e de campeã em 1987 com o
enredo “No país das ilusões a vida é um jogo só”, proposto por Valdir de Assis
e uma referencia sobre as loterias. Aos poucos a Quilombo ganhava a simpatia
popular e rivalidade com a Unidos do Jardim do Sol e Chão de Estrelas. O
antagonismo era visto na apuração do carnaval, que ocorria Moringão. Apesar
disso, Braga tornou-se amigo do Ticão (Antônio Carlos Ferreira), que coordenava
a Unidos do Jardim do Sol. O
vínculo da Quilombo com o Cinco Conjuntos ficavam estreitos a partir de
ações e trabalhos sociais, como a organização das festas juninas. Outra
novidade foi em 1988, quando Joaquim Braga deslocou-se ao Rio de Janeiro e
descobriu que a Escola de Samba Império Serrano criou a Império do Futuro, uma
escola de samba mirim que tirava crianças e adolescentes das situações de
risco. “Trouxe a idéia para o Cinco Conjuntos e fizemos a Quilombo Mirim do
Futuro, que desfilou quatro anos. Os sambas enredo abordavam assuntos como o
menor abandonado e eles, além de cantar, integravam a bateria, porta bandeira e
mestra sala”, recorda Braga, que na época namorava a esposa Marisa. Como ela
estudava pedagogia, fez o cadastro dos integrantes e acompanhamento escolar.
Quem estivesse fora da escola não participava.
Enquanto
isto a escola adulta foi campeã novamente em 1992 com o enredo “Na contramão da
festança, quem dançou, dançou”, numa alusão as danças populares e ao fato do
ministro Bernardo Cabral e Zélia Cardoso, ambos do Governo Collor, terem sidos
flagrados numa tórrida dança em uma festa. Após a polêmica, que repercutiu nos
jornais e outras questões políticas, ambos saíram do governo. “Eles saíram na
contramão da festança. Mas foram eles ou o povo que dançou por conta das
medidas econômicas da época, como o confisco da poupança?”, assim questionou
Braga.
Joaquim
Braga recorda que a Quilombo tinha muitos contatos com a Mangueira do Rio de
Janeiro, fato que trouxe a Londrina, em 1989 e 1990 a ex-mulher do sambista
Cartola, dona Zica. Mas infelizmente houve o declínio das escolas e o fim do
carnaval de rua em Londrina. “A população se afastou. Entende-se carnaval como
festa cultural onde as escolas de samba devem estar próximas da comunidade e
assim fazer a participação popular”, finaliza o professor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário