quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Joaquim Braga


Os pais do professor Joaquim Braga são Carmelita Maria e José Domingues (já falecido). Nascido em 10 de março de 1952 em Cornélio Procópio, ele viveu em Ivaiporã até os 17 anos, mudando-se com a mãe e dez irmãos para Londrina em 1969. Nesta trajetória ele trabalhou por mais de 20 anos na UEL, iniciando a carreira com escriturário e saindo como Chefe de Divisão. Para engrossar a renda familiar, Braga também acumulava o emprego no antigo Banco do Estado do Paraná (Banestado). Formado em Letras na UEL, em 1999, no ano seguinte começou a lecionar nas escolas públicas estaduais. Ele participou de várias atividades como o Grito dos Excluídos, um fórum de denúncias contra a discriminação, além do Desfile de 7 de Setembro.                                        
Mantendo a origem humilde, Joaquim Braga recorda que tinha enraizado a cultura rural, onde na infância vivenciou o sertanejo e o caipira, não conhecendo o samba e nem imaginando o que era uma escola de samba. Morando nas imediações da Vila Casoni, conheceu músicas de Martinho da Vila, como “Pequeno Burguês” em 1972. Com esta vivencia aos poucos se interessou pelo carnaval, que na época subia a Paraná, nas imediações da loja Pernambucanas. “O carnaval era uma pequena bateria de 30 a 40 componentes, mestre sala, porta bandeira, destaques com fantasias e passistas. Entre as escolas a Unidos Independentes, Vila Nova, Bafo de Jibóia, Jardim do Sol, Bahia abraça Londrina e Acadêmicos da Vila Casoni. Por morar nas imediações da Vila Casoni e Santa Terezinha fui convidado a participar”, recorda Braga, que sonhava em tocar bateria. Mas havia uma hierarquia para tocar surdo, bumbo ou pandeiro. Como iniciante em 1973 ele tocava frigideira, batendo-a no asfalto e ritmando demais instrumentos. A escola ficou em último lugar, mas o Novo Jornal, criado naquele ano e um dos primeiros a ser colorido em Londrina, publicou na capa, em 9 de março de 1973 sua foto com a frigideira. “Foi marcante. Desfilei três anos, mas havia uma visão crítica e sociológica que me fez tomar consciência sobre algumas desigualdades no carnaval, como por exemplo os diretores, ao fim dos desfiles tomavam cerveja e uísque e oferecerem aos componentes baianos e passistas cachaça. Isto me incomodava e por fim me afastei”, diz.                                     
Voltando a freqüentar o Bar Zumbi em 1983 ele via o carnaval crescer na cidade. Nesta efervescência também crescia o Cinco Conjuntos, onde sua família morava e aos fins de semana ele passava ali. “O Cinco Conjuntos surgiu como um núcleo residencial e popular. A geada de 1975 foi uma das causas que retiraram as famílias do campo, empurrando-as para as margens da cidade. Ali se formavam os “grilos”, ou seja, invasões. O financiamento do BNH (Banco Nacional de Habitação) ajudou a fazer conjuntos habitacionais como o Engenheiro Aquiles Stenghel, Engenheiro Luiz de Sá, Engenheiro João Paz, Jácomo Violin, Semíramis de Barros Braga e Maria Cecília, além de outros que ajudaram no processo de desfavelização. “Meus familiares residiam no Luís de Sá, próximo ao atual Centro Cultural. Não havia asfalto e aos fins semana, junto com meus irmãos e amigos, realizamos uma batucada e roda de samba. A idéia da escola aflorava e pensávamos em batizar como Unidos dos Cinco Conjuntos. Mas freqüentando o Bar Zumbi, alguém sugeriu o nome Zumbi dos Palmares. Era um nome bom, mas restrito. Escolhemos Quilombo por ser abrangente. Na época a diretoria era composta por mim, o comerciante Gavilan, João (atual professor de História no Colégio Champagnat), Valdir de Assis (compositor de vários sambas da escola), Pedro Domingos, Jair Domingos, Luiz Antônio e posteriormente o Agenor Evangelista. Fundamos a Quilombo dos Palmares em 20 de novembro de 1984 em homenagem ao Dia da Consciência Negra”, recorda Braga.      
Naquele ano eles desfilaram, mas obtiveram a última colocação. Joaquim Braga observou que a escola tinha poucos integrantes, as pessoas até iam aos ensaios da Quilombo, mas devido a tradição do meio rural e hábitos como ouvir música sertaneja, muitos se inibiam. Para resolver a falta de membros, a diretoria teve a idéia de chamar travestis para desfilar. “Havia uma travesti famosa em Londrina, a Minervina. Eu e o Gavilan fizemos contato com ela e assim os travestis começaram a participar, além de fazer a Quilombo dos Palmares ser conhecida por isto. Muitos ficaram com receio e acharam estranho. Mas o preconceito acabou quando eles se mostraram pessoas de respeito, além de levar um pouco de luxo a escola de samba. Os travestis participaram do carnaval por volta de sete anos e neste período muitos vinham de Curitiba, Cascavel, Maringá e São Paulo para desfilar”, lembra o professor Braga.
 No decorrer dos anos a Quilombo dos Palmares fazia os ensaios num espaço em frente a Lanchonete Chapa Hall, perto do Depósito Alvorada ou no meio da Saul Elkind. O empenho deu a ela o titulo de vice campeã em 1986 e de campeã em 1987 com o enredo “No país das ilusões a vida é um jogo só”, proposto por Valdir de Assis e uma referencia sobre as loterias. Aos poucos a Quilombo ganhava a simpatia popular e rivalidade com a Unidos do Jardim do Sol e Chão de Estrelas. O antagonismo era visto na apuração do carnaval, que ocorria Moringão. Apesar disso, Braga tornou-se amigo do Ticão (Antônio Carlos Ferreira), que coordenava a Unidos do Jardim do Sol.                                                        O vínculo da Quilombo com o Cinco Conjuntos ficavam estreitos a partir de ações e trabalhos sociais, como a organização das festas juninas. Outra novidade foi em 1988, quando Joaquim Braga deslocou-se ao Rio de Janeiro e descobriu que a Escola de Samba Império Serrano criou a Império do Futuro, uma escola de samba mirim que tirava crianças e adolescentes das situações de risco. “Trouxe a idéia para o Cinco Conjuntos e fizemos a Quilombo Mirim do Futuro, que desfilou quatro anos. Os sambas enredo abordavam assuntos como o menor abandonado e eles, além de cantar, integravam a bateria, porta bandeira e mestra sala”, recorda Braga, que na época namorava a esposa Marisa. Como ela estudava pedagogia, fez o cadastro dos integrantes e acompanhamento escolar. Quem estivesse fora da escola não participava.                                                                          
Enquanto isto a escola adulta foi campeã novamente em 1992 com o enredo “Na contramão da festança, quem dançou, dançou”, numa alusão as danças populares e ao fato do ministro Bernardo Cabral e Zélia Cardoso, ambos do Governo Collor, terem sidos flagrados numa tórrida dança em uma festa. Após a polêmica, que repercutiu nos jornais e outras questões políticas, ambos saíram do governo. “Eles saíram na contramão da festança. Mas foram eles ou o povo que dançou por conta das medidas econômicas da época, como o confisco da poupança?”, assim questionou Braga.                                                              
Joaquim Braga recorda que a Quilombo tinha muitos contatos com a Mangueira do Rio de Janeiro, fato que trouxe a Londrina, em 1989 e 1990 a ex-mulher do sambista Cartola, dona Zica. Mas infelizmente houve o declínio das escolas e o fim do carnaval de rua em Londrina. “A população se afastou. Entende-se carnaval como festa cultural onde as escolas de samba devem estar próximas da comunidade e assim fazer a participação popular”, finaliza o professor.

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