Quero esquecer a
guerra. Buscar os mil homens que me antecederam e revolver com maciez a terra
que há de me consumir. Esquecer o roubo da memória dos povos. Recordar que a
obra de Henrique Aragão integra beleza, tolerância e outros equilíbrios. Que o chão
vermelho onde piso junte os pedaços tortuosos de minha alma. No bosque, a pele
de minhas emoções. À porta do teatro, entrego a história dos meus sonhos.”
Este é um trecho
inicial do meu poema O primordial do
amor, parte do meu novo livro ainda inédito. Henrique Aragão foi
fundamental na concepção desse texto porque eu precisava de um nome que ligasse
as nossas raízes ao mundo. E o artista plástico, escultor, poeta e animador
cultural que escolheu Ibiporã para viver representa bem as nossas melhores realizações
culturais.
Conheci Henrique
através do meu amigo Claudinei Rodrigues, ali pelos anos 90 e tive a
oportunidade de adentrar no seu ateliê, ouvir suas histórias e sondar seu
pensamento estético.
Henrique Aragão
nasceu em 1931 e é de Campina Grande, Paraíba, mesmo Estado do meu pai Noé, que
nasceu um ano antes. Meu pai gostava de Raul Seixas e filosofia. É possível que
ambos tivessem isso em comum. O jovem Aragão recebeu ajuda financeira e com
menos de 30 anos foi para a Europa estudar. Era mesmo um talento a ser
lapidado...
Apaixonando-se pela
arte sacra, na volta ao Brasil ele conquista seus primeiros prêmios. Por mim,
tenho a impressão de que os premiados somos nós e Ibiporã, uma terra abençoada
por ter sido escolhida pelo gênio.
Inovador, moderno e ao
mesmo tempo cultor da tradição, Henrique Aragão nos impressiona com suas obras,
principalmente as esculturas que podemos ver em cidades do Paraná,
especialmente nas igrejas como a Nossa Senhora da Paz (Ibiporã), Sagrados
Corações (Londrina), São Francisco de Assis (Maringá), Nossa Senhora Aparecida
(Abatiá) e a Capela do Seminário São Vicente Palotti (Londrina). Entre os monumentos
públicos destacam-se o Monumento ao Passageiro, no Terminal Rodoviário de
Londrina e O Desbravador, na Praça 7 de Setembro, em Maringá.
Pelo senso estético
inovador e visão social sempre presentes em seu trabalho, não escapou de
polêmicas em obras expostas em locais públicos. Mas onde alguns viam o senso
comum, Henrique Aragão retratava com a alma sensível a mulher comum, o menino
esfomeado e o trabalhador que busca a felicidade.
Por sua intensa vida
e obra única, Henrique Aragão é um nome fundamental na arte sacra do século XX
em nosso país e uma ponte com o mundo e com a modernidade por sua ousadia e
coragem!
Por Aldo Moraes
Nenhum comentário:
Postar um comentário