Ao abordar a localidade Frei Timóteo do passado, não se pode esquecer o presente
e das pessoas que lá vivem como Evanir Neves Moreira, de 79 anos. Nascida em
Tomazina, no Rio Grande do Sul, quando ela tinha 14 anos, seu pai, José Neves,
chegou a Jataizinho para trabalhar como lavrador num carro de boi, indo depois viver
em Frei Timóteo. Na época, Evanir e a família plantavam café, algodão, arroz e
milho. Posteriormente conheceu Afonso Pereira, aonde vieram a se casar. “Em
meados de 1953 Frei Timóteo era um distrito com uma população razoável, sendo
que havia a possibilidade de Jataizinho ter estabelecido seu núcleo populacional
aqui. O distrito era desenvolvido e possuía máquina de arroz, cartório, campo
de futebol, farmácia, muitas casas e comércios variados, como por exemplo, a
venda e o açougue administrado pela família de Afonso Pereira. A estação de
trem, que ainda existe, funcionava com transporte de cargas e passageiros,
fazendo o percurso de Ourinhos a Londrina, sendo este o deslocamento usual na
época para Ibiporã e Jataizinho. Era comum andar de trem e esse transporte era
melhor do que o ônibus, raros na época. Quando instalaram uma linha de ônibus,
ela fazia o percurso de Jataizinho a Uraí”, relata.
Apesar
do tempo, ainda persiste na memória de Evanir Neves a igreja católica, que era
grande e estava onde hoje é um morro coberto de árvores, na parte oposta a
estação de trem. Não apenas a igreja ficava no local, mas parte da antiga
localidade de Frei Timóteo. Nesta da igreja havia muitas festas num período que
a eletricidade não era tão acessível como hoje. A iluminação era abastecida por
geradores e quando acabavam as festas, desligavam-se as máquinas e todos
ficavam no escuro.
Outra
memória de Evanir Neves foi o antigo cartório, que estava na fase final, mas
registrava casamentos, óbitos e nascimentos. Apesar de encerrado, toda a
documentação existe e se encontra guardada no Cartório de Jataizinho,
localizado na Avenida Presidente Getúlio Vargas. Foi neste período áureo, que os
irmãos Amador tinham uma farmácia e seu marido comprou, de um japonês, o
terreno onde a família vive até hoje. “Havia no terreno muitas casas de
madeira, especificamente de peroba. Entre as casas havia a igreja evangélica
Congregação Cristã do Brasil, que funcionava desde quando eu tinha 14 anos. Já
a igreja católica, algo inusitado aconteceu: ela foi retirada do morro e
colocada próxima a estrada. Ambas eram muito freqüentadas”, cita.
Em
meio aos acontecimentos, um fato marcou o distrito: um assassinato movido pela
paixão. Evanir recorda que moravam na localidade dois policiais e uma família,
onde existiam duas irmãs gêmeas de 15 anos, sendo uma delas muda. “Um destes
policiais começou a namorar uma das gêmeas, a que não era muda. No entanto
houve uma discussão em Frei Timóteo e os policiais bateram muito num cidadão. O
pai, que ficou chocado com tamanha agressão, decidiu se mudar. Mas, de
madrugada, o policial pulou a janela do quarto e matou a garota muda, pensando
que fosse a namorada. O assassino desapareceu e nunca mais se teve noticias
dele. Esta é uma história triste, presenciada por todos de Frei Timóteo e que
talvez marque o inicio em que a população começou a abandonar a localidade”,
lamenta.
Sirlene
Moreira, um dos onze filhos de Evanir Neves se recorda do acontecimento. Atual
presidente da localidade, ela atua como agricultora, comerciante do bar local e
também é pescadora. “Na região moram em torno de vinte famílias, sendo que a
maior parte trabalha em Londrina. Quem vive aqui na área rural trabalha mesmo
com agricultura ou criando pequenos animais como porcos e galinhas”, diz
Sirlene, que se orgulha em atuar como pescadora profissional. “Eu e meu
ajudante vamos de carro a Represa da Água Doce em Sertanópolis, onde pescamos
de rede ou de vara com molinete. Quanto aos peixes, eles são vendidos aqui
mesmo na localidade”, diz Sirlene. Apesar dos 50 anos, ainda paira em sua
memória os jogos de futebol, onde havia um time exclusivamente feminino e as
festas da igreja católica, que distribuía muitos prêmios, como as três bonecas
que ela ganhou do saudoso Antonio José Vieira.
Em relação a estação de trem, em Frei Timóteo, ela foi inaugurada em 1932, sendo parte da Estrada de Ferro São Paulo – Paraná. Ela foi comprada pelos ingleses da Cia. de Terras do Norte do Paraná. Isto se comprava através da imagem onde está escrito P & W MacLellan, a empresa que construiu a ponte próxima a Estação de trem de Frei Timóteo. P & W MacLellan era um importante empregador do trabalho em Glasgow, no Reino Unido, com um próspero comércio de exportação. Fundada em 1811, a empresa passou por uma grande expansão em 1871 com a inauguração da Clutha Works na MacLellan Street, em Kinning Park. Clientes de seus produtos, muitos dos quais sobrevivem hoje, como em Jataizinho, foram encontrados em todo o mundo e não se limitaram ao Império Britânico. A empresa finalmente parou de negociar em 1979.
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