A
história de Jataizinho é antiquíssima, remonta à época dos descobrimentos,
quando Portugal e Espanha em 1494 dividiram entre si toda a área conhecida ou
que poderia ser encontrada, através do estabelecimento de uma linha imaginária,
deslocada a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde (África). As terras que
ficassem a oeste da linha imaginária seriam da Espanha e a leste pertenceria a
Portugal. Pela divisão estabelecida no Tratado de Tordesilhas, celebrado entre
os dois Impérios, quase a totalidade da área a qual é conhecida hoje enquanto
território paranaense era de domínio espanhol.
Alguns anos após o descobrimento do Brasil que ocorreu em
1500, os espanhóis, com medo de perderem essas iniciam a ocupação de sua área
no continente americano, mas Portugal não respeita os termos do Tratado e passa
a ultrapassar os limites. Assim, a partir de 1531 os portugueses começam a
organizar expedições rumo ao Peru e Paraguai, através dos rios navegáveis da
Bacia do Rio Paraná. No entanto os nativos atacavam as expedições, matando alguns
portugueses que se aventuravam por essas terras.
A Espanha, por carta régia, em 1608 adota a política de
aldeamento por sugestão dos padres jesuítas Ortega e Filds, que percorreram a
região do Guairá em 1588 e informaram a seus superiores a existência de 200 mil
índios. As investidas dos portugueses na região eram constantes e com a criação
da Província Del Guairá, a ação dos jesuítas abrangeria os territórios
indígenas a leste do rio Paraná.
Vinte anos após a determinação do rei da Espanha pela
estratégia do aldeamento, com o objetivo de dar legitimidade à posse, a
Província Jesuítica de Guairá contava com dezessete núcleos ocupando uma área
geográfica envolvendo os vales dos rios Tibagi, Paranapanema, Iguaçu, Piquiri,
Ivaí e Paraná. Na bacia do Tibagi havia 4 reduções e a atual Jataizinho era uma
delas. Chamava-se Redução de São José, fato que se confirma por mapas do
período da dominação espanhola no Paraná e pelos escritos posteriores de Frei
Timóteo de Castelnuovo, que nessa mesma localidade chegou em 1854 para
organização do trabalho e catequização, em sistema de aldeamento junto aos
nativos que eram originários de diversas tribos indígenas.
Em
1628 os bandeirantes Raposo Tavares e Manoel Preto com bandeira constituída pôr
900 mamelucos (filhos de brancos e índios) e 2000 índios auxiliares, para
agirem contra as reduções, utilizaram-se do caminho pré-colonial chamado de
estrada do Peabiru, ou caminho de Caminho de São Tomé, denominação usada pelos
padres Jesuítas que ia da Capitania de São Vicente até às margens do rio
Paraná, passando os rios Tibagi, Ivaí e Piquirí. Na margem esquerda do Tibagi, os
bandeirantes Raposo Tavares e Manuel Preto construíram um campo entrincheirado,
onde hoje é Jataizinho. Os destacamentos atacantes partiram das margens do
Tibagi, incendiando e destruindo uma a uma as 17 reduções jesuíticas, deixando
rastros de sangue e maldade, alterando profundamente a cultura desses povos que
ainda hoje continuam a ser desrespeitados pelo homem branco, dito civilizado.
Em virtude da ação sanguinária dos bandeirantes, milhares
de índios foram mortos. Os que sobreviveram e não conseguiram escapar mata
adentro, foram levados com os bandeirantes para serem vendidos como escravos.
Os bandeirantes paulistas e portugueses passariam a explorar as riquezas das
áreas tomadas, tirariam proveito das águas navegáveis existentes perto das
reduções. Os padres Jesuítas foram expulsos dessa região que passa, ao longo
dos anos a não ser mais de domínio espanhol, mas de domínio português.
Após a invasão dos bandeirantes e massacre dos nativos
que se opunham à ação, a área ocidental do Paraná permanece praticamente
despovoada por aproximadamente 230 anos (1620 a 1850) em função de não termos
em grandes quantidades ouro, prata ou índios para escravizar e porque novas
regiões como Minas, Mato Grosso e Goiás, começaram a despontar como áreas
rentáveis aos aventureiros e exploradores.
A ocupação dos vazios demográficos era uma preocupação da
Coroa Portuguesa que passa a fracionar o território brasileiro criando novas
unidades administrativas, promovendo a descentralização que iam dando
paulatinamente, a consolidação e defesa do território. As ameaças à integridade
territorial portuguesa ainda persistiam em função dos constantes conflitos
fronteiriços e possíveis ataques de ditadores e caudilhos que surgiam na
Argentina e Uruguai, principalmente onde grandes rios navegáveis tinham seu
curso ligado a aqueles países limítrofes, no caso a Bacia do Paraná.
De Jataí era muito fácil deslizar até o Mato Grosso e a
localidade se mostrava como importante núcleo de defesa dos limites
territoriais do Brasil. A criação da fortificação militar seguia as
recomendações de dois exploradores: John Henry Elliot e Joaquim Francisco
Lopes, que em caso de guerra com países limítrofes, o grande sistema fluvial
navegável da Bacia do Paraná poderia servir para transporte de munição e víveres
às fronteiras dessas nações que tem comunicação direta com Jataí (às margens do
rio Tibagi) pelos rios Paranapanema e Paraná.
Deste modo, o Porto Jataí se destacava mesmo antes de
1850, ao contrário de muitas outras regiões, com prática comercial ligada à
exploração de diamantes no rio Tibagi em virtude da ação dos bandeirantes. Com
a criação da Colônia no Porto do Arroio Jatahy, a mesma passaria a servir como
centro e núcleo de povoação, devendo ampliar o trânsito pela nova via que era
ligar Cuiabá (Província do Mato Grosso) à Curitiba, passando pelos Campos
Gerais. Como posto militar avançado, também poderia prevenir e enfrentar o possível
ataque do Paraguai, país fronteiriço que com a adoção de uma política de
autonomia, cresce economicamente e passa a ser uma ameaça aos países vizinhos e
também a Inglaterra.
Com o eminente perigo, o Imperador D. Pedro II ordena a
criação da Colônia Militar pelo decreto n. 751 de 2 de janeiro de 1851, mesmo
antes da emancipação política da província do Paraná, que ocorre em 1853. A
distância e dificuldade de contato com do Rio de Janeiro, centro político e
administrativo de todo o Império, prorroga a efetiva instalação da Colônia
Militar de Jatahy que ocorre somente em 10 de agosto de 1855. A instalação
ficou a cargo do Senador João da Silva Machado, agraciado com o título de Barão
de Antonina, que desde 1841 já explorava essa área. A criação da Colônia em seu
latifúndio também era de seu interesse devido valorizar suas terras.
Em 1854, antes da instalação da Colônia Militar, é construída
a primeira igreja e duas casas: uma serviria de quartel do comandante e capitão
interino e a outra serviria de quartel dos colonos. As funções religiosas, com
a construção da igreja, passam a ser dirigidas por Frei Mathias de Gênova que
chega juntamente com Frei Timóteo de Castelnuovo. Após a instalação da Colônia,
são enviados os primeiros escravos negros para o trabalho na colônia e no
Aldeamento.
A inauguração do Aldeamento São Pedro de Alcântara, que
ficou sob a responsabilidade do capuchinho Frei Timóteo de Castelnuovo, ocorre em
2 de agosto de 1855 e se localizava na outra margem do rio Tibagi, opondo-se à
localização da Colônia Militar. É realizada uma procissão que transporta, da
capela da Colônia para o Aldeamento, a imagem de Nossa Senhora da Conceição
Imaculada, padroeira da Colônia Militar e São Pedro de Alcântara, padroeiro do
Aldeamento. Sabe-se que a construção da cidade deu-se através da ajuda de 111
índios Kayoá e 12 escravos da nação. Nesta mesma época instalou-se uma escola
de primeiras letras e no seu perímetro urbano construiu-se uma igreja, uma
ferraria, uma estrebaria, olaria, senzala e diversas casas cobertas com telhas.
As tribos que passaram a fazer parte do aldeamento eram
originárias das Comarcas de Castro, Guarapuava e Palmas. Elas viviam de
assaltos aos tropeiros e viajantes que vinham do Rio Grande do Sul, conforme os
relatos de Telêmaco Borba, que aqui viveu entre os militares e nativos. Os
nativos Kayoá que inauguraram o aldeamento, já habitavam a região desde 1852.
Nos dias subseqüentes a inauguração do aldeamento (1855), mais índios Kayoá
chegaram em pequenos grupos vindos da região do rio Paraná e Mato Grosso. Os
Kaingáng, também denominados Coroados, chegaram aqui em fins de 1858.
Por
volta de 1867 a Colônia já contava com 30 casas, uma olaria, fornos para
fabricar tijolos e dois engenhos de moer cana, na produção agrícola era
cultivado milho, feijão, cana- de- açúcar, mandioca, café e algodão. O que era
produzido com excedente era vendido e exportado, como o açúcar e a aguardente. O
café era produzido apenas para o consumo, mas já se fazia presente em nosso
município em 1845, muito antes do norte do Paraná vir a ser conhecido
mundialmente pela alta produtividade e qualidade do grão. Para se ter uma
ideia, em 1876 a população do aldeamento já era de 1487 pessoas, sendo 124
brasileiros e estrangeiros, 902 coroados e 461 Kayoás.
Com o fim da
Guerra do Paraguai, que se estendeu de dezembro de 1864 a março de 1870
e que arrasou
em torno de 90% da população masculina paraguaia, a região, que se tornou sede
da Vice Prefeitura do Sul Brasileiro, deixou de ter importância e, com o fim do
regime monárquico, os aldeamentos foram abandonados à própria sorte. Frei
Timóteo falece em 1895 e a localidade regride populacional e
comercialmente. O esquecimento dessa região, ao norte do Paraná se dá por
aproximadamente 25 anos. A Igreja tenta restabelecer essa comunidade, mas não
consegue porque não tem o apoio do governo republicano, que nega o subsídio à
Colônia e ao Aldeamento, em 1912.
Novos colonos
começam a chegar à região somente em 1920, vindos de São Paulo, Minas e Mato
Grosso, tornando-se um centro de safristas de suínos devido à instalação da
Swift Armour no Norte Paranaense, Inicia-se a 2ª fase da coIonização, período
em que perde, ano após ano, a maior parte de seu território, que era forma do
por uma vasta área que compreendia todo o norte do Paraná, até o rio Paraná. Em
1920, pela lei nº 1.918, é criado o município de São Jerônimo e Jataí que
tivera tanta importância para o império e fora tão extensa territorialmente,
tendo sua área achegando até às margens do Rio Paraná, passando a ser um
de seus distritos.
Neste período,
o Governo do Estado do Paraná, com o intuito de dar novo impulso econômico à
região, passa a vender as glebas de terra a preços baixos por causa do difícil
acesso. As companhias de terras passam a investir nessa região com intenções de
alto lucros futuros uma vez que Antônio Barbosa Ferraz Jr. consegue em 1920, do
presidente do Estado do Paraná, uma concessão para a construção da Estrada de
Ferro Noroeste do Paraná.
Neste
ano é criado o município de São Jerônimo e Jataí torna-se um de seus distritos
pela Lei Estadual nº1918 de 23 de fevereiro. Com isso a vila ganhar impulso com a vinda de novas famílias do novo empreendimento
de colonização do Governo Republicano, aliado ao capital internacional das
companhias colonizadoras. Jatahy teve extrema importância para a efetiva
colonização e progresso do Norte do Paraná, tornou-se o portal de entrada de
muitas famílias que vinham de várias regiões do Brasil e do exterior, em busca
do próprio pedaço de chão para plantar as sementes de um futuro melhor. Os
imigrantes vinham atraídos pelas propagandas da alta qualidade das terras, que
eram vendidas a prazo longo e preços baixos.
Jatahy possuía
uma enorme extensão territorial, e de seu território foram desmembrados várias
áreas que hoje são prósperos municípios: Londrina, Rolândia, Arapongas,
Mandaguari, Maringá, ibiporã, Assaí, Cornélio Procópio, Urai, Sertanópolis,
Jaguapitã e Rancho Alegre. Dessa forma, a travessia sobre o rio Tibagi, em
direção ao "Norte Novo" tinha que ser feita através da Balsa ou de
canoas, não havia ponte ferroviária nem rodoviária. A ferrovia só chegou a
Jatahy em 1932. A ponte ferroviária sobre o rio Tibagi foi inaugurada em 1935 e
transpôs a barreira entre o passado e o presente, viabilizando o extraordinário
progresso de toda a região.
A construção
dos prósperos municípios do “Norte do Paraná” nas décadas de 40 e 50 foi feita
com a argila e areia extraídas de Jataí, que chegou a ser considerada a
“Capital Nacional das Cerâmicas”, exportando manilhas, telhas e tijolos para
todo o Brasil. Porém, a ação das Companhias Colonizadoras eram condições
para a emancipação dos distritos de Jataí, significando a perda de toda a
influência nas terras a oeste do rio Tibagi, em 1934. Em 1938 Jatahy é reduzida
a categoria de Vila, passando a pertencer ao município de São Jerônimo da
Serra, juntamente com os distritos de Assaí e Congoinhas, criados com
território desmembrado de Jatahy. Rancho Alegre se desmembra de Jataí em 1963,
tornando-se município.
Na atualidade,
Jataizinho desponta-se com um diferencial sobre os outros municípios do Norte
do Paraná, com uma bela história e relíquias de seu passado quinquenário, tendo
em suas portas o belo e majestoso rio Tibagi, com extraordinário potencial de
turismo e lazer, fontes de riqueza. A região dos prósperos municípios do
"Norte do Paraná" na década de 40 e 50 foi feita com a argila e a
areia extraídas de Jataí, que chegou a ser considerada a "Capital Nacional
das Cerâmicas", exportando manilhas, telhas, tijolos para todo o Brasil.
(Continua)
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