sábado, 22 de fevereiro de 2020

O grande mestre Capoeira Edmundo Novaes

O professor de Educação Física Edmundo Novaes formou-se pela UEL e tem amplos conhecimentos acerca da capoeira, adquiridos junto ao Mestre Lampião na Academia Flor do Mar. Com um extenso currículo, ele tem pós graduação em Educação Física para Ensino Médio e Fundamental, Educação Especial, Recreação e Lazer sócio cultural e História da Cultura Africana. Nascido na Água do Limoeiro, seus pais são Constantino Novaes e Brasília Novaes, oriundos de Rio das Contas, na Bahia. Aluno da escola rural até os oito anos, após a geada de 1975 sua família mudou-se para a Vila Industrial, tornando o meio urbano um desafio, mas abrindo novas perspectivas.
Aos 15 anos e inspirado em atletas negros como Joaquim Cruz e Zequinha Barbosa ele começou a praticar atletismo, conciliando a atividade com os estudos e o emprego numa empresa de produtos químicos. Nesta época ele via filmes do Bruce Lee e a tradição japonesa, levando-o a questionar sobre a cultura negra e vertentes. Tantas indagações o fez descobrir a capoeira numa apresentação do mestre Lampião no Colégio Maria do Rosário Castaldi. Ele se interessou pela arte e dirigiu-se a academia, localizada na Rua São Paulo com Sergipe. “A identidade negra está na capoeira. Há base cultural, ideológica, raízes e vertentes. Ela motivou-me a procurar o curso de educação física, onde entrei com 19 anos em meados de 1989 na FEFI”, recorda. Transferindo-se para a UEL no ano seguinte, ele introduziu a capoeira na universidade através de um curso de extensão e prática universitária. “Fui o primeiro aluno a ministrar aulas de extensão na UEL”, cita.                                                                                                                      
A capoeira não veio da África. É uma arte criada por negros escravizados no Brasil. As condições da época favoreciam a manifestação que sofreu modificações ao ponto de tornar-se uma luta do negro escravizado contra os opressores. Ela passa a ser respeitada pelo fato de conseguirem, pela luta, a liberdade. “Os negros dominavam os feitores e fugiam para os quilombos. A capoeira é perseguida, marginalizada e demonizada da mesma forma que as religiões de matriz africana”, relata. Proibida até 1936, quem fosse visto praticando capoeira era preso. Porém neste ano o Mestre Bimba, percussor da capoeira regional, se apresentou a Getúlio Vargas, presidente na época, em Salvador. O presidente gostou tanto, que em 1937 a descriminaliza e a arte começa a ser ensinada nas academias. Mesmo descriminalizada o preconceito resiste. Ao consultar o termo em dicionários, encontram-se expressões pejorativas como “arte de malandro” ou “coisa de quem não tem o que fazer”.  Reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade, o título ajuda a preservar a capoeira e sua prática.                                 
Com amplo conhecimento na arte, o professor Edmundo Novaes fez estudos relacionados à capoeira, sendo a base para escrever sua tese de conclusão de curso, com o tema “Capoeira na escola”, onde aborda suas qualidades relacionadas ao desenvolvimento físico, cultural e psicólogo. A capoeira se encaixa na Lei 10.639, que segue o preceito da cultura africana. Por conta da dedicação de Edmundo Novaes, de 1996 a 1999, ele levou ao CAIC da Zona Sul a capoeira e viajou país afora ajudando a disseminar projetos.                                                                                                                        
Com o fim da graduação e os diversos trabalhos, Edmundo se inseriu no movimento negro e atuou como Presidente do Conselho da Comunidade Negra em 2001, onde participavam Idalto de Almeida, Dona Vilma, Tito Vale, Amauri Cardoso e Maria Nilza. Entre as pautas estavam ações de superar o racismo. Foi nesta época, entre 2002 e 2003 que se iniciaram as discussões sobre as cotas nas universidades públicas, algo que não havia em Londrina. “Eu, Tito Vale, Amauri Cardoso e o Doutor Oscar fomos à reitora da época, Lygia Puppato, debater a questão. Porém ela não se convencia que a falta de negros na universidade pública se dá pelo racismo, preconceito e discriminação. A UEL não entendia que para chegar num banco universitário o negro sobre com situações relacionadas a brincadeiras de mal gosto, apelidos preconceituosos e ofensas. Isto desmotiva e faz que muitos desistam antes de alcançar o ensino médio. Outra questão é o trabalho para garantir renda familiar. Muitas vezes, ao negro é destinado o trabalho braçal, deixando-o cansado ao fim do dia. Ao fim, argumentamos que o número de alunos negros não chegavam a 2% e destes, 1,2% eram alunos estrangeiros. Desafiamos os reitores a andarem no campus e a procurar alunos negros. Isto os deixaram chocados. A cota é um mal necessário, pois o Estado não cumpriu suas obrigações com os escravos no mercado de trabalho ou deu oportunidades, como por exemplo, nos Estados Unidos. Com o fim da escravidão, realizou-se uma ação afirmativa, como doar um burro, um arado e um pedaço de terra para trabalho e sobrevivência. No Brasil não fizeram nada e o racismo é uma ferramenta usada para manter o negro em situação inferior, mesmo que as capacidades são iguais. Há mais de 120 anos a escravidão acabou e as políticas afirmativas são necessárias”, pontua.

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