O
professor de Educação Física Edmundo Novaes formou-se pela UEL e tem amplos
conhecimentos acerca da capoeira, adquiridos junto ao Mestre Lampião na
Academia Flor do Mar. Com um extenso currículo, ele tem pós graduação em Educação
Física para Ensino Médio e Fundamental, Educação Especial, Recreação e Lazer
sócio cultural e História da Cultura Africana. Nascido na Água do Limoeiro,
seus pais são Constantino Novaes e Brasília Novaes, oriundos de Rio das Contas,
na Bahia. Aluno da escola rural até os oito anos, após a geada de 1975 sua família
mudou-se para a Vila Industrial, tornando o meio urbano um desafio, mas abrindo
novas perspectivas.
Aos 15
anos e inspirado em atletas negros como Joaquim Cruz e Zequinha Barbosa ele
começou a praticar atletismo, conciliando a atividade com os estudos e o emprego
numa empresa de produtos químicos. Nesta época ele via filmes do Bruce Lee e a
tradição japonesa, levando-o a questionar sobre a cultura negra e vertentes.
Tantas indagações o fez descobrir a capoeira numa apresentação do mestre
Lampião no Colégio Maria do Rosário Castaldi. Ele se interessou pela arte e
dirigiu-se a academia, localizada na Rua São Paulo com Sergipe. “A identidade
negra está na capoeira. Há base cultural, ideológica, raízes e vertentes. Ela motivou-me
a procurar o curso de educação física, onde entrei com 19 anos em meados de 1989
na FEFI”, recorda. Transferindo-se para a UEL no ano seguinte, ele introduziu a
capoeira na universidade através de um curso de extensão e prática
universitária. “Fui o primeiro aluno a ministrar aulas de extensão na UEL”,
cita.
A
capoeira não veio da África. É uma arte criada por negros escravizados no
Brasil. As condições da época favoreciam a manifestação que sofreu modificações
ao ponto de tornar-se uma luta do negro escravizado contra os opressores. Ela passa
a ser respeitada pelo fato de conseguirem, pela luta, a liberdade. “Os negros
dominavam os feitores e fugiam para os quilombos. A capoeira é perseguida, marginalizada
e demonizada da mesma forma que as religiões de matriz africana”, relata.
Proibida até 1936, quem fosse visto praticando capoeira era preso. Porém neste
ano o Mestre Bimba, percussor da capoeira regional, se apresentou a Getúlio
Vargas, presidente na época, em Salvador. O presidente gostou tanto, que em 1937
a descriminaliza e a arte começa a ser ensinada nas academias. Mesmo descriminalizada
o preconceito resiste. Ao consultar o termo em dicionários, encontram-se expressões
pejorativas como “arte de malandro” ou “coisa de quem não tem o que fazer”. Reconhecida
pela UNESCO como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade, o título ajuda
a preservar a capoeira e sua prática.
Com
amplo conhecimento na arte, o professor Edmundo Novaes fez estudos relacionados
à capoeira, sendo a base para escrever sua tese de conclusão de curso, com o
tema “Capoeira na escola”, onde aborda suas qualidades relacionadas ao
desenvolvimento físico, cultural e psicólogo. A capoeira se encaixa na Lei 10.639,
que segue o preceito da cultura africana. Por conta da dedicação de Edmundo
Novaes, de 1996 a 1999, ele levou ao CAIC da Zona Sul a capoeira e viajou país
afora ajudando a disseminar projetos.
Com
o fim da graduação e os diversos trabalhos, Edmundo se inseriu no movimento negro
e atuou como Presidente do Conselho da Comunidade Negra em 2001, onde
participavam Idalto de Almeida, Dona Vilma, Tito Vale, Amauri Cardoso e Maria
Nilza. Entre as pautas estavam ações de superar o racismo. Foi nesta época,
entre 2002 e 2003 que se iniciaram as discussões sobre as cotas nas
universidades públicas, algo que não havia em Londrina. “Eu, Tito Vale, Amauri
Cardoso e o Doutor Oscar fomos à reitora da época, Lygia Puppato, debater a
questão. Porém ela não se convencia que a falta de negros na universidade pública
se dá pelo racismo, preconceito e discriminação. A UEL não entendia que para
chegar num banco universitário o negro sobre com situações relacionadas a
brincadeiras de mal gosto, apelidos preconceituosos e ofensas. Isto desmotiva e
faz que muitos desistam antes de alcançar o ensino médio. Outra questão é o
trabalho para garantir renda familiar. Muitas vezes, ao negro é destinado o trabalho
braçal, deixando-o cansado ao fim do dia. Ao fim, argumentamos que o número de
alunos negros não chegavam a 2% e destes, 1,2% eram alunos estrangeiros. Desafiamos
os reitores a andarem no campus e a procurar alunos negros. Isto os deixaram chocados.
A cota é um mal necessário, pois o Estado não cumpriu suas obrigações com os escravos
no mercado de trabalho ou deu oportunidades, como por exemplo, nos Estados
Unidos. Com o fim da escravidão, realizou-se uma ação afirmativa, como doar um
burro, um arado e um pedaço de terra para trabalho e sobrevivência. No Brasil
não fizeram nada e o racismo é uma ferramenta usada para manter o negro em situação
inferior, mesmo que as capacidades são iguais. Há mais de 120 anos a escravidão
acabou e as políticas afirmativas são necessárias”, pontua.
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