Por
cerca de três séculos, estima-se que mais de cinco milhões de homens, mulheres
e até crianças africanas foram retirados à força de suas famílias, atravessaram
o Oceano Atlântico em navios negreiros e viraram escravos em solo brasileiro.
Oficialmente, a escravidão só terminou quando a Lei Áurea foi publicada em 13
de maio de 1888. A imigração forçada obrigou os africanos a adotarem o Brasil
como nação.
A
proveniência dos escravos percorria toda a costa oeste da África, passando por
Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue. Dividiam-se em três grupos: sudaneses, guinenos-sudaneses muçulmanos e bantus. Os sudaneses dividiam-se em três subgrupos: iorubas, gegês e
fanti-ashantis e seu destino geralmente era a Bahia.
Já
os bantus, grupo mais numeroso,
dividiam-se em dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques e tinha como
destino Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Os guineanos-sudaneses muçulmanos dividiam-se em quatro
subgrupos: fula, mandinga, haussas e tapas. Também tinham a Bahia como destino.
Assim
em constantes atos de resistência e adaptação, o negro preservou e fundiu sua
tradição religiosa, cultural e hábitos sociais com a dos portugueses e dos
indígenas. Isso contribuiu com a língua falada no Brasil, na culinária, música,
dança e religiosidade. De Norte a Sul, o uso da língua mostra que a influência
africana é muito presente e ao mesmo tempo natural.
Para
termos uma idéia sobre o reconhecimento desta contribuição, em 1789, no primeiro dicionário do idioma
português, o autor Antônio Morais e Silva já identificava várias palavras de
origem africana, como batucar, cafuné, malungo e quiabo, então de uso corrente
entre os brasileiros.
Em
1933, um jovem chamado Renato Mendonça, publica “A influência africana no português do
Brasil”, que surpreende por examinar 350 palavras de origem africana no uso do
português brasileiro. A influência africana enriqueceu a fonética, a semântica,
a morfologia e o ritmo das frases, fundamental para uma língua genuinamente
brasileira. Ao longo do século XX, a sociologia fundamentou o alcance do africano
na vida brasileira e o livro “Casa Grande e Senzala” (Gilberto Freyre) é um bom
exemplo disso.
Há
também pratos deliciosos e típicos da culinária nacional que tem sua origem na
África, como o abará, vatapá (ambos de origem iorubá), acarajé (no continente
africano é conhecido como akara,
e especificamente no norte da Nigéria é
chamado de kosai. No Gana,
por sua vez, a iguaria é conhecida como koose),
angu (vem da palavra àgun
do idioma
africano fon da África Ocidental, onde a palavra se referia
a uma papa de inhame sem
tempero) e
caruru, considerado um prato afro-indígena, pois "Caruru" procederia
do termo africano kalalu. Outra
possibilidade é que seja substantivo de etimologia tupi, caá-riru, a
erva de comer.
Termos
tão utilizados na música nacional como agogô (sino em iorubá); atabaque;
batuque (termo africano do
landim batchuque); berimbau (de origem bantu); ganzá ou canzá valorizam
nossa identidade cultural, seja na linguistica como em nossos ritmos.
Outras
palavras e expressões tão comuns no dia a dia como canga, bunda, cachimbo (do
quimbundo kixima), caçula (do quimbundo kazuli, o último da
família), quitanda; samba, xingar, zebra e moleque (do abundo muleque,
menino) são de origem africana e mostram como a influência negra foi decisiva
quando ao se integrar aos vocábulos português e indígena, ajudou a formar a
imensa diversidade e riqueza cultural do Brasil.
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