Um dos meios de transporte usados pelos pioneiros que chegaram ao
Norte do Paraná era o pau de arara. A carroceria dum caminhão, coberto de lonas
e bancos, foi o veículo que trouxe os desbravadores das matas nativas. Um
destes homens bravios e que ainda está vivo é Augusto Lourenço, hoje com 93
anos. Vindo de Lambari, Minas Gerais, trouxe a esposa e três filhos. Tendo
Apucarana como a primeira parada, indo posteriormente para a Jacutinga, em 1938
começou a trabalhar com os irmãos Luis e Angelin Causo, tornando-se empresário
do ramo cerâmico. Com o trabalho criou vinte filhos e, infelizmente, por conta
da idade avançada não se comunica. A primeira esposa se chamava Maria do Carmo
Souza e se fosse viva teria 89 anos. Atualmente, Augusto Lourenço vive com Rute
da Silva, de 67 anos. Morador da Vila Kennedy, em Ibiporã, por muitos anos
atuou na Cerâmica Jacutinga e conheceu diversos pioneiros, como José Luis
Careca, o popular Cachorro Louco; o saudoso José de Oliveira Lima, o Zé Mineiro
e; o ceramista João Dib. O trabalho na Cerâmica Jacutinga lhe rendeu a formação
dos filhos e a compra da Cerâmica São Lourenço em Itu.
Amigo de Mauro Pierro, ex-prefeito de Ibiporã, Augusto Lourenço
puxou barro em carroças tracionadas por burros, além de usar pá e picareta no
trabalho. “O processo artesanal das olarias consistia em colocar o barro para
curtir, posteriormente indo ao picador, onde era amassado por dois animais que
giravam em círculos. Após isso o oleiro fazia tijolos”, recorda o filho Luis
Lourenço, de 60 anos e conhecido por Bicudo. “Os filhos tem orgulho do pai
honrado e idôneo, que nunca deveu para ninguém. Sua maior herança foi a
educação e a honestidade”, diz Luis, que nasceu e se criou numa olaria e hoje
trabalha na Cerâmica Jacutinga, produzindo tijolos artesanais para
churrasqueira.
Augusto
Loureiro representa, cria e personifica a figura do oleiro, o indivíduo que ajudou
o desenvolvimento através da construção civil e forneceu material para
Londrina, Cambé, Ibiporã, Apucarana, Arapongas e outras cidades. “Entregávamos
saibro para base das ruas de pararalelepípedo. Eram meados dos anos 50 e não
havia em Londrina mais de 5 km de asfalto. Não foi uma, mas diversas vezes que
o caminhão, carregado com tijolos, atolava no barro vermelho da Avenida Paraná,
o atual Calçadão. Como não havia máquinas para retirá-lo, dormíamos na cabine”,
recorda.
Em relação aos
caminhões, eles são um capítulo a parte da vida de Augusto Lourenço. Por conta
do trabalho árduo, trocou de caminhão 25 vezes, com dinheiro proveniente dos
lucros na olaria. Além de um Ford 52, possuiu veículos da marca Internacional,
Dodge, DeSoto, Chevrovet e Fords F5, F7 e F8, os mais possantes. Vários deles
foram trocados com o Zé Mineiro, que também era rolista.
Foram os olhos de Augusto Lourenço que testemunharam as mudanças
no processo de fabricação dos tijolos, onde a produção artesanal deu lugar ao
processo industrial e mecânico. Com isso, não há 5% das fábricas que existiam no
auge das cerâmicas. Uma cerâmica que fazia cinco mil tijolos, com a mecanização
produz trezentos mil por dia. Para carregar um caminhão manualmente, era
preciso quatro homens e três horas. Com a mecanização o processo dura quinze
minutos. “Quando morávamos na Jacutinga, entre 1965 a 1968, havia na região
cerca de vinte e duas olarias, como do José Luis Careca, Pancholin, Paulo e
Moacir Contieiro, Neno Paloco, Causa e Chapina, todos em Ibiporã. Com a
decadência, foram poucas que sobreviveram”, finaliza Luis.
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