terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Aos 93 anos, Augusto Lourenço testemunhou o auge e o declínio das cerâmicas


Um dos meios de transporte usados pelos pioneiros que chegaram ao Norte do Paraná era o pau de arara. A carroceria dum caminhão, coberto de lonas e bancos, foi o veículo que trouxe os desbravadores das matas nativas. Um destes homens bravios e que ainda está vivo é Augusto Lourenço, hoje com 93 anos. Vindo de Lambari, Minas Gerais, trouxe a esposa e três filhos. Tendo Apucarana como a primeira parada, indo posteriormente para a Jacutinga, em 1938 começou a trabalhar com os irmãos Luis e Angelin Causo, tornando-se empresário do ramo cerâmico. Com o trabalho criou vinte filhos e, infelizmente, por conta da idade avançada não se comunica. A primeira esposa se chamava Maria do Carmo Souza e se fosse viva teria 89 anos. Atualmente, Augusto Lourenço vive com Rute da Silva, de 67 anos. Morador da Vila Kennedy, em Ibiporã, por muitos anos atuou na Cerâmica Jacutinga e conheceu diversos pioneiros, como José Luis Careca, o popular Cachorro Louco; o saudoso José de Oliveira Lima, o Zé Mineiro e; o ceramista João Dib. O trabalho na Cerâmica Jacutinga lhe rendeu a formação dos filhos e a compra da Cerâmica São Lourenço em Itu. “                                                    
Amigo de Mauro Pierro, ex-prefeito de Ibiporã, Augusto Lourenço puxou barro em carroças tracionadas por burros, além de usar pá e picareta no trabalho. “O processo artesanal das olarias consistia em colocar o barro para curtir, posteriormente indo ao picador, onde era amassado por dois animais que giravam em círculos. Após isso o oleiro fazia tijolos”, recorda o filho Luis Lourenço, de 60 anos e conhecido por Bicudo. “Os filhos tem orgulho do pai honrado e idôneo, que nunca deveu para ninguém. Sua maior herança foi a educação e a honestidade”, diz Luis, que nasceu e se criou numa olaria e hoje trabalha na Cerâmica Jacutinga, produzindo tijolos artesanais para churrasqueira.                                                                                                                            
Augusto Loureiro representa, cria e personifica a figura do oleiro, o indivíduo que ajudou o desenvolvimento através da construção civil e forneceu material para Londrina, Cambé, Ibiporã, Apucarana, Arapongas e outras cidades. “Entregávamos saibro para base das ruas de pararalelepípedo. Eram meados dos anos 50 e não havia em Londrina mais de 5 km de asfalto. Não foi uma, mas diversas vezes que o caminhão, carregado com tijolos, atolava no barro vermelho da Avenida Paraná, o atual Calçadão. Como não havia máquinas para retirá-lo, dormíamos na cabine”, recorda.                                              
Em relação aos caminhões, eles são um capítulo a parte da vida de Augusto Lourenço. Por conta do trabalho árduo, trocou de caminhão 25 vezes, com dinheiro proveniente dos lucros na olaria. Além de um Ford 52, possuiu veículos da marca Internacional, Dodge, DeSoto, Chevrovet e Fords F5, F7 e F8, os mais possantes. Vários deles foram trocados com o Zé Mineiro, que também era rolista.                                      
Foram os olhos de Augusto Lourenço que testemunharam as mudanças no processo de fabricação dos tijolos, onde a produção artesanal deu lugar ao processo industrial e mecânico. Com isso, não há 5% das fábricas que existiam no auge das cerâmicas. Uma cerâmica que fazia cinco mil tijolos, com a mecanização produz trezentos mil por dia. Para carregar um caminhão manualmente, era preciso quatro homens e três horas. Com a mecanização o processo dura quinze minutos. “Quando morávamos na Jacutinga, entre 1965 a 1968, havia na região cerca de vinte e duas olarias, como do José Luis Careca, Pancholin, Paulo e Moacir Contieiro, Neno Paloco, Causa e Chapina, todos em Ibiporã. Com a decadência, foram poucas que sobreviveram”, finaliza Luis.

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