domingo, 23 de fevereiro de 2020

Cultura e Diversidade Social – Por Aldo Moraes


Uma grande discussão de hoje é a inserção cultural das minorias e da diversidade social que faz parte do cotidiano do Brasil. É um esforço que áreas como a educação, sociologia, jornalismo e a cultura tem feito para que o debate e a inserção sejam reconhecidos como legítimos e provoquem na sociedade a necessidade de rever conceitos ultrapassados e excludentes.
Vista como matéria que os pertence, os grupos dominantes sempre são surpreendidos quando a cultura revela sua face libertadora e acolhedora para os mais fracos. Isso aconteceu na Europa quando jovens plebeus dominaram a música erudita e foram reverenciados por reis e sacerdotes como Haydn e Beethoven. Isso se deu no Brasil quando poetas, artistas plásticos e intelectuais se colocaram contra a escravidão e convenceram jovens idealistas de famílias ricas a trocarem jóias pela alforria de negros.
A Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, rompeu com a arte tradicional e acadêmica para revelar o Brasil que já pulsava nas ruas e festas rurais pela espontaneidade de danças e cantos dos sertanejos, negros e indígenas. Uma cultura desconhecida pelos estudiosos de então e que provocou furor quando os artistas a colocaram em primeiro plano.
Mário de Andrade conta em seu trabalho sobre o samba rural paulista, que numa visita a esta festa tradicional de negros nos anos 30, precisou chamar a atenção de um colaborador que questionava porque um intelectual como ele dedicava tempo e estudo aquele povo inculto e pobre. O autor de Macunaíma faz uma reflexão sobre preconceito e falta de talento do assessor para as coisas do povo e conta que o mesmo pouco contribuiu nas pesquisas.
Ao longo do século XX, o direito ao voto, a consolidação da democracia e as leis de compensação passam pela cultura nacional (cinema, TV, música e literatura) como voz do clamor social e instrumento de luta e divulgação.
No campo das minorias e da vitória da vida sobre o preconceito, o cinema e a teledramaturgia têm prestado grandes serviços ao inserir portadores de necessidades especiais, cegos, cadeirantes e downs em filmes, séries e novelas.  É o caso do conhecido Luiz Felipe Badin, ator e pianista que superou o estigma das pessoas com Down e brilhou em novelas como “O Mapa da mina” e “Coração de Estudante”. O bom de tudo isso é mostrar a humanidade a história de pessoas e personagens da ficção, aproximando-as do público e dando possibilidade de maior compreensão e afeto.
Por outro lado, a sociedade atual está dividida por ideologias e tecnologias que acentuam os problemas de identidade e aceitação. Nesse campo, mais uma vez a cultura pode influenciar na tolerância e no conhecimento sobre o outro, fazendo com que esta mesma sociedade possa oferecer mais dignidade e respeito aos demais.



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