Em 25 de agosto de
2015 morreu em Ibiporã o artista plástico Joaquim Henrique de Aragão, aos 84
anos. Nascido em Campina Grande, na Paraíba em 1931, ele manifestou seu talento
artístico ainda na infância, desenhando histórias em quadrinhos com tijolo,
telha e carvão por calçadas e muros.
Aragão
iniciou sua formação artística em Recife, onde participou de 1951 a 1959, do
Salão de Artes Plásticas do Museu de Pernambuco. Em 1960 viajou à Europa, frequentando
ateliês, igrejas e catedrais na Itália e Suíça. Lá participou de cursos livres
de artes enquanto trabalhava para um jornal religioso. Expôs pinturas abstratas
em Thiene, Sicília, Cervínia e Zermatt. Quando retornou a São Paulo pintou
painéis para um banco em 1961 e entre este ano a 1964, iniciou a produção de
arte sacra, com encomendas de obras e ornamentos para capelas e igrejas de São
Paulo, Recife e Rio de Janeiro. A convite do bispo Dom Alberti, decorou a
Igreja de Apucarana e através do apoio de políticos e amigos, a partir de 1965
iniciou a fundação, em Ibiporã, da Casa de Artes e Ofícios Paulo IV, assumindo
a direção em 1969. Na Casa de Artes, há um ateliê, galeria de arte e se iniciou
um movimento cultural com cursos de artes, enquanto ele produzia esculturas
para o Norte do Paraná, distribuídas em espaços públicos, igrejas e acervos
privados. Henrique
Aragão ensinou sua técnica vitral em Ulm na Alemanha; em 2007, participou como
palestrante em encontros de artistas na Lapa e; em 2010, realizou palestras na
Itália. Nesta trajetória, fez diversas exposições individuais e coletivas,
participando como Conselheiro de Cultura, jurado de salões de arte e recebeu a
comenda “Pax e Labor” por seu trabalho artístico. Sua produção de arte tornou-se
relevante no contexto nacional, sendo reconhecido como artista representante da
região norte do Paraná. Instalou, desde a década de 1970, diversas obras em
espaços públicos. Dentre as esculturas representativas, pode-se citar o
“Movimento ao Desbravador”, de 1970 em Maringá; o monumento “O Passageiro”, de
1989 em Londrina e diversas obras instaladas no Museu de Esculturas ao Ar Livre
de Ibiporã, desde 1990.
O
reconhecimento de sua obra pode ser vista no livro “Henrique Aragão –
Esculturas Públicas”, resultado da monografia na Escola de Belas Artes, em
Curitiba, da artista plástica e mestre em Antropologia Social Isabela Catucci.
A obra, o primeiro resgate histórico do seu trabalho, reúne fotos, textos de
autores, poemas e cronologia. Ali se apresentou um panorama da produção de
Aragão, onde ele descreveu o processo orgânico criativo de suas obras. Além do
livro foi publicada a cartilha pedagógica “Um vôo sobre a arte de Henrique de
Aragão”. Direcionada ao público infanto-juvenil, a cartilha escrita por
Benedita de Fátima Ribeiro, Isabelle Catucci e Terezinha Sueli Pelisson, tem
ilustrações e design gráfico de Olavo Tenório e foi distribuída em todas as
escolas paranaenses. Além do livro e da cartilha, também foi montada uma
exposição fotográfica com algumas de suas obras.
“Foram
mais de cinqüenta anos de Ibiporã e oitenta de vida, comemorados em 1º de
agosto e essencialmente ligados à arte”. Foi assim que Henrique Aragão se
definiu em uma entrevista ao Jornal Nossa
Terra. Ao conhecer Ibiporã, erradicou-se e fora acolhido pelo então
prefeito, Ciro Ibirá de Barros, numa época que não havia o pensamento voltado a
arte, mas a indústria do café, o ‘Ouro Verde’. Ciente da deficiência e em busca
de florescer a arte, Ciro de Barros cedeu um espaço a Aragão para dar inicio a
suas oficinas de artes, nas mais diferenciadas modalidades e por onde passaram
muitos ibiporãenses. “Com sessenta dias e repleto de alunos, o prefeito (Ciro
de Barros) fez uma lei que criava a Casa de Artes e Ofícios Paulo VI. Lá havia
participação maciça nas mais diversificadas atividades como teatro, poesia,
literatura, artes plásticas e ballet.
O movimento cultural se avolumou e assim surgia a Fundação Cultural de Ibiporã,
devido o contingente interessado pela arte”, recordou.
Muito do
existente hoje ligado à arte, teve a idéia semeada por Aragão, como as escolas
de ballet, pintura e música que
começaram no seu ateliê. Polivalente, ele foi reconhecido pela pintura,
escultura, gravura e poesia descritiva, isto porque, “muitos não se contentam
apenas com a imagem, mas querem também palavras”. Outra qualidade, que realça o
ser polivalente, é a proximidade com a educação, pois, sempre que pôde, abria
as portas de sua casa às escolas. Algumas visitas propiciavam mais de cento e
vinte alunos em seu ateliê e no teatro ao ar livre, existente na casa repleta
de obras que transparece uma vida dedicada à arte.
Autodidata
e com uma formação clássica inspirada em Michelangelo, em 1961, Aragão começou
a desenvolver técnicas originais em chapas de metal, latão, bronze, ferro e aço
inox, por varias razões: uma obra de aço vive centenas de anos e é imune a
chuva e sol, sendo de fácil conservação. Um exemplo é o Monumento ao Viajante,
em Londrina, que tem mais de 25 anos e nunca foi lavado.
Em
uma das entrevistas cedidas ao Jornal
Nossa Terra, sobre a exposição “Uma releitura do tarô”, Aragão fez uma
releitura do Tarô de Marselha. De acordo com o artista plástico “há diversos
tarôs, como o egípcio e o indiano. Porém, o de Marselha é o mais respeitado e
antigo. Sua origem é desconhecida e algumas afirmações indicam que fora
inspirado na Cabala. Mas, como dito anteriormente, sua verdadeira natureza é
desconhecida. Sua introdução na Europa foi pelos ciganos e isso o tornou algo
suspeito, devido os nômades não serem bem vistos na Europa. Um exemplo recente
foi o ocorrido na França, de onde foram expulsos”, lembra.
Criticado
pela igreja cristã, sempre houve uma reserva sobre o tarô, devido sua
vinculação ao misticismo. Porém, Aragão citou que o objetivo da releitura é
trazer uma experiência lúdica, onde os convidados, cobertos por um capuz, tocam
sete obras. Após isso, a taróloga responderá a perguntas feitas pelo convidado.
“O objetivo é lúdico e não místico. Tem haver com a magia do mundo e do
universo, a morte e o diabo, a autoridade e outras coisas que não sabemos
explicar e que representam arquétipos ligados ao inconsciente coletivo e
principalmente a arte, atualmente distante do povo”, finaliza.
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