terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O legado do Artista Plástico Henrique Aragão para Ibiporã

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Em 25 de agosto de 2015 morreu em Ibiporã o artista plástico Joaquim Henrique de Aragão, aos 84 anos. Nascido em Campina Grande, na Paraíba em 1931, ele manifestou seu talento artístico ainda na infância, desenhando histórias em quadrinhos com tijolo, telha e carvão por calçadas e muros.                                    
Aragão iniciou sua formação artística em Recife, onde participou de 1951 a 1959, do Salão de Artes Plásticas do Museu de Pernambuco. Em 1960 viajou à Europa, frequentando ateliês, igrejas e catedrais na Itália e Suíça. Lá participou de cursos livres de artes enquanto trabalhava para um jornal religioso. Expôs pinturas abstratas em Thiene, Sicília, Cervínia e Zermatt. Quando retornou a São Paulo pintou painéis para um banco em 1961 e entre este ano a 1964, iniciou a produção de arte sacra, com encomendas de obras e ornamentos para capelas e igrejas de São Paulo, Recife e Rio de Janeiro. A convite do bispo Dom Alberti, decorou a Igreja de Apucarana e através do apoio de políticos e amigos, a partir de 1965 iniciou a fundação, em Ibiporã, da Casa de Artes e Ofícios Paulo IV, assumindo a direção em 1969. Na Casa de Artes, há um ateliê, galeria de arte e se iniciou um movimento cultural com cursos de artes, enquanto ele produzia esculturas para o Norte do Paraná, distribuídas em espaços públicos, igrejas e acervos privados.                              Henrique Aragão ensinou sua técnica vitral em Ulm na Alemanha; em 2007, participou como palestrante em encontros de artistas na Lapa e; em 2010, realizou palestras na Itália. Nesta trajetória, fez diversas exposições individuais e coletivas, participando como Conselheiro de Cultura, jurado de salões de arte e recebeu a comenda “Pax e Labor” por seu trabalho artístico. Sua produção de arte tornou-se relevante no contexto nacional, sendo reconhecido como artista representante da região norte do Paraná. Instalou, desde a década de 1970, diversas obras em espaços públicos. Dentre as esculturas representativas, pode-se citar o “Movimento ao Desbravador”, de 1970 em Maringá; o monumento “O Passageiro”, de 1989 em Londrina e diversas obras instaladas no Museu de Esculturas ao Ar Livre de Ibiporã, desde 1990.                                                                                                                                                 
O reconhecimento de sua obra pode ser vista no livro “Henrique Aragão – Esculturas Públicas”, resultado da monografia na Escola de Belas Artes, em Curitiba, da artista plástica e mestre em Antropologia Social Isabela Catucci. A obra, o primeiro resgate histórico do seu trabalho, reúne fotos, textos de autores, poemas e cronologia. Ali se apresentou um panorama da produção de Aragão, onde ele descreveu o processo orgânico criativo de suas obras. Além do livro foi publicada a cartilha pedagógica “Um vôo sobre a arte de Henrique de Aragão”. Direcionada ao público infanto-juvenil, a cartilha escrita por Benedita de Fátima Ribeiro, Isabelle Catucci e Terezinha Sueli Pelisson, tem ilustrações e design gráfico de Olavo Tenório e foi distribuída em todas as escolas paranaenses. Além do livro e da cartilha, também foi montada uma exposição fotográfica com algumas de suas obras.                                                          
“Foram mais de cinqüenta anos de Ibiporã e oitenta de vida, comemorados em 1º de agosto e essencialmente ligados à arte”. Foi assim que Henrique Aragão se definiu em uma entrevista ao Jornal Nossa Terra. Ao conhecer Ibiporã, erradicou-se e fora acolhido pelo então prefeito, Ciro Ibirá de Barros, numa época que não havia o pensamento voltado a arte, mas a indústria do café, o ‘Ouro Verde’. Ciente da deficiência e em busca de florescer a arte, Ciro de Barros cedeu um espaço a Aragão para dar inicio a suas oficinas de artes, nas mais diferenciadas modalidades e por onde passaram muitos ibiporãenses. “Com sessenta dias e repleto de alunos, o prefeito (Ciro de Barros) fez uma lei que criava a Casa de Artes e Ofícios Paulo VI. Lá havia participação maciça nas mais diversificadas atividades como teatro, poesia, literatura, artes plásticas e ballet. O movimento cultural se avolumou e assim surgia a Fundação Cultural de Ibiporã, devido o contingente interessado pela arte”, recordou.                                                                                                                   
Muito do existente hoje ligado à arte, teve a idéia semeada por Aragão, como as escolas de ballet, pintura e música que começaram no seu ateliê. Polivalente, ele foi reconhecido pela pintura, escultura, gravura e poesia descritiva, isto porque, “muitos não se contentam apenas com a imagem, mas querem também palavras”. Outra qualidade, que realça o ser polivalente, é a proximidade com a educação, pois, sempre que pôde, abria as portas de sua casa às escolas. Algumas visitas propiciavam mais de cento e vinte alunos em seu ateliê e no teatro ao ar livre, existente na casa repleta de obras que transparece uma vida dedicada à arte.                                                                        
Autodidata e com uma formação clássica inspirada em Michelangelo, em 1961, Aragão começou a desenvolver técnicas originais em chapas de metal, latão, bronze, ferro e aço inox, por varias razões: uma obra de aço vive centenas de anos e é imune a chuva e sol, sendo de fácil conservação. Um exemplo é o Monumento ao Viajante, em Londrina, que tem mais de 25 anos e nunca foi lavado.                                                                                                                        
Em uma das entrevistas cedidas ao Jornal Nossa Terra, sobre a exposição “Uma releitura do tarô”, Aragão fez uma releitura do Tarô de Marselha. De acordo com o artista plástico “há diversos tarôs, como o egípcio e o indiano. Porém, o de Marselha é o mais respeitado e antigo. Sua origem é desconhecida e algumas afirmações indicam que fora inspirado na Cabala. Mas, como dito anteriormente, sua verdadeira natureza é desconhecida. Sua introdução na Europa foi pelos ciganos e isso o tornou algo suspeito, devido os nômades não serem bem vistos na Europa. Um exemplo recente foi o ocorrido na França, de onde foram expulsos”, lembra.                                                                              
Criticado pela igreja cristã, sempre houve uma reserva sobre o tarô, devido sua vinculação ao misticismo. Porém, Aragão citou que o objetivo da releitura é trazer uma experiência lúdica, onde os convidados, cobertos por um capuz, tocam sete obras. Após isso, a taróloga responderá a perguntas feitas pelo convidado. “O objetivo é lúdico e não místico. Tem haver com a magia do mundo e do universo, a morte e o diabo, a autoridade e outras coisas que não sabemos explicar e que representam arquétipos ligados ao inconsciente coletivo e principalmente a arte, atualmente distante do povo”, finaliza.


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