A infância vivida na marcenaria
do pai e na área rural de Jataizinho traz boas recordações à artista plástica Bia
Moreira. Criada no sistema da psicologia e do trabalho, ela se orgulha de ter
crescido em meio a tintas e pincéis. Ali começou a pintar carroças e caminhões
e aprendeu a ter coordenação motora, desenvolvendo a técnica “biônica”, que vem
de Bia e faz muito sucesso mundo afora. “A técnica biônica traduz e transmite a
linguagem de movimento, baseada em algo ensinado pelo meu pai”, afirma Bia
Moreira.
Esta infância lhe deu algo mais: a sintonia com a janela.
“Perdi minha mãe na infância. Ela estava doente e sabia que iria partir. Colocava-me
na janela e mostrava as estrelas, local onde ia morar. Assim, por toda vida tive
sintonia com janelas, associado ao que meu pai ensinou. Por vezes se indagava
como se pinta o céu, as folhas e os coqueiros. Usava os mesmos movimentos.
Assim, nasceu um método através da observação pela janela. Tamanha experiência
me deu inspiração para escrever o livro “Deus, da minha janela”, declara.
Quanto
às recordações, Bia se lembra de 1969 adiante. “Meu pai, José Brás, morava na mesma
casa na Rua Benjamim Javarina. Ele foi um dos primeiros a ter televisão na
cidade. Até o dia que faleceu, exercia a carpintaria, construindo e reformando
móveis. Este trabalho deixava sua mente ativa.
Mesmo
estudando Magistério e Letras, ela preferiu o ramo da pintura por incentivo de amigos
e professores, recorda a filha dedicada, que após o casamento, para completar a
renda, pintava panos de pratos e dava aulas de violão. “A pintura aconteceu na
minha vida. Quando você se doa a algo, você não se doa, mas recebe. Ensinei com
prazer em Jataizinho. Deus viu meu interesse e abençoou meu trabalho. Nesta
jornada gastei muita sola de sapato afim de divulgar meu trabalho. Viajei a
trabalho e quando lancei a revista já era conhecida”, diz.
A criança dedicada que viveu em Jataizinho, hoje estampa
a capa de centenas de revistas mundo afora. Mas a fama não foi por acaso. Foi
por conta do trabalho e dedicação. “A televisão me ajudou muito. Fui a um
canal, em rede nacional, em 1996, e ensinei o “Bia-bá”. A partir dai lancei a
primeira revista do Brasilque ensina pintura. Ela se espalhou rapidamente e
permaneceu. Tamanho é o sucesso, que ao visitar Portugal, Ilha da Madeira e
Lima, no Peru, tive a oportunidade de saber que estes lugares e vários outros
que trabalham com pintura, conhecem meu trabalho. Tenho orgulho de ter vindo de
Jataizinho e saber que daqui saem muitos talentos”, afirma.
A
partir da revista que ensina pintura, saíram outras publicações nos mais
diferenciados segmentos, como crochê e patchwork, além duma variedade que
atende os mais diferenciados segmentos das artes plásticas. Atualmente as
revistas Bia Moreira circulam nos países de línguas espanhola e portuguesa. A distribuição
é pela Editora Abril e atinge mais de 40 mil pontos de vendas. Seu produto não
é perecível e vende desde a primeira edição. “Passamos das 100 edições da
Revista Bia Moreira. Pedia Deus uma revista e hoje possuo mais de 300 edições
num projeto que alcança mais de 15 títulos. Minha editora começou em 1994, em Jataizinho,
imprimindo mil exemplares. Sinto orgulho de ter lançado um produto inédito que
ensina a pintura”, afirma.
Nesta
jornada, onde conheceu vários países, levará Bia, em breve, às Ilhas Canárias,
Argentina e Uruguai, onde participará de feiras e receberá o público. “São eventos
que ensinam a pintar. Pintar é como escrever. Quando se aprende a escrever, se
escreve de tudo. Assim é a pintura, onde após aprender as técnicas, se escolhe
onde pintar, seja na tela, tecido, papel, madeira e assim por diante.
Apesar
do tempo escasso e sucesso ela não deixa a humildade de lado e sente prazer em costurar.
“Com o lançamento do segmento patchwork e costura, lancei os tecidos Bia
Moreira, disponíveis em mais de 300 estampas. O mercado exige este trabalho. Faço
pintura no papel. Ela vira tecido e estampas, utilizadas nos melhores ateliês.
Um
diferencial de Bia Moreira, mostrando o valor as suas origens, é o fato de ter
ao seu lado, no dia a dia do trabalho, pessoas de Jataizinho. “O pessoal de
Jataizinho valoriza e se dedica ao que faz. Só não permaneci lá, pois dependo
de maior estrutura para divulgar meus produtos”, diz.
Pintando
de tudo, sua preferencia é óleo sobre a tela, mas sua sobrevivência se da pela
pintura em tecidos, por ser o que coloca a comida na mesa. “A mulher pinta o pano
de prato ou a toalha de mesa. Isto vende mais fácil que um quadro. Mas nunca se
esquecendo que a estimulação deve estar presente nos trabalhos. Quando mais se
trabalha, mais se expande o conhecimento, além da criatividade”. Quanto aos
quadros que pinta, eles se inspiram em paisagens e lembranças de Jataizinho,
onde estão presentes imagens do campo, casas, rios e estradas que fizeram parte
da minha vida. Algo voltado ao interior e que resplandece calma e tranquilidade”,
finaliza.



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