domingo, 23 de fevereiro de 2020

A influência africana no português brasileiro (Por Aldo Moraes)


Por cerca de três séculos, estima-se que mais de cinco milhões de homens, mulheres e até crianças africanas foram retirados à força de suas famílias, atravessaram o Oceano Atlântico em navios negreiros e viraram escravos em solo brasileiro. Oficialmente, a escravidão só terminou quando a Lei Áurea foi publicada em 13 de maio de 1888. A imigração forçada obrigou os africanos a adotarem o Brasil como nação.
A proveniência dos escravos percorria toda a costa oeste da África, passando por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue. Dividiam-se em três grupos: sudaneses, guinenos-sudaneses muçulmanos e bantus. Os sudaneses dividiam-se em três subgrupos: iorubas, gegês e fanti-ashantis e seu destino geralmente era a Bahia.
Já os bantus, grupo mais numeroso, dividiam-se em dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques e tinha como destino Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Os guineanos-sudaneses muçulmanos dividiam-se em quatro subgrupos: fula, mandinga, haussas e tapas. Também tinham a Bahia como destino.
Assim em constantes atos de resistência e adaptação, o negro preservou e fundiu sua tradição religiosa, cultural e hábitos sociais com a dos portugueses e dos indígenas. Isso contribuiu com a língua falada no Brasil, na culinária, música, dança e religiosidade. De Norte a Sul, o uso da língua mostra que a influência africana é muito presente e ao mesmo tempo natural.
Para termos uma idéia sobre o reconhecimento desta contribuição, em 1789, no primeiro dicionário do idioma português, o autor Antônio Morais e Silva já identificava várias palavras de origem africana, como batucar, cafuné, malungo e quiabo, então de uso corrente entre os brasileiros.
Em 1933, um jovem chamado Renato Mendonça, publica “A influência africana no português do Brasil”, que surpreende por examinar 350 palavras de origem africana no uso do português brasileiro. A influência africana enriqueceu a fonética, a semântica, a morfologia e o ritmo das frases, fundamental para uma língua genuinamente brasileira. Ao longo do século XX, a sociologia fundamentou o alcance do africano na vida brasileira e o livro “Casa Grande e Senzala” (Gilberto Freyre) é um bom exemplo disso.
Há também pratos deliciosos e típicos da culinária nacional que tem sua origem na África, como o abará, vatapá (ambos de origem iorubá), acarajé (no continente africano é conhecido como akara, e especificamente no norte da Nigéria é chamado de kosai. No Gana, por sua vez, a iguaria é conhecida como koose), angu (vem da palavra àgun do idioma africano fon da África Ocidental, onde a palavra se referia a uma papa de inhame sem tempero) e caruru, considerado um prato afro-indígena, pois "Caruru" procederia do termo africano kalalu. Outra possibilidade é que seja substantivo de etimologia tupi, caá-riru, a erva de comer.
Termos tão utilizados na música nacional como agogô (sino em iorubá); atabaque; batuque (termo africano do landim batchuque); berimbau (de origem bantu); ganzá ou canzá valorizam nossa identidade cultural, seja na linguistica como em nossos ritmos.
Outras palavras e expressões tão comuns no dia a dia como canga, bunda, cachimbo (do quimbundo kixima), caçula (do quimbundo kazuli, o último da família), quitanda; samba, xingar, zebra e moleque (do abundo muleque, menino) são de origem africana e mostram como a influência negra foi decisiva quando ao se integrar aos vocábulos português e indígena, ajudou a formar a imensa diversidade e riqueza cultural do Brasil.




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