sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

A mulher brasileira (Por Aldo Moraes)


Há um ano escrevi sobre mulheres criativas na história da cultura brasileira e região. Mulheres que fazem diferença, agregam valor simbólico e sensibilidade na música, cinema, dramaturgia, literatura e jornalismo.
Mas ao longo do tempo e principalmente no mundo contemporâneo, a mulher é mais que um tema. Ela transcende metáforas e protagonista mesmo quando tabus da sociedade a impediam de votar, trabalhar fora e ter decisão sobre sua vida e o próprio corpo. Quando tudo isto era difícil, elas alimentavam a alma com mistério, sensibilidade, intuição e nos ensinavam em silêncio.
Por isto, hoje nosso artigo destaca as mulheres protagonistas da ficção em várias áreas da cultura e da arte. Protagonismo que em alguns casos, surge pela força de personalidades, magnetismo criados para estarem em segundo plano e que se levantam das páginas dos livros, das telas do cinema e da TV ganhando vida nas ruas e casas.
Ana Terra, Tieta do Agreste, Isaura, Capitu e Gabriela romperam barreiras sociais com histórias densas passadas em lugares e épocas diversas, influenciando gerações de brasileiros que lutaram por avanços em nossa sociedade nas questões como mercado de trabalho, divórcio, racismo e a presença feminina na política.
O romance “O tempo e o vento” de Érico Veríssimo tem em Ana Terra uma jovem que passa por grande sofrimento, privação da escolha e liberdade num mundo dominado por homens. Ela desenvolve força interior para criar o filho e renascer após o período de guerra que tem muita a ver com Tieta de Jorge Amado e a escrava Isaura de Bernardo Guimarães.
Na obra de Clarice Lispector, o feminino e códigos subjetivos são protagonistas absolutos. Alegrias e angústias na alma da mulher são mais importantes que os fatos da vida cotidiana ou grandes soluções para conflitos coletivos. Capitu resiste ao tempo como personagem que provoca temor, ódio e paixão na vida do Dom Casmurro, de Machado de Assis.
A canção nacional tem um capítulo especial sobre temas musicais onde a mulher se sobressai: a valsa atonal que lança poesia e beleza sobre Luiza (Tom Jobim); a mulher que surge nos movimentados anos 70 com liberdade e política na Tigresa (Caetano Veloso); a Maria, Maria das ruas, das lutas, dos dramas e da fé na música de Milton e Fernando Brant. A atmosfera que traz a dança e a resistência no maracatu e frevo de Dora (Caymmi) e o homem que se transmuta em flor para se reconhecer na mulher e cantar que o verão é o apogeu da primavera, em Super Homem (Gil).
A teledramaturgia esteve à frente das normas sociais em vários momentos e em todos, a mulher foi protagonista das mudanças: Porcina, a viúva inquieta e poderosa de Roque Santeiro; a força da mulher nordestina que vence na vida e se torna líder de um povo como a Maria do Carmo em Senhora do Destino e as Helenas loiras, morenas e negras nas novelas de Manoel Carlos, com seus dramas e desafios profissionais e familiares. Nos anos 70, a ousadia de Janete Clair deu vida a Simone (Selva de Pedra) e Gilberto Braga incendiou as noites brasileiras com Júlia Matos, em Dancin Days.
Há muito a avançar, mas as heroínas, vilãs e mulheres comuns da ficção ajudaram a moldar um país mais moderno e influenciaram a sociedade a ampliar o espaço da mulher brasileira!




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