quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Agenor Evangelista


Agenor Evangelista

Considerado um artista popular devido à inserção em diversos movimentos, Agenor Evangelista nasceu num cortiço na Vila Portuguesa e viu na arte o caminho da inserção social. Com o trabalho reconhecido internacionalmente, ele cita que em 1977, o já falecido artista plástico de Ibiporã, Henrique Aragão, lhe incentivou e ensinou-lhe algumas técnicas.
Criador da “Mostra de Artes Zumbi dos Palmares”, que ocorre na “Semana da Consciência Negra”, ele relata que a exposição surgiu em meados de 1986, quando foi convidado por Idalto José de Almeida, integrante do Grupo de Consciência Negra. Atualmente a “Mostra Zumbi dos Palmares” está na 30ª edição e é a única local com enfoque no movimento negro, além de abrir espaço a novos artistas e para artistas conceituados do Brasil e de países como Japão, Cuba, Portugal, Finlândia, Alemanha e demais localidades.
Nas artes plásticas há cerca de 40 anos, ele recorda que entre 2003 a 2015, desenvolveu quadros pequenos e populares, do tamanho de uma carta, o qual já produziu cerca de dez mil. Já os trabalhos maiores, de 50 cm x 70 cm, foram em torno de três mil, onde retrata cenas suburbanas como a mulher que lava roupa, os trabalhadores conversando no bar ou crianças brincando com pipa e bola de gude. “São imagens que visualizo no cotidiano, onde uso cores primárias na composição dos quadros”, diz Agenor Evangelista, que em 2001 e 2007 teve vários trabalhos publicados nos cartões telefônicos da Sercomtel, onde destacou o negro, a Escola de Samba Zumbi dos Palmares e a região do Cinco Conjuntos.
Com trabalhos comercializados na Franca, Japão, Suíça, Estados Unidos, Argélia, Uruguai e em Portugal, no Museu de Guimarães, cidade co-irmã de Londrina, ele cita que há no acervo da Folha de Londrina um trabalho de 1987, quando ao expor no Londrina Country Club, João Milanez e Valmor Macarini, que administravam a empresa na época, encomendaram um painel sobre a história da imprensa e do jornal. 
Influenciado pelo impressionismo francês, por Di Cavalcanti e Cândido Portinari, que pintavam as mulatas e a boêmia, Agenor Evangelista pode ser considerado um memorialista paranaense por mostrar a periferia e as pessoas que vivem aqui. “É fundamental a preservação da memória. O artista é uma ferramenta de transformação que forma e informa a sociedade, além de interagir com outras artes, como a dança e a literatura”.      
O artista Agenor Evangelista também explora a arte como uma ferramenta social, quando no inicio dos anos 80 começou a militar no movimento negro e aderiu ao Grucon (Grupo de União e Consciência Negra). “Pesquisávamos a história e pensamento de ativistas como Martin Luther King, Malcom X e Ângela Davis e outros. Tínhamos informações sobre grupos, como a organização revolucionária norte americana dos Panteras Negras. Os militantes liam, discutiam e articulavam ações para chamar a atenção da sociedade acerca da desigualdade racial. As reuniões eram em locais como o Zumbi Bar, que concentrava a efervescência de vários movimentos sociais na época. Havia o pensamento comum de que não adiantava a luta ficar somente entre os negros da periferia. A meta era ter mais ações e voz ativa, representantes negros na política e cultura. Mas não apenas os negros de pele, mas também pessoas engajadas”, cita. 
     É impossível citar Agenor Evangelista sem abordar a Mostra Zumbi dos Palmares, uma dos mais tradicionais de Londrina. Ela teve a semente plantada em 1985, quando o artista fundou o Instituto do Movimento de Estudos da Cultura Afro Brasileira (IMECAB). “Na época, resolvi criar uma mostra afro, mas que agregasse participação de todas as etnias, religiões, partidos políticos, classes sociais e artísticas. A mostra nunca teve discriminação e sempre foi aberta, valorizando o talento, acima de tudo”, cita.    
A primeira edição da Mostra Zumbi dos Palmares foi em 1986. Até a 7ª edição a temática era afro brasileira, passando a ser livre, mostrando o universo do negro muito rico e amplo, além de questionar os direitos dos negros, a igualdade racial, liberdade política e cultural. Bhall Marcos e José Maria Frutuoso também são importantes artistas plásticos negros de Londrina.

Nenhum comentário: