terça-feira, 25 de junho de 2019

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Telêmaco Borba no Norte do Paraná

A Colônia Militar e Aldeamento Indígena de Jatay (atual Jataizinho) tiveram um personagem ilustre do Paraná, que poucos sabem que viveu um período na região, sendo que no cartório foi registrado o nascimento de uma de suas filhas. Seu nome era Telêmaco Borba ouT Augusto Éneas Morocines Borba. Nascido em 15 de setembro de 1840, em Curitiba, era filho de Vicente Antonio Rodrigues Borba (capitão veterano de guerra) e Joana Hilária Morocines (uruguaia, descendente dos doges de Veneza). Sua obra está intimamente ligada a trajetória de sua vida pessoal. Passou a infância e boa parte da adolescência nas cercanias de Curitiba, em Borda do Campo (hoje Piraquara), sempre acompanhando de perto a atuação de seu pai como militar e vivenciando vários processos políticos, como a emancipação política do Paraná. Não localizamos nenhum material que nos permitisse falar de sua infância. As poucas referências sobre esse período de sua vida estão no livro escrito por VARGAS (1970) que é seu tataraneto e que escreveu uma biografia romanceada sobre a vida de seu tataravô. Telêmaco Borba casou-se com Rita Maria do Amaral, filha do amigo comerciante em 1860, quando tinha 20 anos e com ela teve nove filhos. Em 1861 mudou-se com sua família para a Colônia Militar do Jataí, por estar cansado da vida sedentária do comércio.
A Colônia Militar do Jataí, fundada em 1851, por influência do Barão de Antonina e era um importante núcleo de defesa dos limites territoriais do país. Foi criada, por recomendação de dois exploradores: John Elliot e Joaquim Francisco Lopes. Sua posição geográfica era fundamental aos meios de proteção dos interesses nacionais, pois estava situada no fim da estrada carroçável que ligava o porto de Antonina a uma rede de rios navegáveis. Na hipótese de uma guerra, poderia servir para o transporte de munições e de guarnições para as fronteiras com as nações vizinhas. Também informam as fontes, que o governo decidiu dar a Colônia a atenção merecida. Para “catequizar” os índios que povoam a região ao longo dos rios, o governo decidiu criar um aldeamento na outra margem do rio Tibagi, em frente à colônia militar, chamando Aldeamento de São Pedro de Alcântara. Para dirigir o aldeamento convoca Frei Timóteo de Castelnuovo - “que tinha como dever incutir conhecimentos gerais, de arte e de religião aos índios Kaingang cuja etnia dominava a área”.
Para o Presidente da Província do Paraná, Joaquim do Carmo, não bastava à implantação de uma Colônia Militar no Jataí e a ação missionária dos capuchinhos, que cumpriam a sua parte, na ocupação e posse da região. Era necessário o trabalho paralelo de aproveitamento do braço indígena, pois os Kaingang atacavam e trucidavam as expedições, dificultando o desbravamento e a posse do território. O que estava faltando era o trabalho dos sertanistas para derrubar a mata e atrair os índios. Então decide convidar os irmãos Borba (Jocelim, Telêmaco e Nestor) para atuarem como sertanistas. Jocelim segue para o Aldeamento de Paranapanema, Nestor para Guarapuava e Telêmaco para o Tibagi.

Registro de Nascimento da filha de Telêmaco Borba, que se encontra no Cartório de Jataizinho

N. 4. – Aos vinte nove dias do mez de Fevereiro do anno de mil oitocentos setenta e seis, neste lugar, districto de Sub-delegacia de Policia da parochia de Nossa Senhora da Conceição do Jatahy, Municipio de tibagy, provincia do Paraná, compareceu no meu cartório Telemaco Morocines Borba e em presença das testemunhas abaixo nomeadas e assignadas, apresentou-me uma criança do sexo feminino e declarou: - Que no dia dous do mez de Fevereiro do anno de mil oitocentos setenta e seis, na casa de sua residência, nesta Colonia Militar, pelas duas horas da manhã, nascia a referida criança, filha de mulher livre, a qual é sua filha legítima, (ilegível) pela declarante, natural da Provincia de (ilegível) (ilegível), na Parochia de de São Sebastião de Porto Meira, da referida provincia com Rita Maria do Amaral Borba, natural da provincia acima declarada, brasileira, costureira, sendo ambos residentes nesta Colonia Militar do Jatahy; são avós da recem-nascida o capitão reformado do exercito Vicente Antonio Rodrigues Borba, já fallecido e Dona Hilaria digo Joanna Hilaria Morocines, tambem fallecida, pela parte paterna e Lupercio José do Amaral e Maria Marques dos Santos, ambos fallecidos, pela parte materna.
De que para constar lavrei este termo queleio perante o declarante e as testemunhas Antonio Joaquim Moreira Coelho, negociante e Antonio Diniz Gonçalves, feitor, todos moradores nesta Colonia Militar do Jatahy. Eu, Antonio
Crispim de Oliveira Fernandes, escrivão juramentado da Subdelegacia de policia, o escrevi.

Antonio Crispim de Oliveira Fernandes
Telemaco Morocines Borba
Antonio Joaquin Moreira Coelho
Antonio Deniz Gonçalves




Um dos maiores orgulhos de Osmilto Lopes, o popular Português, é ter nascido e se criado na mesma casa na Rua Benjamin Giavarina, onde vive há mais de 63 anos. Seus pais, Joaquim Lopes e Madalena Lopes, desembarcaram de Portugal em Santos no ano de 1910. Posteriormente foram para Barretos, na fazenda da Família Junqueira e de lá para a Colônia Preta a fim de administrar a Fazenda Moça Bonita, de propriedade do Sinofuti Villanoiva, antigo deputado e dono de um hospital em Rolândia. Após anos como meeiro, seu pai veio para Jataizinho, onde em 1953 ele nasceu e logo aos sete anos começou a trabalhar como vendedor. Entre os produtos constam tachos e canecas feitos de lata de óleo, doces, lingüiça, sardinha cavala e frutas, vendidos na antiga rodoviária da Praça Frei Timóteo e nas propriedades rurais da Água Branca e Água do Pari, aonde ia de carroça e tinha como sócios os amigos Mijotela, Chamilete, Paca e Zé Inácio. “Quando o trem ou o ônibus parava, embarcávamos e vendíamos pão com sardinha, refrigerantes, frutas, cocadas, sorvete e demais alimentos. Havia a empresa de ônibus do Lázaro Rivereto, meu padrinho de batismo. Ali vendíamos passagens porque não havia cobrador. Já nos sítios, quando o agricultor não possuía dinheiro trocávamos a mercadoria por leitoa, cabrito e galinha, chegando a voltar com duas carroças cheias por dia”, recorda Osmilto Lopes.                         
Com aptidão para as vendas, junto com seu pai ele encarou um novo ramo: a venda de frangos, no qual se autodenominava “frangueiro”. “Não havia o frango de granja, apenas o caipira. Com a expansão dos negócios começamos a vender cabrito e leitoa e após o aumento dos lucros compramos duas caminhonetes ‘Pé de Bode’ para buscar galinha caipira em propriedades mais distantes. O produto era comercializado em São Paulo, onde caminhões buscavam a carga. Eu tinha uns dez anos e o comprador, de apelido Sabugo, vinha de Cornélio Procópio com um Mercedes Bicudo 1957. Já estocamos mais de 500 galinhas”, afirma. Nesta mesma época, seus pais o deixavam sair à noite para assistir televisão. “Até uma determinada altura não havia energia elétrica nas residências e poucos tinham TV, como Osvaldo Zanini e o Zé Brás, que até hoje mantêm a marcenaria em casa. Era umas 40 crianças e a programação consistia nos filmes do Rim Tim Tim ou Bonanza. As famílias nos convidavam e ficávamos no chão ou olhando pela fresta da janela”, afirma.                            



Desta trajetória, ele também guarda lembranças da infância, como a Escola Joana e as professoras Florípedes e Aparecida Marques. E, quando se formou aos 18 anos, conheceu o amor de sua vida e no qual estão juntos até hoje. Trata-se da esposa Lucélia Lopes, que tinha 15 anos. “Fui a uma Festa de 15 anos e como era boêmio e apaixonado, cantei a música ‘Eu não ou cachorro não’. Tanto a Lucélia, quanto sua mãe Conceição gostaram de mim. A partir daquele momento começamos a viver uma história de amor que resultou em casamento e numa família. Casei-me aos 24 anos e dali para frente virei membro de uma família que me acolheu bem, onde tenho as filhas Daiane, formada em Direito e a Josiane, que é professora, casada com Fabiano e pais de Osmilto Lopes Neto Marques”, relata. Na época, seu sogro Zé Mineiro era um tradicional ceramista, fazendo Osmilto Lopes abandonar o ramo de mecânica dos tratores de esteiras em Londrina para trabalhar na cerâmica, onde está há mais de 40 anos. “O trabalho na cerâmica não é fácil. De empregado tornei-me patrão e isto trouxe responsabilidades. Mas graças ao trabalho adquiri meus bens e tenho sucesso como empresário”, afirma Osmilto Lopes, que via no sogro Zé Mineiro as virtudes do trabalho e da honestidade.                                                                          
Com mais de 63 anos, Português tem saudades da mãe, que foi muito “trabalhadeira”, pois além de cuidar do lar, lavava roupa para fora, criou sete filhos, do pai Joaquim Lopes (falecido com 89 anos) e do filho João Lopes, que nunca andou e viveu numa cadeira de rodas até os 64 anos. Os outros filhos são Manoel Lopes, que teve dez filhos e faleceu com 63 anos; Maria Lopes, que mora em Santa Catarina e; Joaquina Lopes, que mora no Paraguai, tem algumas propriedades rurais, além do seu filho ser o único prefeito brasileiro de uma cidade paraguaia, Santa Fé del Paraná. Com as recordações da casa de peroba da Rua Benjamin Giavarina viva até hoje, ele cita que muitos ainda vivem no local, como as famílias do Manoel Salomão, Goulart, Benedito e Elvira Atanásio, pais do Valentin, Ênio, Nivaldo, sendo que o local onde era a casa da família foram construídos dois edifícios. “A amizade com os vizinhos é grande e se consolidou pelas brincadeiras de jogar bola, correr na rua, caçar passarinho e bola queimada. Pegávamos lenha na mata para as nossas mães e ao lado de casa existia o Matadouro Municipal, localizado no sítio do Nicola Passardi e atual loteamento Maria Júlia”, recorda.                                                                                            

Tendo uma carreira política, que consta o mandato de vereador, ele hoje participa da Rádio Comunitária Nova Geração, do antigo jornal Folha de Jataizinho e do Clube de Carros Antigos. “Procuro ajudar o próximo, as entidades assistenciais e as pessoas carentes”, pontua Osmilto Lopes, que aos fins de semana se reúne com familiares na sua chácara, onde também funciona a Cerâmica Jacutinga.


Conto: Os símbolos cívicos do Paraná na escola: o hino, a bandeira e o brasão (Autor Marcelo Souto)



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Maria Isabela e Juan são de Londrina, um município Norte Paranaense conhecido no passado como a “Capital Mundial do Café” e fundado em 10 de dezembro de 1934. O Norte e Noroeste Paranaense são conhecidos pela “terra roxa” e “vermelha”. Isto ocorre devido à formação rochosa do solo por basalto e nutrientes como o ferro, responsável pela coloração avermelhada. O nome “terra roxa” é uma influencia dos imigrantes italianos e sua língua, que na época diziam que a terra era “rossa”. Em italiano esta palavra significa “vermelha”. Eles, junto com negros, alemães, japoneses, portugueses, espanhóis, além de gaúchos, nordestinos, paulistas e mineiros são povos que colonizaram estas regiões do Estado. Tamanha é a importância deles, que isto influi diretamente na fala dos moradores locais. O nativo, conhecido folcloricamente por caipira, tem características únicas em sua identidade cultural representadas na fala, como o “r” retroflexo, onde há ênfase ao dizer “r” em palavras como “porta” ou “carta”; a troca do “lh” por “i”, como as palavras “palha”, que se fala “paia” ou trabalho, onde se usa a expressão “trabaio” e; ausência de “s” e “r” em alguns verbos. O caipira escreve “vamos nadar”, mas diz “vamo nada”.
Estes são alguns aspectos da língua portuguesa no Norte e Noroeste Paranaense e em Londrina, onde Maria Isabela e Juan todos os dias vão a escola. A rotina deles consiste, após o sinal e antes de entrar na sala de aula, hastear as bandeiras do Brasil, do Paraná e de Londrina, além de cantarem o Hino do Paraná. Juan, em atitude de respeito, fica de pé, em silêncio e tira o boné. Maria Isabela coloca a mão direita em cima do coração e demonstra respeito aos símbolos pátrios. Com o pulmão cheio de ar ela canta o hino bem alto, também manifestando amor ao que faz. Justamente por serem exemplares, ambos com freqüência levantam as bandeiras e cantam o Hino do Paraná com os demais alunos:
Entre os astros do Cruzeiro És o mais belo a fulgir!
Paraná! Serás luzeiro! Avante! Para o porvir!               (Refrão)
O teu fulgor de mocidade. Terra, tens brilho de alvorada
Rumores de felicidade, Canções e flores pela estrada (2x)
Refrão
Outrora apenas panorama, de campos ermos e florestas
Vibra agora a tua fama, pelos clarins das grandes festas (2x)
Refrão
A glória... A glória... Santuário! Que o povo aspire e que idolatre-a
E brilharás com brilho vário, Estrela rútila da Pátria (2x)
Refrão
Pela vitória do mais forte, Lutar! Lutar! Chegada é a hora
Para o Zênite! Eis o teu norte!
Terra! Já vem rompendo a aurora! (2x)
Refrão

Hastear a bandeira e cantar o Hino do Paraná enche Maria Isabela de orgulho e torna o seu dia especial. Como é estudiosa, ela perguntou a professora Dayane o que significa os desenhos na bandeira do Paraná. “A bandeira é um dos símbolos oficiais do Estado, ao lado do brasão e do hino. Aprovada em 31 de março de 1947, é composta de um retângulo verde, simbolizando as florestas exuberantes que cobriam o território no fim do século XIX. O retângulo é cortado por uma faixa branca e representa o espírito pacífico do paranaense. No centro há um círculo em azul que equivale à cor do céu e às cinco estrelas do Cruzeiro do Sul: Alfa (Estrela de Magalhães), Beta (Mimosa), Delta (Pálida), Gama (Rubídea) e Epsilon (Intromedita). A posição corresponde ao céu de Curitiba em 29 de agosto de 1853, quando assinada a Lei Imperial que desmembrou o Paraná de São Paulo. No Cruzeiro do Sul existe uma faixa branca escrito "Paraná" e circunda a esfera um ramo de pinheiro e erva-mate, os principais produtos econômicos do Estado no passado”, falou a professora.
Satisfeito com a resposta cedida a Maria Isabela, Juan ficou curioso quanto a um detalhe citado: o Brasão.
- Professora, qual a mensagem transmitida pelo Brasão do Paraná? – questionou.
“O Brasão de Armas do Estado do Paraná foi desenhado originalmente por Alfredo Emílio Andersen em 1910 e até os dias atuais mantém a imagem do ceifador. Forma o Brasão um escudo português apresentando um campo vermelho que representa a terra fértil e “roxa” setentrionais do Paraná, onde o lavrador cultiva o solo. Acima dele há o sol nascente, que representa a liberdade e três picos simbolizando grandeza, sabedoria, e a nobreza do povo, além de referenciar os três Planaltos do Paraná: Oriental de Curitiba, Central dos Campos Gerais e Ocidental de Guarapuava. Ainda temos os ramos de Araucária e Erva Mate. No brasão também existe a figura da Harpia, um pássaro que encontrou condições para se reproduzir no Paraná, mas que hoje está em vias de extinção”, finalizou a professora.

A veracidade da vida e morte de Frei Timóteo pode ser comprovada perante documentos como registro e certidões lavradas em cartório, como por exemplo, o registro de óbito do próprio Frei Timóteo. O texto, manuscrito do original, que se encontra em Cartório de Jataizinho, é possível observar a grafia e a etimologia do português referente ao fim do século 19. É importante ressaltar, que a transcrição do registro se encontra na linguagem original.
Francisco Alves da Silva
Nº 33

Aos vinte e um dias do mez de Maio de mil oito centos e noventa e cinco, nesta Freguesia do Jatahy. Districto de Juízes Districtal do Jatahy. Municipio de Tibagy. Estado do Paraná, compareceu em meu cartório Ezequiel Jose Pires Martins Ferreira, casado com quarenta e sete annos de idade residente em São Pedro de Alcantara e, declarou que no dia desoito do mesmo – mes e anno pelas cinco horas da tarde falleceu em São Pedro de Alcantara, Frei Thimoteo de Castello Novo, com setenta annos, mais ou menos de idade: deixa de dar nomes de pai e mãe; por falta de conhecimento. A morte foi de Bronchite cronica, e foi sepultado e reverenciado Frei no capelão desta Freguesia. E por mim lavrei este termo e com que commigo assigna o declarante. Eu, Manoel José de Ramos, escrivão interino escrevi.

Escrivão interino do Juiz Districtal
Manoel José de Ramos


Ezequiel J ͤ. P. Martins


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Certidão de um casamento feito por Frei Timóteo, em 1890 (A grafia arcaica é da época).

               Aos des dias do mes de Fevereiro de anno de mil oitocentos e noventa, nesta Freguesia de Jatahy, Districto de Paz da Parochia do Jatahy. Municipio do Tibagy, Estado do Paraná, compareceram em meu cartório Carlos Salustiano Dias e Maria Joana de Farias brasileira esta com quatorze annos de idade casada com Carlos Salustiano Dias, filha legitima de Justino Thomas de Farias, e de sua mulher Anna Gertrudes de Morais, residentes no Aldeamento de São Jeronymo; e aquelle com vinte tres annos de idade casado com Maria Joana de Farias, lavrador, filho legitimo de Antonio de Paula Dias e de sua mulher Joaquina, e perante as tres testemunhas, Antonio Diniz Gonsalves, Francisco Mendes de Morais abaixo assignado, exibindo declaração passado em dez do corrente mês e anno, por Frei Thimoteo de Castelo Novo, declaram que em mesma data de des do corrente mez e anno pelas oito da manha na Capella de São Pedro de Alcantara no Aldeamento do mesmo nome haviam elles declarante se recebido em Santo Matrimonio perante as testemunhas presente, segundo costumes do Estado. 
E para constar lavrei este termo que commigo assignão os declarantes e as testemunhas. Eu João Ferreira de Miranda Mathilde, Escrivão de Paz o escrevi.
O Escrivão de Paz

João Ferreira de Miranda Mathilde
Carlos Salustiano Dias
Maria Joana de Farias


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segunda-feira, 17 de junho de 2019

A arte como expressão dos movimentos sociais e populares.

Considerado um artista popular devido à inserção em diversos movimentos, Agenor Evangelista nasceu em um cortiço na Vila Portuguesa de Londrina e viu na arte o caminho da inserção social. Com o trabalho reconhecido internacionalmente, ele cita que em 1977, Henrique Aragão, que faleceu em agosto deste ano, lhe incentivou, além de ensinar algumas técnicas.       
Criador da “Mostra de Artes Zumbi dos Palmares”, que ocorre na “Semana da Consciência Negra”, ele relata que a exposição surgiu em meados de 1986, quando foi convidado por Idalto José de Almeida, integrante do Grupo de Consciência Negra. Atualmente a “Mostra Zumbi dos Palmares” está na 30ª edição e é a única local com enfoque no movimento negro, além de abrir espaço a novos artistas e para artistas conceituados do Brasil e de países como Japão, Cuba, Portugal, Finlândia, Alemanha e demais localidades.                       
Nas artes plásticas há cerca de 40 anos, ele recorda que entre 2003 a 2015, desenvolveu quadros pequenos e populares, do tamanho de uma carta, o qual já produziu cerca de dez mil. Já os trabalhos maiores, de 50 cm x 70 cm, foram em torno de três mil, onde retrata cenas suburbanas como a mulher que lava roupa, os trabalhadores conversando no bar ou crianças brincando com pipa e bola de gude. “São imagens que visualizo no cotidiano, onde uso cores primárias na composição dos quadros”, diz Agenor Evangelista, que em 2001 e 2007 teve vários trabalhos publicados nos cartões telefônicos da Sercomtel, onde destacou o negro, a Escola de Samba Zumbi dos Palmares e a região do Cinco Conjuntos. 
Com trabalhos comercializados na Franca, Japão, Suíça, Estados Unidos, Argélia, Uruguai e em Portugal, no Museu de Guimarães, cidade co-irmã de Londrina, ele cita que há no acervo da Folha de Londrina um trabalho de 1987, quando ao expor no Londrina Country Club, João Milanez e Valmor Macarini, que administravam a empresa na época, encomendaram um painel sobre a história da imprensa e do jornal. 
Influenciado pelo impressionismo francês, por Di Cavalcanti e Cândido Portinari, que pintavam as mulatas e a boêmia, Agenor Evangelista pode ser considerado um memorialista paranaense por mostrar a periferia e as pessoas que vivem lá. “É fundamental a preservação da memória. O artista deve é uma ferramenta de transformação que forma e informa a sociedade, além de interagir com outras artes, como a dança e a literatura”, pontua.