sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020


Quero esquecer a guerra. Buscar os mil homens que me antecederam e revolver com maciez a terra que há de me consumir. Esquecer o roubo da memória dos povos. Recordar que a obra de Henrique Aragão integra beleza, tolerância e outros equilíbrios. Que o chão vermelho onde piso junte os pedaços tortuosos de minha alma. No bosque, a pele de minhas emoções. À porta do teatro, entrego a história dos meus sonhos.”
Este é um trecho inicial do meu poema O primordial do amor, parte do meu novo livro ainda inédito. Henrique Aragão foi fundamental na concepção desse texto porque eu precisava de um nome que ligasse as nossas raízes ao mundo. E o artista plástico, escultor, poeta e animador cultural que escolheu Ibiporã para viver representa bem as nossas melhores realizações culturais.
Conheci Henrique através do meu amigo Claudinei Rodrigues, ali pelos anos 90 e tive a oportunidade de adentrar no seu ateliê, ouvir suas histórias e sondar seu pensamento estético.
Henrique Aragão nasceu em 1931 e é de Campina Grande, Paraíba, mesmo Estado do meu pai Noé, que nasceu um ano antes. Meu pai gostava de Raul Seixas e filosofia. É possível que ambos tivessem isso em comum. O jovem Aragão recebeu ajuda financeira e com menos de 30 anos foi para a Europa estudar. Era mesmo um talento a ser lapidado...
Apaixonando-se pela arte sacra, na volta ao Brasil ele conquista seus primeiros prêmios. Por mim, tenho a impressão de que os premiados somos nós e Ibiporã, uma terra abençoada por ter sido escolhida pelo gênio.
Inovador, moderno e ao mesmo tempo cultor da tradição, Henrique Aragão nos impressiona com suas obras, principalmente as esculturas que podemos ver em cidades do Paraná, especialmente nas igrejas como a Nossa Senhora da Paz (Ibiporã), Sagrados Corações (Londrina), São Francisco de Assis (Maringá), Nossa Senhora Aparecida (Abatiá) e a Capela do Seminário São Vicente Palotti (Londrina). Entre os monumentos públicos destacam-se o Monumento ao Passageiro, no Terminal Rodoviário de Londrina e O Desbravador, na Praça 7 de Setembro, em Maringá.
Pelo senso estético inovador e visão social sempre presentes em seu trabalho, não escapou de polêmicas em obras expostas em locais públicos. Mas onde alguns viam o senso comum, Henrique Aragão retratava com a alma sensível a mulher comum, o menino esfomeado e o trabalhador que busca a felicidade.
Por sua intensa vida e obra única, Henrique Aragão é um nome fundamental na arte sacra do século XX em nosso país e uma ponte com o mundo e com a modernidade por sua ousadia e coragem!

Por Aldo Moraes

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