quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Dona Vilma e a implantação das cotas na UEL

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Dona Vilma e a implantação das cotas na UEL

Na década de 1970, a já falecida Vilma Santos de Oliveira, a Yalorixá Mukumby, passou a desenvolver atividades de terreiro, onde atuou na conservação da cultura afro-brasileira. Nesta época ela iniciou sua militância política e negra, inspirada pelas lições acumuladas do cotidiano (convivendo com o racismo e a discriminação), do movimento estudantil e da formação familiar vinculada ao tio Leodoro e à AROL. Yá Mukumby começou a participar do grupo União e Consciência Negra, inicialmente organizado por Nilson Domingues. Posteriormente engajou-se no Movimento Negro de Londrina, liderado na época por Idalto José de Almeida. A partir deste momento ela dedicou sua vida pessoal às bandeiras sociais e políticas.

Foi em meados dos anos 1980 que ela entrou no Partido dos Trabalhadores, conquistando visibilidade e sendo conhecida e respeitada pela sociedade londrinense com o envolvimento no debate político e racial. Enquanto representante da realidade da população afro-brasileira, ela enfrentou problemas por ser mulher negra e de família pobre, elementos significativos para sua formação política e expressivo enfrentamento das situações de discriminação na sociedade brasileira.                                                    

Antes de militar no movimento negro, Dona Vilma militava na vida cotidiana e observava as relações sociais com enfoque racial. A partir desta vivência ela começa a questionar, encarar e principalmente enfrentar valores raciais hegemônicos na sociedade londrinense, que não escapavam de uma perspectiva nacional de embranquecer o Brasil e que ratificava a condição de marginalização e subalternização da população negra. Nesse sentido, Dona Vilma, junto com outros representantes do Movimento Negro, também participou da elaboração da Semana Zumbi dos Palmares, e no tocante à questão das políticas afirmativas no âmbito local. Uma das grandes conquistas do Movimento Negro em Londrina, no qual ela atuou foi a instituição do sistema de cotas na UEL (2004/2005).                                                                                                                                             
O sistema de cotas na UEL funciona da seguinte maneira: 20% das vagas para negros e 20% destinadas a alunos da rede pública. Durante a instituição das cotas produziram-se materiais de apoio à discussão sobre ações afirmativas. Dentre eles está o livro “O negro na universidade: o direito à inclusão”, organizado por Jairo Queiroz Pacheco e Maria Nilza da Silva, do qual Dona Vilma participou como co-autora e produziu um capítulo que faz parte das comunicações orais, fruto de sua participação no seminário que deu nome à obra. Dona Vilma fez uma palestra de abertura na mesa que discutia as ações afirmativas no seminário referido e a discussão, transcrita no livro, traz elementos como a luta pelas cotas enquanto reparação histórica e combate à desigualdade racial, reafirmando a responsabilidade do Estado na aplicação de políticas públicas voltadas para a população negra. No texto ela faz um convite a comunidade acadêmica, alertando para a necessidade da reflexão sobre as questões raciais brasileiras, racismo, discriminação racial e injustiças sócio-históricas sofridas pelos negros.                                            
Implantada na UEL em 2005, as cotas constitui-se num sistema que reserva vagas para candidatos oriundos das escolas públicas. A cada vestibular 40% das vagas de graduação são reservados a alunos cotistas, sendo 20% para oriundos de escola pública e 20% para quem se declara negro e oriundo de escola pública.

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