sábado, 22 de fevereiro de 2020

A história de Jataizinho (Parte 1)


A história de Jataizinho é antiquíssima, remonta à época dos descobrimentos, quando Portugal e Espanha em 1494 dividiram entre si toda a área conhecida ou que poderia ser encontrada, através do estabelecimento de uma linha imaginária, deslocada a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde (África). As terras que ficassem a oeste da linha imaginária seriam da Espanha e a leste pertenceria a Portugal. Pela divisão estabelecida no Tratado de Tordesilhas, celebrado entre os dois Impérios, quase a totalidade da área a qual é conhecida hoje enquanto território paranaense era de domínio espanhol.
            Alguns anos após o descobrimento do Brasil que ocorreu em 1500, os espanhóis, com medo de perderem essas iniciam a ocupação de sua área no continente americano, mas Portugal não respeita os termos do Tratado e passa a ultrapassar os limites. Assim, a partir de 1531 os portugueses começam a organizar expedições rumo ao Peru e Paraguai, através dos rios navegáveis da Bacia do Rio Paraná. No entanto os nativos atacavam as expedições, matando alguns portugueses que se aventuravam por essas terras.
            A Espanha, por carta régia, em 1608 adota a política de aldeamento por sugestão dos padres jesuítas Ortega e Filds, que percorreram a região do Guairá em 1588 e informaram a seus superiores a existência de 200 mil índios. As investidas dos portugueses na região eram constantes e com a criação da Província Del Guairá, a ação dos jesuítas abrangeria os territórios indígenas a leste do rio Paraná.
            Vinte anos após a determinação do rei da Espanha pela estratégia do aldeamento, com o objetivo de dar legitimidade à posse, a Província Jesuítica de Guairá contava com dezessete núcleos ocupando uma área geográfica envolvendo os vales dos rios Tibagi, Paranapanema, Iguaçu, Piquiri, Ivaí e Paraná. Na bacia do Tibagi havia 4 reduções e a atual Jataizinho era uma delas. Chamava-se Redução de São José, fato que se confirma por mapas do período da dominação espanhola no Paraná e pelos escritos posteriores de Frei Timóteo de Castelnuovo, que nessa mesma localidade chegou em 1854 para organização do trabalho e catequização, em sistema de aldeamento junto aos nativos que eram originários de diversas tribos indígenas.
Em 1628 os bandeirantes Raposo Tavares e Manoel Preto com bandeira constituída pôr 900 mamelucos (filhos de brancos e índios) e 2000 índios auxiliares, para agirem contra as reduções, utilizaram-se do caminho pré-colonial chamado de estrada do Peabiru, ou caminho de Caminho de São Tomé, denominação usada pelos padres Jesuítas que ia da Capitania de São Vicente até às margens do rio Paraná, passando os rios Tibagi, Ivaí e Piquirí. Na margem esquerda do Tibagi, os bandeirantes Raposo Tavares e Manuel Preto construíram um campo entrincheirado, onde hoje é Jataizinho. Os destacamentos atacantes partiram das margens do Tibagi, incendiando e destruindo uma a uma as 17 reduções jesuíticas, deixando rastros de sangue e maldade, alterando profundamente a cultura desses povos que ainda hoje continuam a ser desrespeitados pelo homem branco, dito civilizado.
            Em virtude da ação sanguinária dos bandeirantes, milhares de índios foram mortos. Os que sobreviveram e não conseguiram escapar mata adentro, foram levados com os bandeirantes para serem vendidos como escravos. Os bandeirantes paulistas e portugueses passariam a explorar as riquezas das áreas tomadas, tirariam proveito das águas navegáveis existentes perto das reduções. Os padres Jesuítas foram expulsos dessa região que passa, ao longo dos anos a não ser mais de domínio espanhol, mas de domínio português.
            Após a invasão dos bandeirantes e massacre dos nativos que se opunham à ação, a área ocidental do Paraná permanece praticamente despovoada por aproximadamente 230 anos (1620 a 1850) em função de não termos em grandes quantidades ouro, prata ou índios para escravizar e porque novas regiões como Minas, Mato Grosso e Goiás, começaram a despontar como áreas rentáveis aos aventureiros e exploradores.
            A ocupação dos vazios demográficos era uma preocupação da Coroa Portuguesa que passa a fracionar o território brasileiro criando novas unidades administrativas, promovendo a descentralização que iam dando paulatinamente, a consolidação e defesa do território. As ameaças à integridade territorial portuguesa ainda persistiam em função dos constantes conflitos fronteiriços e possíveis ataques de ditadores e caudilhos que surgiam na Argentina e Uruguai, principalmente onde grandes rios navegáveis tinham seu curso ligado a aqueles países limítrofes, no caso a Bacia do Paraná.
            De Jataí era muito fácil deslizar até o Mato Grosso e a localidade se mostrava como importante núcleo de defesa dos limites territoriais do Brasil. A criação da fortificação militar seguia as recomendações de dois exploradores: John Henry Elliot e Joaquim Francisco Lopes, que em caso de guerra com países limítrofes, o grande sistema fluvial navegável da Bacia do Paraná poderia servir para transporte de munição e víveres às fronteiras dessas nações que tem comunicação direta com Jataí (às margens do rio Tibagi) pelos rios Paranapanema e Paraná.
            Deste modo, o Porto Jataí se destacava mesmo antes de 1850, ao contrário de muitas outras regiões, com prática comercial ligada à exploração de diamantes no rio Tibagi em virtude da ação dos bandeirantes. Com a criação da Colônia no Porto do Arroio Jatahy, a mesma passaria a servir como centro e núcleo de povoação, devendo ampliar o trânsito pela nova via que era ligar Cuiabá (Província do Mato Grosso) à Curitiba, passando pelos Campos Gerais. Como posto militar avançado, também poderia prevenir e enfrentar o possível ataque do Paraguai, país fronteiriço que com a adoção de uma política de autonomia, cresce economicamente e passa a ser uma ameaça aos países vizinhos e também a Inglaterra.
            Com o eminente perigo, o Imperador D. Pedro II ordena a criação da Colônia Militar pelo decreto n. 751 de 2 de janeiro de 1851, mesmo antes da emancipação política da província do Paraná, que ocorre em 1853. A distância e dificuldade de contato com do Rio de Janeiro, centro político e administrativo de todo o Império, prorroga a efetiva instalação da Colônia Militar de Jatahy que ocorre somente em 10 de agosto de 1855. A instalação ficou a cargo do Senador João da Silva Machado, agraciado com o título de Barão de Antonina, que desde 1841 já explorava essa área. A criação da Colônia em seu latifúndio também era de seu interesse devido valorizar suas terras.
            Em 1854, antes da instalação da Colônia Militar, é construída a primeira igreja e duas casas: uma serviria de quartel do comandante e capitão interino e a outra serviria de quartel dos colonos. As funções religiosas, com a construção da igreja, passam a ser dirigidas por Frei Mathias de Gênova que chega juntamente com Frei Timóteo de Castelnuovo. Após a instalação da Colônia, são enviados os primeiros escravos negros para o trabalho na colônia e no Aldeamento.                                                                                                           
            A inauguração do Aldeamento São Pedro de Alcântara, que ficou sob a responsabilidade do capuchinho Frei Timóteo de Castelnuovo, ocorre em 2 de agosto de 1855 e se localizava na outra margem do rio Tibagi, opondo-se à localização da Colônia Militar. É realizada uma procissão que transporta, da capela da Colônia para o Aldeamento, a imagem de Nossa Senhora da Conceição Imaculada, padroeira da Colônia Militar e São Pedro de Alcântara, padroeiro do Aldeamento. Sabe-se que a construção da cidade deu-se através da ajuda de 111 índios Kayoá e 12 escravos da nação. Nesta mesma época instalou-se uma escola de primeiras letras e no seu perímetro urbano construiu-se uma igreja, uma ferraria, uma estrebaria, olaria, senzala e diversas casas cobertas com telhas.
            As tribos que passaram a fazer parte do aldeamento eram originárias das Comarcas de Castro, Guarapuava e Palmas. Elas viviam de assaltos aos tropeiros e viajantes que vinham do Rio Grande do Sul, conforme os relatos de Telêmaco Borba, que aqui viveu entre os militares e nativos. Os nativos Kayoá que inauguraram o aldeamento, já habitavam a região desde 1852. Nos dias subseqüentes a inauguração do aldeamento (1855), mais índios Kayoá chegaram em pequenos grupos vindos da região do rio Paraná e Mato Grosso. Os Kaingáng, também denominados Coroados, chegaram aqui em fins de 1858.
Por volta de 1867 a Colônia já contava com 30 casas, uma olaria, fornos para fabricar tijolos e dois engenhos de moer cana, na produção agrícola era cultivado milho, feijão, cana- de- açúcar, mandioca, café e algodão. O que era produzido com excedente era vendido e exportado, como o açúcar e a aguardente. O café era produzido apenas para o consumo, mas já se fazia presente em nosso município em 1845, muito antes do norte do Paraná vir a ser conhecido mundialmente pela alta produtividade e qualidade do grão. Para se ter uma ideia, em 1876 a população do aldeamento já era de 1487 pessoas, sendo 124 brasileiros e estrangeiros, 902 coroados e 461 Kayoás.
Com o fim da Guerra do Paraguai, que se estendeu de dezembro de 1864 a março de 1870 e que arrasou em torno de 90% da população masculina paraguaia, a região, que se tornou sede da Vice Prefeitura do Sul Brasileiro, deixou de ter importância e, com o fim do regime monárquico, os aldeamentos foram abandonados à própria sorte. Frei Timóteo falece em 1895 e a localidade regride populacional e comercialmente. O esquecimento dessa região, ao norte do Paraná se dá por aproximadamente 25 anos. A Igreja tenta restabelecer essa comunidade, mas não consegue porque não tem o apoio do governo republicano, que nega o subsídio à Colônia e ao Aldeamento, em 1912.
Novos colonos começam a chegar à região somente em 1920, vindos de São Paulo, Minas e Mato Grosso, tornando-se um centro de safristas de suínos devido à instalação da Swift Armour no Norte Paranaense, Inicia-se a 2ª fase da coIonização, período em que perde, ano após ano, a maior parte de seu território, que era forma do por uma vasta área que compreendia todo o norte do Paraná, até o rio Paraná. Em 1920, pela lei nº 1.918, é criado o município de São Jerônimo e Jataí que tivera tanta importância para o império e fora tão extensa territorialmente, tendo sua área achegando até às margens do Rio Paraná, passando a ser um de seus distritos.
Neste período, o Governo do Estado do Paraná, com o intuito de dar novo impulso econômico à região, passa a vender as glebas de terra a preços baixos por causa do difícil acesso. As companhias de terras passam a investir nessa região com intenções de alto lucros futuros uma vez que Antônio Barbosa Ferraz Jr. consegue em 1920, do presidente do Estado do Paraná, uma concessão para a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Paraná.
Neste ano é criado o município de São Jerônimo e Jataí torna-se um de seus distritos pela Lei Estadual nº1918 de 23 de fevereiro. Com isso a vila ganhar impulso com a vinda de novas famílias do novo empreendimento de colonização do Governo Republicano, aliado ao capital internacional das companhias colonizadoras. Jatahy teve extrema importância para a efetiva colonização e progresso do Norte do Paraná, tornou-se o portal de entrada de muitas famílias que vinham de várias regiões do Brasil e do exterior, em busca do próprio pedaço de chão para plantar as sementes de um futuro melhor. Os imigrantes vinham atraídos pelas propagandas da alta qualidade das terras, que eram vendidas a prazo longo e preços baixos.
Jatahy possuía uma enorme extensão territorial, e de seu território foram desmembrados várias áreas que hoje são prósperos municípios: Londrina, Rolândia, Arapongas, Mandaguari, Maringá, ibiporã, Assaí, Cornélio Procópio, Urai, Sertanópolis, Jaguapitã e Rancho Alegre. Dessa forma, a travessia sobre o rio Tibagi, em direção ao "Norte Novo" tinha que ser feita através da Balsa ou de canoas, não havia ponte ferroviária nem rodoviária. A ferrovia só chegou a Jatahy em 1932. A ponte ferroviária sobre o rio Tibagi foi inaugurada em 1935 e transpôs a barreira entre o passado e o presente, viabilizando o extraordinário progresso de toda a região.
A construção dos prósperos municípios do “Norte do Paraná” nas décadas de 40 e 50 foi feita com a argila e areia extraídas de Jataí, que chegou a ser considerada a “Capital Nacional das Cerâmicas”, exportando manilhas, telhas e tijolos para todo o Brasil. Porém, a ação das Companhias Colonizadoras eram condições para a emancipação dos distritos de Jataí, significando a perda de toda a influência nas terras a oeste do rio Tibagi, em 1934. Em 1938 Jatahy é reduzida a categoria de Vila, passando a pertencer ao município de São Jerônimo da Serra, juntamente com os distritos de Assaí e Congoinhas, criados com território desmembrado de Jatahy. Rancho Alegre se desmembra de Jataí em 1963, tornando-se município.
Na atualidade, Jataizinho desponta-se com um diferencial sobre os outros municípios do Norte do Paraná, com uma bela história e relíquias de seu passado quinquenário, tendo em suas portas o belo e majestoso rio Tibagi, com extraordinário potencial de turismo e lazer, fontes de riqueza. A região dos prósperos municípios do "Norte do Paraná" na década de 40 e 50 foi feita com a argila e a areia extraídas de Jataí, que chegou a ser considerada a "Capital Nacional das Cerâmicas", exportando manilhas, telhas, tijolos para todo o Brasil. (Continua)

Nenhum comentário: