terça-feira, 30 de dezembro de 2008

"O primeiro brasileiro foi um índio"

O índio Caingang Renato Crine Caiene diz que o conhecimento dos índios do Apucaraninha se baseia numa história presente e dos antepassados. "O que viveu nossos antepassados, é preservado culturalmente. Porém a situação no presente não é igual ao passado como a abundância de caça e de peixes nos rios. As terras foram destruídas e as aldeias do Paraná diminuiram gradativamente. Sabe-se que existe a preservação, mas ela é pouca". Na opinião de Renato, a cultura, o conhecimento e os saberes aos poucos foram retirados pelo não índio. Cabe aos índios dizer e ensinar aos filhos que eles devem se preocupar mais com a preservação do que ainda resta.
"o que conhecemos, passamos aos filhos. No fundo, se existe algum conhecimento esquecido, tentamos resgatá-lo e preservá-lo. Nossa cultura ninguém pode tirar da gente, um direito e cada um possui os seus".
Calene diz que a Reserva do Apucaraninha abriga em torno de 1500 habitantes. São índios que trabalham na agricultura e se preocupam com a saúde e a educação. "Quando estes fatores não estão bons (saúde e educação), procuramos melhorar. Hoje o índio é cidadão e tem direitos iguais, como todo cidadão. Cabe a nós, indígenas, a busca pelos seus direitos e principalmente a liderança. Sou de uma associação e busco os direitos da minha comunidade. Isso resplandece em confiança. Um exemplo é o aumento da população, que torna-se uma preocupação constante. A terra é pequena e daqui alguns anos não haverá espaço suficiente para agricultura e muito menos para a sobrevivência. Por consequência, precisamos de mais terras e da demarcação delas.
Outro ponto é a agricultura, que precisa melhorar. Isso se reflete na alimentação, que deve ser considerada pelo governo estadual, federal e com a ajuda dos depútados. Hoje, no meu conhecimento, o índio é cidadão e ele tem direitos porque elege políticos. É um eleitor que elege prefeito, vereador, deputado estadual, federal, presidente da república e senador. Então, com toda esta responsabilidade, está na hora de aparecer os direitos e a concessão dos mesmos. Tanto no social, como na cultura. O índio é cidadão e ele conhece sua cultura e a cultura não índia. Todos tem direitos iguais.
Caiene, que nasceu no Apucaraninha, tem a mãe como índia da etnia caingang e seu pai, que vem de Ibiama (Santa Catarina), é um índio Xoclén. Para ele, ser Caingang e Xoclén é um privilégio, pois pentence a duas raças distintas. "O índio é da terra e o Brasil é da terra. Como Pedro Álvares Cabral, isso está na história. Quando os portugueses chegaram aqui, foi avistado primeiro os índios. Só que quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral, que nem índio era. Mas na verdade, quem vivia aqui a milhares de anos eram os índios. Se for para dizer quem foi o primeiro brasileiro, pode-se considerar que foi um índio. Mas isso não é considerado como se têm visto. Infelizmente o índio é visto como um ser que vive no mato. Mas isso não é verdade. Acho que não. Primeiramente ele é um brasileiro, mas sem direitos, garantias e igualdades. Sou índio, mas sou um ser humano. No Brasil o índio sofre muitos preconceitos. Isso deve acabar e deve-se criar uma visão de que ele possui o conhecimento e preserva uma cultura milenar como o gosto pelo trabalho com artesanato ou na agricultura. O preconceito é visto quando o índio que faz artesanato vêm a cidade para negociar seu trabalho. Isso é uma barreira a ser enfrentada. Muitos índios são contra o preconceito. Pela sua natureza, ele vive livre, da mesmo forma como nas aldeias. O preconceito é tamanho, que muitos chamam a polícia, mesmo quando não se está fazendo nada de errado, como roubo. Isso é puro preconceito. Esta situação deve parar. O preconceito também é visto quando defendo meus direitos. Até mesmo na política sofremos preconceito, quando dizem que os índios tem terra, mas não fazem nada. Algumas reservas tem muita terra boa para o plantio de soja e trigo, mas, o que falta para começar a trabalhar? Faltam recursos e principalmente alimentação para fortalecer os trabalhadores. Não tem semente e as vezes se ela existe, não há verbas para se alimentar, trabalhar e comer. Qualqueer serviço que você faça e não tiver recursos para se alimentar, não prospera. Tem gente que não sabe, mas a barriga tamém dói com a fome. Como disse anteriormente, a desmatação acabou com a caça. Tinhamos fartura, pinheiros e pinho, carne assada e peixes. Mas hoje não existe mais. A devastação tomou conta. O que resta nas aldeias está sendo preservado.
O Governo do Estado, junto com o federal e as prefeituras, poderiam fazer um projeto da melhoria da qualidade de vida das aldeias. Um projeto bom para que a comunidade tenha, ou eles mesmos trabalhem, produzam a comida para consumo. Temos essa idéia, porque senão vira aquela história: os índios não trabalham, estão passando fome e vivem na miséria. Ví uma reportagem na televisão que me preocupa. Os índios têm terra, mas não tem condições de cultiva-lá. Acho que está na hora da gente ver isso.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

E como vivem os índios da nossa região?

O estagiário de Ciências Sociais, Adriano Francisco da Cruz, atua na Secretaria de Ação Social de Londrina e trabalha no projeto que atende as necessidades das populações indígenas do Apucaraninha. Para ele, trabalhar com os Caingangs é uma ótima experiência devido a disciplina de Antropologia, que estuda a questão teórica dos indígenas. "Estudar a teoria e trabalhos etnográficos sobre uma certa comunidade indígena é uma coisa. Quando você começa a conviver com eles pessoalmente, seu conhecimento se enriquesse cada vez mais através da junção teórica e prática. O que se observa é a relação e contato com os não índios e também que certas teorias clássicas indígenas (comparadas com o contato), mudanças e principalmente a questão da resistência. Aparente, eles dizem que vão "deixando de ser índio", porém, cada vez mais eles resistem. A resistência é vista no fato da cultura ser algo dinâmico e nessa dinâmica, cada vez mais eles recriam formas tradicionais no presente".
Questionado como o Caingang faz isso, o estudante respondeu:
"Por exemplo, um dos grandes fatores que se vê presente é a língua, pois são bilingues, porém a preferência é falar o Caingang. Coordeno uma escola de futebol com a intenção de prevenir o alcoolismo, situação grave nas terras indígenas. Quando tem campeonato e jogamos fora da reserva, a torcida se comunica com os jogadores em caingang. Eles não falam português. Isso é algo forte que se vê presente e que tem valor antropológico. Numa analise complexa, dizer que o futebol prejudica a cultura dele é errado, pois ele reforça cada vez mais a tendência de serem caingangs".
Adriano afirma que hoje em dia a situação dos indios é muito crítica devido a falta de recursos naturais que existiam no passado. Por consequencia, a situação de miséria é comum. "Muitos querem ter uma televisão ou outro bom material. No entanto não existe o apego igual a nós. O que existe na verdade é a relação de proximidade junto as famílias e o fato de não negarem alimento, mesmo sendo escassa. Pela pouca alimentação que eles tem e por mais miseráveis que sejam, sempre que houver uma refeição, o índio convida outra pessoa de fora. Isso mostra que eles compartilham e mantém os laços familiares".
O estudante diz que a sobrevivência dos índíos do Apucaraninha é de subsist~encia e se baseia na agricultura, além de alguns serem pensionistas, aposentados e venderem artesanatos. Ele confirma que a renda bruta vêm mesmo da venda de artesanato, que é feita em Londrina e região. "Alguns poucos são empregados pela Funai, outros pela FUNASA, mas até esse mesmo passa apurado. Mesmo que ele seja funcionário da FUNAI e ganhe bem, sua família é numerosa, sendo entre dez a quinze pessoas para sustentar". isso mostra que existe estímulos para o crescimento da população indígena. Há menos de uma décvada, haviam 750 caingang. Hoje são mais de 1500 caingangs no Apucaraninha, sendo que a maioria são crianças. Elas (as crianças) através da Secretaria de Ação Social, FUNASA, Funai, Secretaria da Agricultura, são cuidadas pelo Programa da Saúde Indígena. "A escola, na reserva, é do índio, onde a educação é orientada por estatuto e especifica conforme a cultura Caingang. Muitos professores são índios, duas professoras são não índias e a educação é bilíngüe. A questão da saúde tem acompanhamento no Posto de Saúde dentro da reserva e durante a semana, vários médicos estão presentes, além de dentista, enfermeira e auxiliares de enfermagem. Existem os agentes indígenas que acompanham as crianças", diz.
Mesmo com todo esse cuidado, existe o problema do alcolismmo, que é tratado com oficinas nas escolas, tanto para os professores e alunos através de cartilhas, folders e palestras sobre alcoolismo.
Ciente de que seu trabalho ajuda na preservação da cultura indígena, Adriano diz que a politica da Funai é precária quanto aos indígenas e cabe a prefeitura de Londrina, muitos trabalhos. "Comparada com outras reservas, o Apucaraninha é previlegiada. Se não fosse alguns projetos, como o envio de cesta básica, ajuda para fazer documento, acolhimento e despesas com água, luz, manutenção, telefone e outras coisas, a situação estaria mais precária. O dever de tudo isso é da Funai, porque ela tem a jurisdição sobre os índios. A política indianista tem muito a desejar e questões que estão no estatudo não são cumpridos. Em relação a política indianista, eles (os indios) já perderam muito, mas aos poucos tentam reconquistar seus direitos. Como a demarcação de terras. Isso é um dos primeiros passos, pois eles já perderam muitas."

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Como os indígenas vêem sua cultura?

Aparecido Marcolino, Cacique Caingáng da Reserva Indígena do Apucaraninha, diz que a cultura de sua etnia perdeu muitos valores devido a inserção dos indígenas na sociedade capitalista e por estarem civilizados.

"Hoje trabalhamos com a agricultura. Na cultura indígena, o nativo caiu bastante porque chegou muita gente da sociedade não índia e se misturaram. Mas, existem alguns que tentam resgatar os antigos valores. Sou um deles e coordeno um grupo que reconquistou muito do que se perdeu com a ruptura das tradições."

Para Marcolino, ser caingang é o mesmo que ser uma tribo. O significado desta palavra é muito valioso para os índios.

"Nossa tribo é a dos Índios Coroados devido o corte de cabelo, mas para nós, caingang é o sentido da etnia na linguagem indígena. Se vejo um Guarani, na minha linguagem falo que aquele é Caingang, o mesmo que índio. Tenho muito orgulho da minha origem e dos meus ancestrais. Não tenho vergonha de ser alguém. Tenho orgulho de ser índio."

Essa afirmação torna-se mais contundente com o resgate da cultura, que está presente na oralidade e é repassado aos mais jovens, que aprendem o que se deve fazer em cada situação. "Passamos para as crianças também. Esse é um processo de afirmação da cultura, que inclue a apresentação das crianças indígenas. Apesar da interação com o mundo exterior, elas se comunicam com maior facilidade. Isso é bom", comenta o cacique.

Em relação a agricultura, ele afirma que ela mudou muito, sendo obrigados a incorporam as novas tecnologias, modos de plantio e espécies que não fazem parte de seu cotidiano. "A fartura que existia há anos atrás não exitem mais, como a caça e a pesca, que aos poucos se esvai. O que restou é a exploração das terras pela agricultura com o plantio de arroz, feijão, mandioca e milho. A soja ainda não faz parte da nossa cultura, porém estamos aprendendo com as novas tecnologias. Temos que nos adaptar para aumentar a produção".

Questionado sobre a relação dos indígenas com a soja, Marcolino disse que ela é uma cultura que não está incorporada, mas que pretendem cultivá-la. "Temos pessoas das aldeias que estão na universidade. Eles estudam para aprender. Quem sabe daqui a alguns anos chegamos lá".

Como era de se esperar, Marcolino abordou uma questão muito importante: os conflitos de terras. Em relação ao tratamento desta questão, ele disse:

"Quando alguém me faz uma pergunta dessa fico pensando. Pelas leis, fizeram um decreto, em 1775, que somos índios. Agora estão sendo esses invasores favoráveis a esse decreto de 1775. Vamos supor que um índio invada essas terras. Ele está invadindo o que o dele, mas só que o indio não faz esse tipo de coisa. Estamos tentando descobrir o que já foi perdido e o que perdemos. Quem sabe daqui alguns anos, vamos resgatar o que nos foi sequestrado. Hoje os índios não são iguais como os de antigamente. Muitos frequentam a universidade e entraram na política. Conhecemos as leis e lutamos pelo nosso povo", finaliza.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Bandeirantes no Guairá

O assédio dos bandeirantes, que passou a se intensificar a partir de 1628, tinha como objetivo capturar os índios para vendê-los como escravos a donos de canaviais e de engenhos de açúcar, pois a mão-de-obra escrava passou a ser mais escassa e mais valiosa, em vista do fechamento do porto de embarque de negros em Angola e do risco dos navios negreiros sofrerem ataques da pirataria oceânica.
Em 1580 os bandeirantes (Capitão Jerônimo Leitão) já capturavam índios na região para comercializá-los, investida que se repetiu em 1599, em 1602 (Nicolau Barreto), em 1606 (Diogo Quadros e Manoel Preto), em 1607 (Belchior Dias Carneiro), em 1610 (Clemente Alvares, Cristóvão Aguiar e Bras Gonçalves), em 1611 (Pedro Vaz de Barros), em 1612 (Sebastião Preto), em 1615 (Lázaro Costa).
Em 18/09/1628, saiu de São Paulo a maior de todas as bandeiras, com destino o Guairá, composta por 2.000 índios tupis, 900 mamelucos e 69 paulista, tendo no comando o mestre-de-campo Manoel Preto e como imediato Antônio Raposo Tavares, auxiliados por Antônio Pedro Brás Leme, Pedro Vaz de Barros, Salvador Pires de Medeiros e André Fernandes. Também acompanharam a bandeira padres seculares.
Em janeiro de 1629, a bandeira chegou na região e atacou sucessivamente às reduções San Miguel, San Antonio, Jesus Maria, Encarnacion, San Javier e San Jose. Nessa investida foram mortos em torno de 15 mil índios e escravizados perto de 60 mil, para serem vendidos em São Paulo e em capitanias do norte. Com isso a oferta de mão-de-obra indígina foi tanta, que o preço de cada índio no mercado baixou de 100$000 para 20$000.
Os índios, que não foram aprisionados ou mortos nessa investida, debandaram pelo sertão ou atravessaram o rio Paraná, espalhando-se pela região onde hoje se localizam o Mato Grosso e o Paraguai.
Depois desses ataques, por recomendação do provincial Padre Francisco Vasques Trujillo, os jesuítas reuniram-se em conselho e resolveram abandonar o Guairá, sendo atribuído aos padres Montoya, Dias Tanho, Simão Maceta e Pedro Álvarez a tarefa de dirigir o êxodo. Além desses padres, haviam outros três que auxiliaram na transmigração.
Dos índios que tinham debandado, 7.000 voltaram e se incorporam aos outros 5.000 que viviam nas reduções de Loreto e San Inácio, ainda não atacadas pelos bandeirantes, somando 12.000 almas, prontas para a mudança.
Em pouco tempo 700 jangadas e numerosas canoas estavam às margens do Paranapanema e puseram-se a enfrentar as inúmeras cachoeiras e tantos outros perigos, inicialmente no Paranapama e depois do rio Paraná (com portugueses paulistas ao seu encalço e espanhóis atacando pelas margens).
Quando chegaram nas cataratas de Guairá (Sete Quedas - Salto Grande), passaram também a andar a pé. Nessa altura já estavam quase sem comida e com tantas outras privações.
A fadiga, os obstáculos cada vez maiores, as doenças, o sofrimento, as pessoas idosas, os acidentes, passaram a provocar um desalento muito grande em todos.

Sobreveio a fome, com todos os seus horrores, pois nada encontravam ou tinham para satisfazê-la. Então, passaram a comer as sementes que transportavam, os brotos das que germinavam, couro de vaca já seco, cobras, sapos e tudo mais que encontravam e que servia de alimento.
A desesperança tomou conta de todos e para piorar uma epidemia baixou sobre todos os retirantes, matando 2.000 mil índios, depois de tomarem o sacramento. Em vista disso, 6.000 debandaram, sobrando apenas 4.000 dos que tinham iniciado a viagem.
A situação só se amenizou quando encontraram, nas margens do rio que navegavam, uns aipos que cresciam até um metro de altura, de gosto salgado, mas comestíveis. Esses aipos, conforme iam sendo arrancados, logo rebrotavam, saciando provisoriamente a fome de todos.
Nessa altura novos recursos passaram a chegar, pois os padres do baixo Paraná lhes socorreram com gado bovino, que foi colocadoà disposição dos famintos.
Com a chegada de nova estação de plantio, os índios passaram a cultivar a terra e garantir futuras colheitas de milho, feijão, mandioca, batata e algodão.
Na época os padres também conseguiram arregimentar um rebanho com 1.800 ovelhas, para produção de lã, além de plantéis de porcos, patos, galinhas e pombos que se formaram, voltando a abundância para esse povo que sofrera tantas privações.
Era o ano de 1631. Um templo foi erigido, grande e belo, e a vida dos antigos cristãos do Guairá voltava ao normal, agora nas margens do rio Paraná, onde hoje é a Argentina, que recebeu as reduções com os mesmos nomes de San Inacio Mini e Loreto.
Em meados do século XVII, já não havia mais espanhóis no Guairá. A ocupação que durara cerca de um século, desde 1542, quando o Adelantado Don Alvar Nuñes Cabeza de Vaca, após desembarcar na costa catarinense, percorreu rios e planaltos paranaense, utilizando-se principalmente do caminho do Peabiru, com duzentos homens, rumo a Assunção, até o fim dos anos 1640, quando os bandeirantes acabaram de destruir os povoados espanhóis que lá permaneciam - Villa Rica e Ciudad Real del Guairá, época que coincide com a ocupação efetiva do litoral paranaense pelos portugueses.
Da localização das reduções e povoados do Guairá hoje pouco se sabe. Graças aos trabalhos de pesquisadores e arqueólogos do Museu Paranaense e da Universidade Federal do Paraná, conhece-se a localização da Villa Rica del Espiritu Santo e dos povoados missioneiros de Nossa Senhora de Loreto, San Inácio Mini e San Pablo, dos quais ainda existem vestígios.

Éramos para ser Paraguaios?


Essa parte da história do Paraná não encontramos nos livros brasileiros. Porque será? Onde hoje vivemos, na região de Londrina, estava localizada a região do Guairá. Sua delimitações eram os rios Iguaçu (ao sul), Paraná (oeste), Paranapanema (norte) e o Tibagi (leste).
Seu nome teve origem num poderoso cacique guarani que dominava todo o território entre o rio Iguaçu e o Paranapanema, incluíndo o sul do Mato Grosso do Sul. Guairacá, como era conhecido, enfrentou e derrotou os espanhóis (Irala, Ñuflo Chavez, Alonso Riquielme, Garay, Hernandarias) nos séculos XVI e XVII (o que evidencia a possibilidade de ter existido mais de um cacique com esse nome), a quem é atribuída a frase "Co ivi oguerocó yara", que em guarani significa "Esta terra tem dono", duzentos anos antes da morte de Sepé Tiaraju.

Em 1554, por determinação de Domingos Martinez Irala, Governador do Paraguai, seu comandado, Garcia Rodrigues de Vergara, acompanhado de 60 espanhóis, fundou o primeiro povoado no Guairá, que foi denominado Ontiveros (mesmo nome da cidade natal de Irala, localizada na Espanha), uma légua acima dos saltos de Sete Quedas (a grande cachoeira), na margem esquerda do Rio Paraná, que logo seria completamente abandonado. Em 1556, Irala confiou ao capitão Ruy Diaz Melgarejo a fundação de outro vilarejo naquela região, a quem foi dado o nome de Ciudad Real del Guairá, instalado na foz do rio Piquiri, no rio Paraná. Seus primeiros habitantes somaram perto de cem espanhóis, originados de Assunção e Ontiveros, que, com isso, desapareceu.

Diferentemente do que ocorreu com Ontiveros, a Ciudad Real progrediu. Ali foi incentivado o plantio de gêneros alimentícios diversificados, a criação de animais e a exploração da erva-mate nativa, que chegou a ser comercializada anos mais tarde com algumas reduções jesuíticas do Rio Grande do Sul.

A Leste de Ciudad Real, em fevereiro de 1570, o capitão Melgarejo decidiu fundar uma nova comunidade, num lugar que imaginava existir ouro, porém próximo do povoado o único metal encontrado foi o ferro. Acompanhado de 40 homens e 53 cavalos, há 60 léguas da Ciudad Real, em terras do cacique Coraciberá, estabeleceu Villa Rica del Espiritu Santo. Lá mandou erigir uma cruz e uma igreja, ordenando a construção de uma fortaleza com cerca de 70 metros de comprimento por 10 de largura. Depois de traçar a estrutura urbana do povoado, o capitão repartiu entre os espanhóis terrenos para construção de casas dentro da vila e chácaras.
Em 1592, depois de mudar pelo menos três vezes de lugar, houve a transferência da Villa Rica, por ordem do capitão Guzman, para junto do rio Corumbataí, no Ivaí, onde se fixou.
A evangelização na região iniciou em 1588. O jesuíta Manuel Ortega, acompanhado por Tomas Fields, durante 16 anos, com algumas interrupções, atuou na Ciudad Real del Guaira, na Villa Rica, na bacia do rio Ivai até Santiago del Xerez, no Itatim. A primeira carta ânua do Padre Diogo de Torres, de 17/05/1609, registra que o Padre Ortega, no tempo em que andou pela região, batizou 22.000 índios, sendo considerado o primeiro evangelizador do Guairá.
Em fim de 1603 ou no início de 1604, o Padre Ortega foi chamado pela Inquisição de Lima e, ali chegando, foi preso em cárcere secreto, vítima de acusação feita em Villa Rica, a de violar o sigilo da confissão. Ortega somente foi liberado em 1606, quando o delator, um notário público daquela comunidade, arrependido, assumiu que o caluniara. Após esse período de prisão, ao Padre Ortega foi confiada uma difícil missão, de pregar para os índios Chiriguanos, no distrito de Tarija, no Peru, os que mais resistiam à envagilização e indomáveis às armas espanholas. Em 1622, com 42 anos de trabalho na Companhia, o Padre Manoel Ortega faleceu no Colégio de Chuquisaca.

A Província do Paraguai foi fundada em 1607 e, depois de 5 anos de ausência no Guairá, foi em fins de 1609, a pedido do Governador Hernando Arias de Saavedra, dirigido ao Padre Diogo de Torres, Provincial da Companhia de Jesus, que os Jesuítas voltaram para a região. Os Padres Joseph Cataldino e Simão Maceta para lá se dirigiram em 08/12/1609 e reiniciaram as catequeses nos povoados de Ciudad Real e Villa Rica Del Spiritu Santo e juntos aos índios naquela extensa região.

Em novembro de 1610, os jesuítas Cataldino e Maceta chegaram às margens do rio Paranapanema, por intermédio do sertão de Apuracarana, navegando pelo rio Pirapó, até a sua foz, e no encontro desses rios ergueram uma cruz e uma pequena igreja, em homenagem à Nossa Senhora de Loreto (área rural do atual município de Itaguajé-PR).

Após alguns dias de permanência no novo local, perceberam que nos arredores havia 25 aldeias indígenas, com cerca de 2.000 índios, com os quais poderiam estabelecer uma redução. A capela recém construída foi transformada em embrião de um novo povoado, que se tornou a capital das missões do Guairá.

Os Padres Cataldino e Maceta, ao tomarem conhecimento da existência de mais índios na região, seguiram o curso do Paranapanema e fundaram, onze quilômetros rio acima, a Redução de San Inácio Mini (Santo Inácio Menor), em 1611, na aldeia Ipaucumbu, na foz do rio denominado Santo Inácio, atual área rural do município de Santo Inácio/PR (essa redução abrigou o maior número de indígenas de todas as construídas no Guairá. Em 1620 contava com 8.000 almas).

Em princípios de 1612 se juntaram aos dois, os Padres Martin Javier Urtazu e Antônio Ruiz de Montoya, este iria se tornar, em poucos anos, o grande motivador e construtor das Reduções do Guairá, das quais, em 1620, foi nomeado Superior.

A pobreza e a falta de recursos materiais, principalmente de comida, dificultava muito a prática reducional. Inúmeros são os relatos sobre a adaptação que os jesuítas tiveram de fazer em relação à falta de alimentos, que tiveram que se habituar a comer o que os índios lhe davam (farinha de mandioca, batatas doce, bananas, abóboras e eventualmente carne de pequenas caças que recebiam). Quando da chegada dos padres Montoya e Martin, a miséria era tanta que Montoya registrou que não chegava a distinguir o remendo do pano original da batina dos jesuítas Cataldino e Maceta. Foram essas dificuldades que motivaram a morte do Padre Martin, de fome.

Com a morte desse Jesuíta, não foi possível aos padres restantes ampliar a área de atividade, que concentraram seus esforços no desenvolvimento e funcionamento de Loreto e San Ignacio.

Somente a partir do momento em que o Padre Montoya assumiu a direção dos trabalhos no Guairá, em 1622, é que os jesuítas voltaram a expandir suas catequeses. Nessa época atuavam na região os Padres Montoya, como Superior, José Cataldino, Simão Maceta, Juan Vaseo, Diego Salazar, Francisco de Ortega, Francisco Diaz Taño e Cristobal de Mendoza. Em seis anos, sob a liderança do novo Superior, foram fundadas mais onze povos sonsolidados (totalizando 13, que somados à redução de Santa Maria Maior, no rio Iguaçú, chegaram a 14, no Guairá):

San Francisco Javier, fundada em 1622, pelos Padres Antônio de Montoya e Simão Maceta, nas nascentes rio Tibagi (nascente do Tibaxiba, na aldeia Ibitirembatá, do cacique Ybyty, distante menos de 30 léguas do povoado de Villa Rica, possivelmente entre as atuais cidades de Santa Cecília do Pavão, Irerê e Londrina. Na redução ficou o Padre Maceta, enquanto Montoya continuou avançando.

San Jose, fundada em 1625, pelo Padre Antônio de Montoya, na margem esquerda do Tibagi, na aldeia Tucuti, dos índios Camperos, na passagem para a Redução de São Francisco Javier, possivelmente nas imediações dos atuais municípios de Bela Vista do Paraíso e Sertanópolis. Esse povoado foi fundado com a intenção de abrir um novo caminho que facilitasse a interligação e fosse um ponto de parada entre San Ignacio e San Francisco Xavier. Sobre ela Montoya escreveu "buscamos um posto, o estabelecemos por gosto do cacique principal junto a um riacho que desemboca no Tibagi, pelo qual será fácil a comunicação com a Redução de San Francisco Javier". Esse lugar quase foi abandonado, em vista da grande fome que o assolou. O Padre Francisco Ortega, cura da Redução, chegou a apelar para o Provincial para resolver esse problema.

Encarnación, fundada em 1625, pelo Padre Antônio de Montoya, na margem esquerda do Tibagi, na aldeia Ibatingui (ou Nhutingui), próxima do atual município de Telêmaco Borba, num trecho de solo fértil, rodeado por Araucárias, regado por um rio cristalino, que possibilitou a exploração de uma ampla variedade de hortaliças e milho. A fertilidade do local possibilitou que os jesuítas formassem um grande vinhedo, com três mil mudas. A redução foi formada com índios denominados de cabelludos, camperos ou coroados.

San Miguel, fundada em 1626, pelos Padres Montoya e Mendoza, no monte Ybytyrú, na margem direita do Tibagi, nas terras de Pataguirusú Oybytycoi, próxima da redução de Encarnación, provavelmente na região do noroeste de Castro e Ponta Grossa.

San Pablo, fundada no final de 1626/início de 1627, pelos Padres Antônio Montoya e Simon Maceta, na margem esquerda do Ivai (Yñ-é-Y), na aldeia Iguacura, do cacique Güyrebera, há dois dias de marcha da redução de Encarnacion e também dois dias da San Francisco Javier, próxima de Villa Rica, em local hoje desconhecido, no centro do Paraná. Apesar do otimismo de Montoya, quando fundou esse povoado, este apresentou sérias dificuldades para o experiente Padre Simon Maceta, que dela ficou responsável. As constantes investidas dos encomenderos espanhóis e bandeirantes portugueses obrigaram os jesuítas a adotarem medidas defensivas como, por exemplo, a construção de paliçadas para a defesa.

San Pedro, fundada em 1627, pelo Padre Antônio de Montoya, algumas léguas à leste do Tibagi, possivelmente nas imediações dos atuais municípios de Ivaiporã, Manoel Ribas e Grandes Rios;

Arcangeles ou Los Angeles, fundada em 1627, pelo Padre Antônio de Montoya e Salazar, na margem esquerda do Corumbatai; à direita dos rios dos Fachinais (origem: aldeia Taioba, dos índios caingangues e Cabeludos, em local isolado e de difícil acesso no centro do Estado, possivelmente ao leste do atual município de Ivaiporã). Somente depois de dois anos de tentativas é que Montoya conseguiu estabelecer essa Redução, pois eram terras do temido cacique Taiaoba, um dos principais da região do Guairá, que liderava antropófagos, gente muito guerreira, terror dos espanhóis. Nas proximidades dessa redução foi que Montoya encontrou vestígios da passagem de habitantes do Brasil, quando da fundação de Assunção, pelo Caminho do Peabiru.

San Antonio, fundada em 1627, pelo Padre Antônio de Montoya, na margem direita do Ivai, possivelmente nas imediações dos atuais municípios de Ivaiporã, Manoel Ribas e Grandes Rios.

Concepción, fundada em 1627, pelo Padre Antônio de Montoya e Diaz Taño, à direita do rio Iguaçu, próxima da nascente do Corumbatai, em terras dos Guananas, do cacique Co-Ën, na aldeia Ipiturapin. Ao sul de Villa Rica, próximo do Tombo, das minas de ferro.

San Tome, fundada em 1628, pelo Padre Antônio de Montoya, ao leste do rio Corumbatai, na aldeia do Cacique Pindobá, esta constituída de mais de 1.000 famílias, à esquerda dos rio dos Fachinais, afluente do Ivai (índios guaianazes/tapuias), próxima da Arcangeles, possivelmente nas imediações de Ivaiporã, Manoel Ribas e Grandes Rios.

Jesus Maria, fundada entre 1629 e 1630, a última do Guairá, pelos Padres Antônio de Montoya e Mendoza, na margem direita do Ivai ("nascente do Huybay" ), entre Arcangeles e San Antonio, possivelmente entre os portos Planaltina e São Carlos.

Santa Maria Maior, fundada em 1626, no rio Icarai, na margem direita do Rio Iguaçu e a esquerda do Paraná, bem afastada das demais, pelos Padres Diogo de Boroa e Cláudio Royer. Assolada pelos paulistas em 1633, transladou-se para as imediações do antigo povo dos Mártires, donde passou para melhor situação, à meia légua da margem direita do rio Uruguai.

A literatura que cita a existência de outras reduções além das que constam acima. O mapa de Juan de la Cruz Cano Y Olmedilla, cartógrafo do Rei da Espanha, de 1775, assinala também outras reduções no Guairá, como, por exemplo, Copacabana, no rio Piquiri; e Tambo, no rio Piquiri.

Outros autores acrescentam mais as reduções de Santana, no rio Ivai (transferida a população para a redução Los Angeles); Assiento de la Iglesia, no rio Ivai; e São Roque Evangelista, no rio Ivai.

Muito provavelmente essas últimas foram tentativas de consolidação de povoados indíginas, embriões das reduções jesuíticas, que não prosperaram.

Nas reduções de Loreto e San Ignacio Mini foram construídos templos melhores do que os que existiam em Assunção, na época. As igrejas contavam com órgãos e corais de índios, possuíam absides triplos e altares com retábulos pintados. Em ambos os lados das naves centrais das igrejas existiam filas de colunas com pedestais e capitéis, com pórticos e muitos ornamentos trabalhados em cedro.

Esses povoados dispunham-se em forma quadrangular, com ruas retas e casas funcionais. Cada residência tinha pátio com galinheiros. Nos campos cultivavam cereais e algodão, este utilizado pelos índios para a confecção de grande variedade de tecidos. Nas elevações viam-se bandos de ovelhas e cabras e nos currais vacas e mulas.

Os próprios jesuítas desempenhavam as funções de vinhateiros, carpinteiros, pedreiros e arquitetos, transmitindo aos indígenas os seus conhecimentos.

Até 1628, quando os bandeirantes de Piratininga passaram a atacar com mais freqüência as reduções do Guairá, elas prosperavam nos vales dos rios Tibagi, Ivai, Piquiri e Iguaçu, somando perto de 100 mil índios reduzidos.

Os Índios Kaingáng

Os índios kaingángs formam um numeroso grupo indígena do Brasil Meridional. Pertencentes ao tronco lingüístico Jê, eles são descendes dos índios Guayaná e ocupam os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, representando um contingente populacional de 25 mil pessoas.
Habitantes dessa parte do Brasil, mesmo antes da chegada do homem branco, os kaingangs foram pacificados no período de 1770 a 1930, tendo seus territórios expropriados, perdendo sua autonomia como grupo e seus territórios de caça e pesca. Neste periodo, viviam em florestas e eram arredios à civilização.
Atualmente, os kaingangs vivem essencialmente de três atividades: A agricultura de subsistência, o assalariamento temporário e o artesanato, que são ornamentados e coloridos com tintas industrializadas. As mulheres que detem o saber e a técnica dos trançados, ensinado suas filhas todo o conhecimento sobre esta arte. Habilidosos na produção de cestos e balaios, desde o final do século 19, os objetos artesanais dos Kaingangs tem sido uma alternativa de renda para as familias, além das mulheres cuidarem dos afazeres domésticos e da educação dos filhos, cabendo a meninas a responsabilidade de cuidar dos irmãos mais novos.
A alimentação dos índios kaingangs, era a base de milho e dele, era produzido várias comidas e bebidas, como o kiki, uma espécie de milho fermentado, mistudo com água e mel, que era servido nas festas e rituais indígenas, que tinham muita carne de aves, anta e queixada. Quando mortos, os animais eram moqueados para que se ficassem conservados por bastante tempo. Além dessa técnicas, os índios preparam animais maiores em buracos no chão revestidos com pedras. O fogo, era feito dentro do buraco até as pedras se tornatrem incandescentes, então as cinzas e as brasas eram removidas, e as pedras recobertas com folhas. Por cima era colocada a carne envolta com folhas. Outro alimento importante que os kaingangs utilizavam na sua alimentação era o pinhão. Vale ressaltar que em sua cultura, os produtos pertencem a quem os obteve, mas no momento do consumo, pelas regras de reciprocidade, a produção chega a todas as pessoas.

Outro ponto que marca a cultura kaingang, é que eles preservam a sua língua, sendo que todos os índios da reserva do Apucaraninha, que fica em Londrina, são bilingues, falando o Portugues e o kaingang. Aparentemente, os kaingangs atuais vivem de modo muito semelhante aos não índios e é como se tivessem perdido seus valores antigos e suas tradições, os quais entretanto, permanecem nas camadas mais profundas que orientam todas as suas práticas cotidianas e rituais. Quando se dirigem às matas para caçar ou aos rios para pescar, os kaingangs acionam seus sistemas sociais e simbólicos que orientam e regulam suas relações com os espíritos guardiões das matas e dos rios, com os espíritos dos mortos que podem estar à espreita para fazer contato com um parente vivo.

Desde 1910, procura-se demarcar as terras indígenas no Brasil. Mas o processo nunca foi concluido. Em toda a história, os povos indígenas tem sido expropriados de seus territórios por interesses do capitalismo. Os modos de produção dos povos indígenas são diferentes, tradicionalmente não objetivam a acumulação. Em 1988, com a advinda da nova Constituição, foi definido um prazo de cinco anos para a tal demarcação das terras indígenas. Esgotado o prazo dessa determinação constitucional, em 1993, as terras ainda não estão demarcadas. O território é fator básico na produção e reprodução física, material e simbólica dos grupos indígenas. A identificação, delimitação e demarcação de territórios indígenas exigem conhecimento especifico, uma vez que cada sociedade define e utiliza de maneira muito própria o seu meio ambiente. É preciso garantir aos povos indígenas o direito sobre as terras que ocupam, promovendo a identificação, demarcação, regularização, desintrusão, registro e fiscalização das mesmas, assegurando-lhe a posse e o usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades nelas existentes.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Casos recentes de pedofilia abalam a sociedade

Conselho Tutelar orienta que pais devem estar próximos aos filhos
Na manhã de cinco de novembro, um fato gerou revolta e comoção no Paraná: o corpo da criança Raquel Genofre, de nove anos, foi encontrado numa mala, na Rodoferroviaria de Curitiba. Fontes da Policia Militar indicam que havia sinais de violência sexual e estrangulamento. Jorge Luiz Pedroso Cunha, já condenado por estupro e assassinato, foi preso em Itajaí, mas exames de DNA confirmam que ele não foi o autor do crime. Mesmo assim, Cunha ficou detido por ter cometido outros crimes no litoral. A garota Raquel, apesar da idade, conhecia várias pessoas, virtualmente através da internet e, mantinha uma página no site de relacionamento Orkut. O acontecimento deixou muitos pais chocados e o Zona Norte traz a tona o debate e dicas de segurança sobre o uso e controle da internet para as crianças.
O Conselho Tutelar da Zona Norte, alerta que os fami liares devem ficar atentos e observar com quem seus filhos conversam e o conteúdo abordado no Orkut e MSN. Segundo a conselheira Fernanda Tássia de Oliveira, a falsidade ideológica e o uso da má fé são constantes e infelizmente muitos usam a web para a sedução de menores. Ela afirma que os pais devem manter uma comunicação constante com os filhos e em casos mais graves, imprimir as conversas para que sejam encaminhadas ao Conselho Tutelar. "Isso não é invasão de privacidade. Os pais devem mexer no Orkut dos filhos como medida de cuidado e precaução. A internet é uma realidade virtual e a criança não está preparada para a responsabilidade de alguns conteúdos que acessa". Fernanda diz isso, ao saber que muitos familiares delegam confiança a filhos pequenos, mesmo quando não há amadurecimento ou não estão preparados para tamanha autonomia. Para evitar que se envolva com desconhecidos, ela orienta que os pais devem saber e conhecer quem são os melhores amigos dos filhos na escola, na internet e nas brincadeiras de rua.
Segundo a Conselheira Tutelar Leoni Alves Garcia, o melhor é a atenção e a conversa, mostrando aos filhos que seus melhores amigos são seus pais, que estão dentro de casa. "Cabe aos pais demonstrar a amizade através do sentimento de confiança. Isso não se dá por surras, mas pela conversa". Ela ressalta que, devido à vontade de manter um padrão social, os familiares se afastam das crianças, sendo a falta de diálogo substituída pelas beneficies materiais. "Mesmo que se de tudo aos filhos, deve existir o afeto e o bom relacionamento. A troca do carinho pelos bens de consumo atrapalha." Outras medidas é sempre estarem atentos as amizades, estar presente e oferecer propostas. No caso da internet, mostrar sites educativos e oficiais, como o do SESC ou TV Cultura

Suspeitas e confirmação de abuso devem ser encaminhados ao Conselho Tutelar

Leoni diz que a escola e as instituições de educação, devem prestar atenção e observar sintomas anormais no comportamento das crianças. Se a mesma demonstrar apatia, agressividade e se afastar dos amigos, é sinal que algo errado pode estar acontecendo. O educador deve ter um diálogo adequado e através de metáforas, desenhos e observações, deve elucidar os problemas. Se algo for descoberto, ele tem que procurar o Conselho Tutelar, o Centro de Referência Especializado de Atenção a Criança e Adolescentes Vitimas de Violência ou denunciar anonimamente pelo disque 100.
A psicóloga Cristina Watarai, do Centro de Referência, explica que são encaminhados para a instituição casos de abuso e v iolência triados pelos conselhos tutelares. "Existe uma equipe psico social que atende as vítimas e que tem por objetivo minimizar as seqüelas físicas e emocionais, como o medo, a vergonha, o sentimento de culpa e a mudança de comportamento. Acompanhamos a criança e a família", diz. Cristina afirma que mais de 50% dos casos de abuso sexual é cometido dentro de casa por familiares. "Num lar, onde o agressor foi o pai ou o padrasto, as mães se vêem fragilizadas. Cabe a nós o atendimento psico social e recursos lúdicos para que se superem os traumas e o sofrimento. São raros os casos onde o abuso foi cometido por desconhecidos", afirma. A favor de medidas mais severas para pedófilos, como a aprovada na Câmara dos Deputados, que prevê o aumento da pena, de seis para oito anos e com aumento em um terço, se o agressor comete o crime prevalecendo-se de relações domésticas ou de parentesco, a psicóloga comenta que os pais devem manter diálogos constantes com os filhos, além de existir uma relação de confiança onde os familiares devem estar presentes nas atividades. Outro ponto citado e de alerta é que se evite deixar as crianças sozinhas em casa, ou que fiquem com um responsável.


Alguns sintomas do abuso sexual

Sintomas
- Mal estar pela sensação de modificação no corpo e confusão de idade
- Regressão a comportamentos infantis, como choro excessivo sem causa aparente, micção noturna, chupar dedos, etc.
- Tristeza, abatimento profundo ou depressão crônica. Fraco controle de impulsos e comportamento autodestrutivo ou suicida.
- Comportamento agressivo, raivoso, principalmente dirigido contra os irmãos e um dos pais não incestuoso.
- Prática de delitos.
- Envolvimento em exploração sexual.
- Uso e abuso de substancias como álcool, drogas ilícitas e lícitas.
- Baixo nível de auto-estima e excessiva preocupação em agradar os outros.
- Culpa e autoflagelação.
- Ansiedade generalizada, comportamento tenso, sempre em estado de alerta e fadiga
- Freqüentes fugas de casa.

Sinais corporais
- Doenças sexualmente transmissíveis (DST´s incluindo AIDS) e outras enfermidades de causa psicológica e emocional (doenças psicossomáticas como a dor de cabeça).
- Dificuldades de caminhar ou sentar-se devido a lesões e dores na área vaginal ou anal.
- Roupa intima rasgada ou manchada de sangue.
- Gravidez precoce ou aborto.
- Ganho ou perca de peso. Aparência descuidada e suja pela relutância em trocar de roupa (visando afetar a atratividade do agressor).
- traumatismo físico ou lesões corporais, por uso de violência física.

Sexualidade
- Interesse ou conhecimento súbitos e não usuais sobre questões sexuais.
- Expressão de afeto sensualizada ou mesmo certo grau de provocação erótica, inapropriado para uma criança.
- Desenvolvimento de brincadeiras sexuais com amigos, animais ou brinquedos.
- Masturbar-se compulsivamente.
Desenhos de órgãos genitais com detalhes e características além de sua capacidade etária.

Conseqüências a longo prazo: São efeitos a longo prazo que podem variar de acordo com a idade do inicio do abuso; duração; grau ou ameaça de violência; diferença de idade entre agressor e vítima; grau de parentesco; etc.
- Seqüelas dos problemas físicos gerados pela violência sexual (doenças e gestações problemáticas).
- Dificuldade de ligação afetiva e amorosa.
- Dificuldades de manter uma vida sexual saudável ou tendências de hipersexualizar os relacionamentos sociais.
- Engajamento em trabalho sexual (exploração comercial infanto-juvenil).
- Viciação em substancias lícitas e ilícitas.

Fonte: Centro de Referência Especializado de Atenção a Criança e Adolescentes Vitimas de Violência

Serviço:
- Conselho Tutelar da Zona Norte: Avenida Francisco Gabriel Arruda, 628 (33780375 ou 9991-6752)
- Delegacia da Criança e do Adolescente: Rua Joel Braz de Oliveira, 103 (33342200)
- Centro de Referência Especializado de Atenção a Criança e Adolescentes Vitimas de Violência: Rua Ibiporã, 573 (33362003)

Sites:
TV Cultura: http://www.tvcultura.com.br/
SESC: http://www.sesc.com.br

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Cinema - Transformações e relações com as novas tecnologias

A principal dificuldade de produzir filmes no Brasil é o alto custo e a falta de incentivos, que, apesar de terem crescido, ainda são poucos. Essa é a principal reclamação de diretores e produtores, como Flávio R. Tambellini, da Ravina Filmes. "As dificuldades existem: os custos de produção são elevados e a falta de uma distribuição realmente interessada no crescimento do cinema nacional é uma lacuna grave".
A Lei do Audiovisual libera, para a produção de filmes, apenas R$ 3 milhões por filme, mas o longa infantil Tainá 2, ainda em projeto, tem orçamento de R$ 5 milhões. Como alternativa, está surgindo no cenário nacional o cinema digital.
O cinema digital ou DV já está em exibição e a primeira sala de projeção de filmes em digital foi inaugurada no Barra Shopping, no Rio de Janeiro. Campinas também tem sua sala de projeção digital, no Shopping Parque D.Pedro. Em 2001, foram exibidos cerca de dez filmes produzidos em digital, como Janela da Alma, de João Jardim e As Avassaladoras, de Mara Mourão.
Porém, filmes como esses foram, depois da captação em DV, kinescopados, ou seja, transformados em película apenas para a projeção. Apenas o infantil Xuxa e os Duendes foi exibido em um projetor DLP, ou seja, projetado diretamente do suporte digital para a tela. Porém o longa foi filmado em suporte de alta definição (HD), uma tecnologia ainda muito cara para a realidade nacional.

A produção de filmes em DV traz várias vantagens, principalmente o baixo orçamento. O filme A Morte da Mulata, do diretor Marcel Cordeiro, foi todo filmado em DV e consumiu apenas R$190 mil. É um número irrisório se comparado com outras produções. A câmera DV DSR500 da Sony, muito usada em documentários, custa cerca de US$ 18 mil e grava imagens no formato 16:9, ideal para a projeção em cinema. Além disso, não é preciso, com o DV, pensar na produção de cópias em película, o que barateira consideravelmente o custo.
Outra alternativa para o cinema nacional é fazer o que se convencionou chamar de blow up: tudo é filmado em Super 16 e depois passado por intermediação em alta definição para 35mm, ficando pronto para a projeção. Esse processo, de acordo com o diretor da Estudios Mega, José Augusto de Blasiis, permite "uma infinidade de efeitos especiais, com correções de luz e de foco". É o caso de O Invasor, de Beto Brant, premiado no último Festival de Brasília.
Outros filmes também utilizaram esse processo e obtiveram resultados ótimos: Houve uma Vez Dois Verões, de Jorge Furtado, e Caramuru, de Guel Arraes. O próximo longa-metragem a ser lançado, que foi filmado em DV, é Rua Seis, sem Número, de João Batista de Andrade, da produtora Raiz.
A cinematografia brasileira caminha a passos largos. Produtoras surgem em todo o país, leis fiscais possibilitam o levantamento de capital para a produção e parcerias com distribuidoras internacionais e com a TV trazem novas possibilidades.


Abordagem teórico prática
Cinematografia, arte e técnica de fazer filmes. Embora Thomas Edison tenha patenteado o quinetoscópio em 1891, o cinema propriamente dito só surgiu realmente com o lançamento, em 1895, pelos irmãos Louis e Auguste Lumière, em Paris, do cinematógrafo, capaz de projetar películas sobre uma tela. O som foi conseguido com a invenção dos sistemas de sincronização som-imagem, pela Vitaphone (1926) e a Movietone (1931). O funcionamento do cinema baseia-se em uma propriedade do olho humano, conhecida como princípio da persistência das imagens na retina. Esse princípio foi formulado em 1829 pelo físico belga Joseph Plateau.

ORIGENS
O cinema desenvolveu-se cientificamente antes que suas possibilidades artísticas e comerciais fossem conhecidas e exploradas. Uma das primeiras conquistas científicas que levaram diretamente ao desenvolvimento do cinema foram as observações de Peter Mark Roget, secretário da Real Sociedade de Londres, que, em 1824, publicou um importante trabalho intitulado Persistência da visão no que tange aos objetos em movimento, no qual afirmava que o olho humano retém as imagens durante uma fração de segundo posterior ao momento em que elas desaparecem de seu ângulo de visão. Essa descoberta estimulou vários cientistas a inventarem diversos meios capazes de demonstrar o princípio.

PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS
Tanto nos Estados Unidos como na Europa, animavam-se imagens desenhadas à mão como forma de diversão, empregando dispositivos que se tornaram populares nos salões da classe média. Concretamente, descobriu-se que se 16 imagens estáticas de um movimento que transcorre em um segundo são passadas sucessivamente também em um segundo, a persistência da visão as une, fazendo com que sejam vistas como uma só imagem em movimento.
O zoótropo, que chegou até nossos dias, traz uma série de desenhos impressos horizontalmente em tiras de papel, colocadas no interior de um tambor giratório montado sobre um eixo. Na metade do cilindro, uma série de ranhuras verticais pelas quais se olha permite que, ao girar-se o tambor, veja-se imagens em movimento. Máquina mais elaborada foi o praxinoscópio, do inventor francês Charles Émile Reynaud. Ele consistia em um tambor giratório com um aro dotado de espelhos colocado no centro e os desenhos postos na parede interior. Conforme se girava o tambor, os desenhos pareciam animar-se.
Naqueles mesmos anos, William Henry Fox Talbot, no Reino Unido, e Louis Daguerre, na França, trabalhavam em um novo projeto que possibilitaria o desenvolvimento do cinematógrafo: a fotografia. Em 1861, o inventor norte-americano Coleman Sellers patenteou o quinematoscópio, que conseguia animar uma série de fotografias fixas montadas sobre uma roda giratória dotada de palhetas.
Um passo relevante para o desenvolvimento da primeira câmera de imagens em movimento foi dado pelo fisiologista francês Etienne Jules Marey, cujo cronofotógrafo (um fuzil fotográfico) portátil movia uma única faixa, que permitia obter 12 imagens em uma placa giratória que dava uma volta completa em um segundo. Por volta de 1889, os inventores norte-americanos Hannibal Goodwin e Georges Eastman desenvolveram películas de emulsão fotográfica de alta velocidade montadas em um celulóide resistente: sua inovação eliminou um obstáculo essencial para uma experimentação mais eficiente com as imagens em movimento.
Na década de 1890, Thomas Alva Edison construiu a primeira máquina de cinema, o quinetoscópio, que tinha uns 15 metros de película em um dispositivo análogo a uma espiral sem fim, que o espectador individual tinha que ver através de uma lente de aumento. As experiências com projeção de imagens em movimento visíveis por mais de um espectador foram realizadas simultaneamente nos Estados Unidos e na Europa. Na França, os irmãos Louis e Auguste Lumière, em 1895, chegaram ao cinematógrafo, invento que era ao mesmo tempo câmera, copiadora e projetor e que é o primeiro aparelho que se pode qualificar autenticamente de cinema. Produziram também uma série de curtas-metragens, no gênero documentário, com grande êxito. Em 1896, o ilusionista francês Georges Méliès demonstrou que o cinema servia não apenas para registrar a realidade, mas também para torná-la divertida ou falseá-la. Realizou uma série de filmes que exploravam o potencial narrativo do novo meio e rodou o primeiro grande filme a ser exibido, cuja projeção durou cerca de 15 minutos: L’affaire Dreyfuss (O caso Dreyfuss, 1899). Mas Méliès é famoso sobretudo por suas notáveis fantasias, como Viagem à lua (1902), nas quais experimentava as possibilidades de trucagens com a câmera cinematográfica.
O estilo documentalista dos irmãos Lumière e as fantasias teatrais de Méliès fundiram-se nas ficções realistas do inventor norte-americano Edwin S. Porter, que produziu o primeiro filme interessante de seu país, Great train robbery em 1903. Esse filme teve um grande êxito e muito contribuiu para que o cinema se transformasse em um espetáculo de massa. As pequenas salas de exibição, conhecidas como cinema poeira, espalharam-se pelos Estados Unidos e o cinema começou a firmar-se como indústria.