quarta-feira, 19 de abril de 2017

Resgatando e construindo a memória Norte Paranaense

Os jovens não se lembram. Os mais velhos têm saudades e recordam bons momentos vividos no bar de Domingos João Gardin, que ficava na Avenida Paraná, próximo àrua José Bonifácio, onde há um busto de bronze. O estabelecimento comercial tem sua história ligada diretamente ao auge e decadência do café, ocorrida em 1975 com a geada negra.                                                
Um dos filhos de Domingos Gardin é Wilson Gardin, de 58 anos. Morador de Londrina ele é representante comercial e cita que o pai nasceu em 1º de abril de 1910, vindo a falecer e ser sepultado no Cemitério São Lucas em 30 de setembro de 1987, deixando dez filhos. “Gardin é italiano, herdado do pai. Na data do seu falecimento, ao irmos no cartório descobrimos que a grafia correta é Cardin, algo impossível de alterar devido a burocracia dos cartórios”, afirma Wilson. Natural de Rio das Pedras (SP) e vindo morar em Jacarezinho, naárea rural de Rio Dourado, lá ele conheceu e se casou com Conceição de Sousa. “A casa da minha mãeestá do mesmo jeito que era no século passado. Um dos meus irmãospreserva o imóvel feito de tijolo maciço”, recorda. Casados em meados de 1942, o casal era sitiante e vivia de criações como porcos e galinhas além de cultivar café.                                                                   
A vida de Domingos Gardin mudou quando veio à Ibiporã. Ele gostou da cidade e comprou uma chácara. Porém, um problema de saúde decorrente de paralisia infantilatrofiou seu braço esquerdo e lhe obrigava a usar camisas de manga longa. Por orientação médica mudou a atividade e locou, posteriormente comprando, o imóvel na Avenida Paraná. Foi ali que nascia um dos primeiros bares do município. Wilson Gardin não recorda o ano, mas na memóriacenas de pessoas nas ruas de terra, montadas a cavalo e andando emcharretes. “O bar tinha quatro portas e vendíamos produtos diferenciados como remédios e cristais. Minha mãe, Conceição de Souza Gardin, uma morena clara ede extrema beleza por conta da descendência portuguesa. Atuava no lar e auxiliava nas atividades da cozinha, onde fazia café desde o processo de torrefação. Outro detalhe era que no fundo do estabelecimento havia um salão de festas onde se celebrou diversos casamentos. Os convidados vinham na carroceria doscaminhões. Tábuas e cavaletes serviam como mesas”, recorda.                                           
Com alegria ele cita um dos hábitos do pai e amigos: ficar na frente do bar após o jantar, sentados a conversar, além de aos domingos haver o baralho como passatempo. “O produto mais vendido era mortadela e, quando era Sexta Feira Santa comprávamos inúmeras latas de sardinha. Temperadas com cebola e vinagre, eram o recheio do pão que as famílias, principalmente das áreas rurais, comiam após sair da missa na Igreja Matriz. Outro produto que alegrou minha infância eram os doces tradicionais, como de abóbora, pé de moleque, suspiro e paçoquinha”, diz.                                                                              
Saudosista, por diversas vezes Wilson foi a Londrina assistir o Estrela do Norte jogar no Estádio do VGD, além de conhecer jogadores do Náutico, outro time de futebol de Ibiporã. “Alguns jogadores do Estrela, como o Coruja e Kalil e do Náutico, como o técnico Graxa, iam ao bar. Ali os times faziam reuniões, além de orientar os jogadores. Foram times que marcaram época, onde subíamos no alambrado do estádio para xingar o juiz ou comemorar um gol”.                                       

Desativado em 1975, o bar viveu o auge e a decadência do café e, proveniente do dinheiro ganho, ele comprou um sítio de dez alqueires na Água dos Cágados, onde havia dez mil pés de café e a geração de emprego para duas famílias meeiras. “Com a geada o café virou carvão até a raiz. Devido às dificuldades, em 1977 vendemos o sitio e viemos para Londrina. Meus irmãos estudavam e trabalhavam aqui. Meu pai achou perigoso transitar pelas cidades naquela época, em que não haviam as estradas de hoje”, ressalta.                             
O imóvel da Paraná ainda pertence à família, especificamente ao irmão Antônio Pedro Galdin, que colocou o busto após a morte do pai. “Os antigos, ao ver a imagem retornam no tempo e tem boas recordações”, finaliza. 

2 comentários:

Reginaldo disse...

Eu fazia parte de uma das famílias que trabalham de meeira. Mudamos para Santo André no ABC Paulista, quando houve a geada. Apesar de ter apenas 4 anos época, eu lembro do sítio do Sr. Domingos.

MilenaBuso disse...

Sou neta dele. Obrigada por compartilhar. Espero que esteja bem. Um abraço.