sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Tarde Latina – Parte II (Fim)

Demorou um pouco e lá pela quinta dose de rum, quando vi o papagaio voando, os músicos subiram ao palco para afinar os instrumentos. Como era num palanque improvisado, e a banda tocaria fora do bar, nos aglomeramos para ver o show, quando de repente começa uma guarania: “Foi num baile em Assuncion/Capital do Paraguay/onde vi as paraguayas sorridentes a bailaaaaaarrrrrr...”. Eram paraguayos tocando a verdadeira música que representava suas culturas. O que importava era que enfim, a missão de vim tão longe, se concretizava.
O público, que não se importou com a irônica música, começou a dançar. No palco, Joaquim divertia-se com a brincadeira, quando de repente (não sei por que) uma inspiração muito louca toma conta do grupo, onde os paraguayos se rendem ao imperialismo, de uma hora para outra mudam seus acordes, se americanizaram e começaram a tocar punk rock ao estilo californiano. Como um adolescente qualquer, Pedro deixou-se levar pelo som e uma mágica surrealista aconteceu. Conforme a notas musicais saiam dos instrumentos, uma fumaça invadia e tomava conta do ambiente. Pedro sentia-se nas nuvens pelo efeito da montila e literalmente parafraseou o poeta que dizia a música ser uma fumaça e sua vida uma cortina. Aos poucos, a fumaça invadia a cortina, que por dentro era somente rock and roll. A sensação era a mistura de prazer com adrenalina, onde nada no universo poderia substituir. O expedicionário, que via todos pulando e dançando como loucos, não se conteve e no meio da chuva, começou a sentir os mais nobres sentimentos de alegria e descontração.

- Será que este moço está maluco? Alguns se perguntavam.
Pedro apenas gritava:
- Puxa vida, estou aqui para curtir o som.

Um bando de punks loucos se juntou ao roqueirinho e baseados numa ideologia, tiveram atitude e fizeram o que tinham vontade: Dançar ao som das gotas da chuva até se cansar e ficar com o corpo dolorido conforme recebiam cotoveladas e chutes (bem ao estilo punk/underground). Por ironia e cansado devido às dores nas costas, sentou-se e num rápido virar de olhos encontra ao seu lado uma garota que o observava. Ela pensava:
- O que aquele maluco estava fazendo? Quem poderia ser?

Ela era alta, magra, possuía cabelos ruivos e uma beleza inimaginável.

- Quem será? Como será seu nome?

Em abstrações e perguntas secretas, a ruivinha pimenta apenas sorri e vê que Pedro não oferecia nenhuma resistência. Convida-o para sentar-se em sua mesa. Ele, lisonjeado, aceita o convite rapidamente, deixando Romerito para traz.

- Olá, como é seu nome?
- Sou Sara Jane.
- E você? Como se chama?
- Sou Pietro. Uma pessoa forte como a pedra.

Sara Jane era o exemplo da modernidade contemporânea. Usava piercings e tatuagens. Lia filosofia moderna e Nietche. Entre os assuntos abordados naquele bate papo real, abordava que:
- Nem tudo aquilo que é bom para os outros é bom para você. Se você vive num ambiente onde todos são iguais, tenha idéias e atitudes construtivas para se destacar, mas, não atrapalhando ou prejudicando interesses alheios. Porém, não se esqueça que a liberdade não se conquista num objeto, numa pessoa ou bens materiais, mas na sinceridade do espírito e no coração. Ambos devem viver em harmonia. Você me ouviu? Prestou atenção ao que disse?

Como uma garota podia falar aquilo para mim? Não sabia o que responder. Nunca tive idéias como essas e vivia metido em assuntos a ações que nada tinham em haver com Sara Jane. Aquelas palavras me tocaram a fundo e vi que a ruiva era mais que uma garota bonita: representava a Via Láctea que nunca havia vivido até o momento.
O show continuou e a cada música a Chiuaua tocava um hit diferente. Mas, sempre via a presença de palco em Joaquim no palco, tocando baixo como um louco. Por minha vez, me esqueci de Romerito, que nesta hora conversava com o papagaio da montilia.
Bom, para finalizar a estória e não resistindo mais aos encantos de Sara, abracei-a e nossos lábios se tocaram, mostrando tão quão eram macios. No beijo ardente como fogo em labaredas, nossas línguas se encontravam ao ritmo da música. Acabada a noite, fomos embora juntos, às vezes de mãos ou braços juntos e peguei seu telefone.
No caminho de casa, estava tão bêbado e embriagado pela paixão, que me esqueci de Quixambá. Dias depois conheci mais a fundo Sara e aprendi com ela, o quanto à vida do ser humano não se resume somente numa dose de rum montilla ou nas abstrações e desejos da vida. A existência vai mais além do que se possa imaginar. Ela passa pelo amor de um homem e uma mulher, que por fim se concretiza na razão do nosso viver.

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