quinta-feira, 19 de junho de 2008

A imprensa como narradora dos fatos

Não é de hoje que se discute o papel social, político e econômico exercido pela imprensa e pelos jornalistas. Essas questões são relevantes e muito debatidas na sociedade ou nos meios acadêmicos. Coloca-se em pauta a importância dos acontecimentos e como são expostos através de pontos-de-vista, parciais ou imparciais, de quem as produz. Intrinsecamente articulada e articuladora com os meios políticos, a imprensa é o canal onde muitos fatos históricos são desenrolados e levados ao público. Sejam as massas ou as elites.
Tendo conhecimento disso, a historiadora Maria Helena Rolim Capelato, autora de “Imprensa e História do Brasil”, faz um panorama histórico e críticas sobre a influência e participação da imprensa em diversas situações que mudaram o rumo da história brasileira. Vista como uma “força política” a imprensa sempre foi usado por governos e poderosos que a temem, a vigiam, adulam ou a pune. Mas, também é fonte histórica, onde pesquisadores e historiadores buscam artifícios e fatos concretos para contar e analisar o passado. Essa fonte possibilita maior riqueza em detalhes, muito diferente do modo positivista de relatar a história, feita por documentos. Muitos pesquisadores e autores procuram compreender os pressupostos dos projetos políticos veiculados nos jornais e alguns escolhem a imprensa como fonte de investigação.
Mas, não é apenas na ajuda do relato histórico que a imprensa está presente. Ela participa ativamente na criação dos fatos e, principalmente, na maneira que lhe convém. Essa postura elucida o limite da objetividade, onde os interesses particulares são sobrepostos aos interesses comuns e coletivos. Capelato quebra o mito que a imprensa é o fiel da realidade para se questionar até onde se pode dar crédito a determinada notícia. Fatos que comprovem essa verdade não faltam. Um exemplo, segundo a autora, está no surgimento da ditadura militar, que se iniciou em 1964 no Brasil. A ditadura teve apoio de diversos veículos de comunicação, que eram contra o comunismo e viam no regime a forma de aniquilar a possibilidade de “serem expropriados de seus bens particulares”. Com base nisso, a reconstituição das lutas políticas e sociais através da imprensa tem sido o alvo de muitas pesquisas recentes. Nos vários tipos de periódicos se encontram projetos políticos e visões de mundo representativos de vários setores da sociedade.
Com o objetivo de mostrar a história presente e construir a verdade, muitos jornalistas se engajaram para mudar o rumo dos acontecimentos. Ruy Barbosa foi um deles. Criticavam a imprensa de seu tempo, que se “curvava e se vendia corruptamente” com falsos elogios aos governantes da época, ao invés de denunciar e vigiar seus atos. Ele é vista, no Brasil, como integrante do poder ou como o “quarto poder”, mas, prepotente e corrupto.
Concluí-se que o jornalista de hoje admite as limitações de seu ofício e reconhece a dimensão de seu papel, onde a reflexão pouco é questionada. Existem as interferências do poder político-ideológico e econômico sobre a imprensa, porém, seu conservadorismo ainda é muito grande, implicando na falta da crítica verdadeira. Porém, deve-se reconhecer que ela é indispensável em qualquer sociedade. A imprensa, em geral, serve para aproximar ou distanciar as pessoas. Permite que se participe dos governos e controla os governantes. Presta-se ao estabelecimento do controle político sobre os governados e é fundamental para o processo democrático. Necessariamente, isso não transforma a realidade, mas é base para qualquer reivindicação consciente de mudança.

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