segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015



Dito Campeiro viveu o período da geada negra e do bicudo no algodão e hoje, aos 76 anos se dedica a produção de queijo. 
 
Benedito Gonçalves Duque, o popular Dito Campeiro e a esposa Petronilia Filgueiras Duque, são remanescentes da época de ouro do Norte do Paraná e representam a identidade cultural da região, ao personificarem o homem do campo. Vindos da região de Juiz de Fora para a Água da Floresta, em 2 de fevereiro de 1959, a família arrentou terras para cultivar café.


Enquanto Benedito cultivava a terra, Petronilia tomou um caminho diferente ao se tornar professora das séries iniciais de 1963 até os dias atuais, sendo obrigada a se aposentar devido ter alcançado os 70 anos. Ela conta que o prefeito da época, Dionísio Stricker, não tinha quem lecionasse para as crianças na Seção Coqueiro e, por conta disto, se ofereceu para a função. No outro dia, 45 alunos estavam na sala de aula. Ela lecionou por dois anos. Após isto, foi para a Água da Floresta, onde atuou até 1993 e se aposentou. Porém, a Secretaria de Educação pediu que continuasse, pois era difícil enviar professores de Urai para a região rural. Com o desmanche da escola, em 2002, os alunos foram transferidos para área urbana e Petronilia foi deslocada para Serra Morena, onde trabalhou na creche até julho deste ano. “A mudança dos alunos para a escola da área urbana ocorreu devido à diminuição da população rural. De um lado, na cidade há mais recursos, como informática e teatro. Mas, vemos problemas por dependerem do ônibus, que estraga com frequência, principalmente em dias de chuva, gerando faltas.


Com experiência no café e algodão, Dito Campeiro cita que as culturas foram extintas por conta de doenças e clima. “O café foi afetado pela ferrugem e a geada negra em 1975. Lembro como se fosse ontem o famigerado 18 de julho. Havia chovido e ao vender café e comprar sacos para armazená-lo, o comprador orientou para não ensacar o produto devido à umidade. Ao voltar para a propriedade, também ouvi o rádio dizer para não vender o café. Acreditava-se que preço e lucro iriam aumentar. Porém, devido a forte geada da noite, a lavoura amanheceu branca. O preço do café estabilizou e quem devia no banco amargou prejuízos, pela aumento dos juros. Abandonou-se o café e se iniciou o plantio do algodão, cultura que ajudou muitos a retomarem os negócios”, afirma Dito Campeiro. Tamanha era a quantidade plantada, que o algodão competia com plantações mais simples, como a abóbora.


Com a disseminação da cultura, vieram novas pragas e doenças, como o ácaro, a ferrugem e o bicudo, este último, arrasou plantações. “Plantava-se o algodão. Ele crescia e ficava bonito, mas devido o bicudo, caia. Não havia veneno para combater a praga. Muitos tiveram prejuízos e a soja foi a solução a quem persistiu ficar no campo. Os primeiros trabalhos eram manuais, desde o plantio, colheita e preparo para venda. Tamanha foi a evolução da soja, que ela predomina na região”, recorda Dito Capeiro.

Como muitos que vieram em busca de terras no Norte do Paraná, ele viu diversas transformações, de 1959 a 2014, como a evolução das máquinas, o ciclo do café, algodão e da soja, além de ver produtores de café e algodão perderem dinheiro. Vivenciou Assai como a Capital do Algodão e Londrina a Capital do Café.

Mantendo a rotina, todos os dias acorda às cinco e meia da manhã para retirar leite das vacas que cria. Produto que não é comercializado, mas usado na produção de queijo. “Possuía uma linha de leite e o recolhia nas propriedades da região, com uma caminhonete e entregava no antigo laticínio Estrela, em Ibiporã, cerca de 2500 litros de leite por dia”, afirma.


Além de vacas, ele cria bois, galinhas e porcos, além de ser aposentado e ter dois fuscas, um 1973 e outro 1994, no qual utiliza para ir à missa na Água do Coqueiro. “Com o declínio da agricultura manual, aliado ao êxodo rural, as famílias foram para a cidade. Sou um dos últimos remanescentes. A região era povoada e havia comércios e igrejas, além de famílias que cultivavam, como proprietários ou arrendatários, propriedade de dois a três alqueires. Quem tinha 10 alqueires possuía muita terra. A geada negra tirou muitos do campo e os empurrou para novas fronteiras agrícolas, como oeste do Paraná, Mato Grosso, Paraguai e Rondônia. Os que tinham recursos ficaram e migraram para o algodão”, finaliza.

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