sábado, 15 de agosto de 2009

Hearst difundiu a percepção de ter levado os Estados Unidos à guerra por meio de seus jornais. Gastara milhões de dólares, proporcionados pelas minas de ouro e prata. Mas, como tinha calculado, ele se consolidou como a maior força jornalística de Nova York e em pouco tempo seria também a maior do país. Pulitzer reconheceu as qualidades de seu jovem rival. Disse que ele tinha "talento e gênio além de qualquer dúvida, talento não só para as notícias e reportagens como também gênio sem paralelo na autopromoção de seus atos".

Consciente de seu poder e de sua popularidade entre as pessoas de origem humilde, decidiu entrar na política. Foi eleito deputado e, depois de brigar com a corrupta máquina do partido democrata de Nova York, conhecida como Tammany Hall, Hearst fundou um novo partido e, para desespero dos conservadores, em 1905 se lançou candidato a prefeito da cidade. Aplicou na campanha os mesmos métodos e a mesma imaginação com que promovia seus jornais. No dia da eleição, os fiscais de Hearst foram agredidos, muitas urnas foram parar no rio Hudson e outras extraviadas. É quase certo que ele ganhou a eleição, mas, pelo resultado oficial, perdeu por 3,5 mil votos num total de 600 mil Os relatos da época, mesmo dos jornais concorrentes, são unânimes em dizer que os votos foram manipulados. Mas o resultado trouxe alívio à alta sociedade novaiorquina, temerosa do radicalismo do traidor de sua classe. Hearst foi de novo às urnas, ao candidatar-se a governador, contra a "cobiça da plutocracia", defendendo a jornada de oito horas, tarifas ferroviárias menores, eleições diretas para o Senado, controle dos monopólios, pensões para os professores primários. Nova derrota, por 58 mil votos de quase 1,5 milhão. E, numa tentativa sem nenhuma possibilidade, aspirou à Presidência da República. Finalmente, desistiu da vida política.

Superando o fracasso eleitoral, ele lançou jornais por todo o país, fundou revistas, agências de notícias, produtoras de cinema. Transformou-se num dos homens mais ricos dos Estados Unidos. Pessoalmente, era tímido e educado, de reações imprevisíveis, com uma compulsão para comprar. Foi um acumulador, mais do que um colecionador, de obras e objetos de arte. Comprava continuamente e sem saber o que iria fazer depois. Chegou a adquirir um claustro do século X na província de Segóvia, na Espanha. Foi desmontado pedra a pedra e embalado em 10,7 mil caixas de madeira; para transportá-lo, foi construído um ramal de 30 quilômetros até a ferrovia principal. Não satisfeito com o claustro, anos depois comprou o mosteiro do século XII de Santa María de Ovila, perto de Siguenza, também na Espanha. Foi desmontado, cada pedra marcada e, apesar da revolta dos aldeões locais, transportado por mulas e bois até uma ferrovia de bitola estreita e depois até o porto onde onze navios levaram a carga a São Francisco.

O claustro foi reconstruído na Flórida, em Miami Beach, e serve de atração aos turistas. O mosteiro de Santa María de Ovila, que fora um dos orgulhos dos monges da ordem cisterciense, é hoje um amontoado de pedras esquecidas em algum lugar da Califórnia.

Importar claustros e mosteiros não foi a maior extravagância arquitetônica de Hearst, feito reservado à construção do castelo de San Simeón, numa área de 160 km2 na Califórnia, entre Los Angeles e São Francisco, que demorou várias décadas e custou dezenas de milhões de dólares. Foi inspirado inicialmente na arquitetura renascentista do Sul da Espanha, mas foram tantas as ampliações e modificações, feitas ao sabor de suas ideias, sonhos, lembranças de castelos e catedrais que tinha visto na Europa, que a obra final é um mosaico, um pastiche de estilos arquitetônicos acumulados ao longo dos anos, que revela a complexa personalidade de seu construtor. Por doação de seus herdeiros, o castelo de San Simeón, conhecido como Hearst Castle, hoje pertence ao Patrimônio Histórico (U. S. National Historic Landmark).

Durante a I Guerra, Hearst, isolacionista convicto, se opôs à entrada dos Estados Unidos no conflito e fez um grande esforço, com um elevado custo financeiro, para publicar informações dos dois lados da contenda. Seu isolacionismo o levou a questionar o esforço do Ocidente para derrubar o incipiente regime bolchevique na Rússia: "O povo russo se livrou do jugo dos czares e da nobreza corrupta e estabeleceu uma democracia - não perfeita, mas uma forma de governo democrático que pode evoluir dia a dia para uma democracia melhor". Também protestou contra o envio de "rapazes americanos às neves da Sibéria (,,,) para restabelecer uma autocracia dos czares despóticos, de nobres corruptos e sem consciência e de cossacos cruéis".

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