domingo, 4 de janeiro de 2009

Dimensão Política de Paulo Freire

Como se torna claro, Freire considera crucial que o princípio filosófico do diálogo, no nível do ato de conhecer, seja realizado no plano social. Ele insiste que ‘o verdadeiro Ato de conhecer é sempre um ato de engajamento’. Em seguida, sugere que a comunicação/diálogo não apenas supõe co-participação e reciprocidade, mas acima de tudo constitui um processo significativo que é compartilhado por Sujeitos iguais entre si numa relação também de igualdade. A comunicação deve ser vivida pelos seres humanos como sua vocação humana. Em outras palavras, a comunicação deve ser vivida em sua dimensão política.
Sua mais candente defesa da dimensão política da comunicação, porém é feita na Pedagogia do Oprimido, no contexto que denomina de ação cultural-revolucionária. A comunicação é definida como sendo um “encontro entre homens, mediados, pela palavra, a fim de dar nome ao mundo”. Freire introduz a idéia de “dizer a palavra verdadeira” ou “dar nome ao mundo” enquanto dimensão política especifica do diálogo “.
Ao analisar o dialogo como fenômeno humano, a palavra surge como “essência do próprio diálogo”, porém o sustenta. A palavra é algo mais que um instrumento que torna possível o diálogo. Buscando os elementos constituídos de uma palavra, Freire encontra duas dimensões – a reflexão e a ação – “numa interação tão profunda que se uma é sacrificada, ainda que em parte, a outra sofre imediatamente”. As conseqüências são, então, ou o verbalismo – o sacrifício da ação – ou o ativismo – o sacrifício da reflexão. Freire prossegue afirmando que “não há palavra verdadeira que não seja ao mesmo tempo práxis. Assim, dizer a palavra verdadeira é transformar o mundo”.


Comunicação Dialógica (Interativa)

Pode-se retomar agora a questão inicialmente proposta: “Qual a contribuição que as idéias de Paulo Freire podem trazer na nova configuração do campo intelectual das comunicações, 30 anos depois de formuladas?”.
O conceito de comunicação foi discutido em duas dimensões:

- Primeiro: Visão da natureza humana – O homem em sua relação com o mundo enquanto Sujeito e em sua relação com os outros homens em comunicação. A comunicação surge então como “a realidade existencial e ontológica na qual o ego é criado e através da qual satisfaz e autentica a si mesmo”. O ser humano é uma “criatura essencialmente comunicativa”.

- Segundo: A forma que Freire vincula o principio filosófico de diálogo – extraído da discussão de Eduardo Nicol sobre os elementos constitutivos do ato de conhecer tanto a natureza relacional como ao compromisso político. A comunicação é definida como uma relaçao social transformadora.

Portanto, o que torna a contribuição de Paulo Freire singular e original é exatamente ele ter ido à raiz conceitual da noção de comunicação e nela incluído a dimensão política da igualdade, de ausência da relação desigual de poder e dominação. Comunicação implica num diálogo entre Sujeitos mediado pelo objeto de conhecimento que por sua vez decorre da experiência e do trabalho cotidiano. Ao limitar a comunicação a uma relação entre Sujeitos, necessariamente iguais, toda “relação de poder” fica excluída. O próprio conhecimento gerado pelo dialogo comunicativo só será verdadeiro e autentico quando comprometido com a justiça e a transformação social. Fora dessas premissas não haverá comunicação e não se produzirá cultura.
No momento em que as potencialidades das tecnologias interativas acenam para a quebra da unidirecionalidade e da centralização das comunicações, o conceito de comunicação dialógica, relacional e transformadora de Freire oferece uma referencia normativa revitalizada, criativa e desafiadora para todos aqueles que acreditam na prevalência de um modelo social comunicativo humano e libertador.

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