terça-feira, 22 de julho de 2008

O mototaxi - Parte II

O bairro era distante e Marcus acelerava para chegar ao destino. Conhecia aquela rota e sabia que todo cuidado era pouco para que algo de ruim não acontecesse. Nos primeiros quilômetros e apesar da chuva, a velocidade passava dos 80 quilômetros e o passageiro, que agora não demonstrava nenhum comportamento suspeito, abraçou Marcus com a mão esquerda e com a direita encostou algo em suas costas. Era um revólver calibre 38 de cano longo. Assustado e prevendo o que se tratava Marcus não motivou nenhuma reação que pudesse dar fim a sua vida. O ladrão então deu a voz de assalto e disse se houvesse reação, acabaria com sua vida naquele instante. Marcus ficou quieto e parou a moto no meio da chuva, próximo a uma plantação de soja. Passado a tensão inicial e com uma arma apontada para sua cabeça, Marcus nota a aproximação de um farol. Imaginou ser uma ajuda e que estaria salvo. Levo engano. Do outro lado vinham os comparsas do bandido que o fazia passar por horrores. Permaneceu quieto e os marginais se aproximaram em outra moto. Os faróis altos indicavam para ele não olhar em seus rostos. Essa foi à ordem dada pelo bandido que apontava uma arma para sua cabeça. Chegaram afirmando que aquilo era um assalto e que não era para ele se preocupar. Queriam a moto para praticar assaltos a estabelecimento comerciais, postos de combustíveis, lojas de conveniências e farmácias que estivessem abertos naquele horário. Sem esboçar reação e o rosto abaixado para não ver a face dos algozes, Marcus ficou quieto e em pensamentos rezou para que os bandidos só estivessem interessados na moto.
Sem reação da vítima, os bandidos pilharam Marcus para que entregasse o dinheiro que tinha. Mas, por medida cautelar e de segurança, ele não andava com mais de 20 reais para troco. Deixava o resto guardado na central. Ficou com medo de estar com os bolsos vazios e ser morto. Não pensava em nada. Queria o fim do sofrimento, que os ladrões levassem sua moto, pertences como relógio e celular e a pequena quantia de dinheiro que tinha. Podiam levar tudo desde que não tirassem sua vida.
O momento angustiante fez que poucos minutos se tornassem em eternidade. Cenas de sua vida passavam-se em sua cabeça. Via sua família e rezava para sair daquela fria. Jamais se arriscou tanto para ganhar tão pouco dinheiro. O medo, o pavor e o horror tomavam conta do seu corpo. Não havia como recuar naquele momento. Entregou tudo na mão de Deus e rezou mais uma vez para que tivessem compaixão de sua vida.
- Vamos lá, vamos lá, compadre. Dá logo a chave da moto e todo o dinheiro. Também quero o relógio, o celular e os documentos da moto.
Pronto. O grito do ladrão tirou Marcus dum transe profundo. Sem pestanejar colocou tudo no banco da moto e virou-se de costas para não reconhecer os assaltantes. Colocou as mãos na cabeça e nem se lembrou que a moto foi tirada há pouco tempo e ainda tinha várias parcelas para serem pagas.
Desconfiados que Marcus chamasse a polícia, os bandidos covardes o fizeram tirar as roupas, amarraram as mãos e os pés e o jogaram na plantação de soja. Esse cuidado foi necessário parar gerar mais tempo na execução das ações criminosas.
Para Marcus foram horas angustiantes e dramáticas debaixo duma forte chuva. Seu martírio terminou em torno das seis horas, quando um senhor que passava de bicicleta, próximo à plantação de soja, notou uma diferença na coloração verde. Curioso, foi até Marcus, ajudou-o a libertar-se e chamaram a Polícia, que compareceu ao local e o levou até a Delegacia para prestar queixa. Na Delegacia, a primeira atitude foi ligar na central, dizer o acontecido e pedir a um colega para lhe buscar. Seu sofrimento, apesar da perca da moto, terminou. Com a chegada do amigo, explicou a situação e contou detalhes da noite de horror. O delegado de plantão, disse que as viaturas anotaram a placa da moto e qualquer movimento ou moto suspeita com as características seria abordada para averiguação detalhada. Os bandidos saíram em disparada, inebriantes e austeros com o sucesso e a façanha do crime. No entanto, não lhes cabiam um desfecho tão emocionante quanto o reservado aos bandidos do cinema. Após a prática do assalto e mesmo chovendo muito forte, eles saíram em alta velocidade pelas avenidas e estabelecimentos comerciais abertos, a fim de cometerem mais assaltos. O mototaxista que estava deitado na soja, só podia escutar de longe o barulho do motor de sua moto.
Bem de manhãzinha, após passar a noite acordado e com uma terrível dor nas costas por ficar deitado no banco da delegacia, Marcus é informado que um suspeito foi preso em flagrante, do outro lado da cidade com sua moto. Estava um pouco danificada devido a uma queda na perseguição. Os policiais que efetuaram a prisão e o recolheram no distrito, disseram que o marginal, junto com dois suspeitos, renderam o atendente dum posto de combustíveis e iniciaram um violento assalto ao caixa. Após a ação, a PM foi acionada, localizou os três, fez acompanhamento tático e perseguição. Depois de alguns minutos e iniciado um tiroteio, o marginal que estava na moto de Marcus levou um tiro e, ferido pelo disparo, não teve condições de empreender fuga e caiu no chão, para logo ser aprendido. Os outros dois bandidos se evadiram sem deixar pistas. Levado para a enfermaria da delegacia, o bandido foi imediatamente reconhecido pelo frentista e por Marcus. Naquela noite, o mesmo bandido assaltou um coletivo, a moto de Marcus e o posto de combustíveis. Todos os assaltos à mão armada. Machucado pela queda e com uma bala nas costas, o preso foi encaminhado ao hospital e depois para o distrito policial, onde esperaria o processo pelas atrocidades cometidas. Marcus recuperou sua moto e até hoje agradece a Deus por estar vivo. Sempre que faz uma corrida, toma cuidado e presta atenção para que o sofrimento daquela noite chuvosa não se repita nunca mais.

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