quarta-feira, 23 de julho de 2008

Mototaxi - Parte I

Há tempos atrás, quem quisesse locomover-se durante a noite, comparecer a compromissos com urgência e não tinha condução própria, tinha que adiar ou chamar um táxi. Pensando nisso, motoqueiros se reuniram e criaram uma nova profissão, rendosa, mas perigosa: o mototaxi. O serviço funciona da seguinte maneira: o motoqueiro fica numa central com telefone fixo ou celular e o cliente liga pedindo corrida, com variação de preços dependendo o lugar solicitado. Quando surgiu teve muitas reclamações de taxistas devido à concorrência desproporcional. O valor cobrado pelo mototaxi é quase 70% mais barato. Mas não creia que as reclamações ficavam só nisso. Alguns passageiros alegam que apesar de barato e rápido, oferece pouca segurança e exposição a acidentes. A última reclamação é o uso do capacete coletivo, que segundo a Vigilância Sanitária, dissemina doenças pela falta de higienização. Os fatos citados mostram que controvérsias e discussões sobre o mototaxi foram refletidos em jornais, debates televisivos e alvo de pendengas judiciais que impediram o serviço por longo tempo. Causou revolta da classe, que se organizou em grupos e sindicatos que representam e defendem os interesses. Organizados, fizeram carreatas e buzinaços para a profissão ser regulamentada. Após debates entre a classe, sociedade, imprensa, meios jurídicos e políticos, o mototaxista foi reconhecido e regularizado pela lei. Hoje, pipocam aos montes em diversas cidades do país. Foi num pontos desses, criado, regularizado e funcionando conforme a lei, que atuava Marcus, um rapaz de 28 anos, que pagava as parcelas da moto financiada em 36 vezes. Havia pagado até aquele dia cinco parcelas. Marcus tinha muitas dificuldades, como chuva, frio, noites mal dormidas e perigo iminente de assalto. Tirava em torno de 50 reais por dia. Nos finais de semana e à noite, o lucro era maior, chegando à casa dos 80 reais. Deste montante, pagava 10% de comissão ao dono da central, gastava em torno de 20 reais com gasolina e o resto guardava para saldar dívidas da moto e manter sua família. O trabalho era honesto, mas não tão bem remunerado devido a noites mal dormidas e a periculosidade de perigos letais como ser vítima de assalto ou na pior das hipóteses ser alvo de um latrocínio. Nas noites chuvosas, as corridas diminuem drasticamente devido os passageiros não se exporem à chuva ou medo de acidentes. Nestas noites os assaltos aumentam ainda mais. A chuva batia com intensidade no telhado, quando chega ao ponto 1048, o mesmo onde Marcus trabalhava com a moto 15.509, um sujeito que pergunta o valor da corrida. O rapaz era saudável e aparentava 22 anos. Era alto, magro, branco com os olhos claros, usava jeans, camiseta azul clara e jaqueta preta. Marcus percebendo a entrada do estranho assustou-se com a visão devido ser mais duas horas. Ele se aproxima e Marcus não mostra reação. Chega mais perto da luz e é possível ver seu rosto com mais detalhes e intensidade. Com a voz rouca, pergunta o preço da corrida até determinado bairro. Apesar do horário, viu que o rapaz não estava mal intencionado e com um sorriso nos lábios, diz que a corrida sairia por 10 reais devido à distância e a chuva torrencial, aquele dia parecia que caia um dilúvio. O jovem retribuiu o sorriso e disse que voltava do trabalho, perdeu o ônibus e tinha que acordar de manhã. Barganhou um preço mais baixo. Marcus disse que não. O sujeito então colocou a mão direita para trás e sacou do bolso a carteira. Eram duas notas de cinco reais. O mototaxista perguntou o endereço, o caminho mais rápido e seguro. Entregou o capacete e uma capa para se proteger da chuva. Vestiu sua capa e o rapaz subiu na moto.
- Esta corrida vai ser difícil. A chuva está muito forte. Disse Marcus. Naquele momento, não sabia que sofreria a pior histórias da sua vida, que nunca mais gostaria de lembrar.

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