segunda-feira, 3 de maio de 2010

2 – O Valor Econômico

Quando se apresentou ao público pela primeira vez, em 2 de maio do ano 2000, o Valor Econômico resolveu explicitar aos leitores quais princípios deveriam guiar seu comportamento editorial. Voltado para as classes sociais de maior poder aquisitivo, o Valor “oferece um panorama abrangente e confiável do que ocorre na esfera produtiva, capaz de auxiliar a tomada de decisões pelos agentes econômicos”. Algo indispensável para as camadas sociais que detêm e exploram os meios de produção capitalista, mas dispensável para os que não têm condições financeiras e possibilidades de construir algo voltado para o capital. Criado pelo Grupo Folha e pela Infoglobo, que dividem igualmente o seu controle acionário e que são as empresas que mais detêm e controlam os meios de comunicação brasileiro, o Valor mostra que pode ser indutivo e movido pelos dois grupos e ser intermediador dos interesses das empresas, a qual o grupo mantêm contratos de publicidade. Voltado a elite econômica, e ao público mais amplo interessado em economia e negócios, o Valor Econômico contribui para a manutenção da ordem capitalista ao criar artifícios para que a elite econômica possa se sobressair, aumentar seus rendimentos e o lucro. Devido a quantidade impressionante de notícias exclusivas ou dadas em primeira mão a respeito de negócios ou de política econômica, o Valor Econômico mostra seu potencial e poder econômico ao colocar vários repórteres em locais de extrema importância na busca da notícia. Devido a sua influência, ele pode estar mais ligado e influenciar diversos assuntos, sejam eles voltados a economia ou política. Esta influência pode ser negativa, caso o jornal comece a interferir nos assuntos ligados a população mais pobre, que se sente desprotegida diante de uma ação do jornal. Ao publicar análises originais, profundas e plurais de analistas de peso e respeito público, como as do deputado paulista Delfim Neto (PP-SP), o Valor Econômico cria artifícios para que pessoas diretamente ligadas à política e que possam defender interesses escusos, possam ter mais influência e defender interesses de origem duvidosa. São estas mesmas pessoas que podem omitir, não divulgar e denunciar a injustiça, a corrupção e a incompetência no trato dos assuntos públicos, em benefício próprio ou corporativista. No seu primeiro editorial, em 2 de maio, do ano 2000, o jornal disse que defenderia “com vigor o desenvolvimento do mercado de capitais”. Tanto tem feito isso, em suas páginas, ao defender e publicar matérias a respeito dos possíveis “benefícios” que as privatizações podem trazer ao nosso Estado. Não é preciso ser nenhum exper., para saber que são as privatizações que desmontam o aparelho estatal que serve de auxílio ao povo e que os beneficiam ao cobrar taxas baixas. Com as privatizações o bem público é dilapidado em benefício de uma elite capitalista que não está interessada no bem estar social, mas somente na exacerbação injusta de seus lucros e o crescimento de seu patrimônio. Nem que para isso os mais pobres padeçam e fiquem miseráveis. Esta contradição é vista, quando o jornal diz que têm o “compromisso de ajudar a promover o desenvolvimento social e combater injustiças”, mas prega a prática irresponsável do lucro e do capitalismo com as privatizações. O objetivo de “sempre valorizar a figura do empreendedor” é algo a ser colocado em dúvida. Não para desmerecer o Valor Econômico, mas o questionamento se refere a forma e, qual empreendedor é valorizado. Voltado aos grandes empresários, banqueiros e industriais, o Valor Econômico pode se esquecer e não dar a devida atenção ao médio e pequeno empresário, que são as pessoas que mais contratam e acabam deslocados e ficando sem a promoção da mídia, devido a não participarem da grupo seleto a que chamamos de elite. A comprovação da idéia acima está no “Anuário 1000 Empresas de Valor”, que como o nome já diz, dá destaque somente as 1000 maiores empresas. O Valor Econômico esquece que o nosso mercado é maior e mais abrangente, pois classifica e dá visibilidade somente para as vendas das 1000 maiores empresas que atuam no país; os 50 maiores bancos; as 100 maiores seguradoras; e as companhias que mais se destacarem em 27 setores de atividades. A promoção, associação e a valorização das entidades são vistas quando o Valor Econômico cria a parceria com a Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas. A Escola, ao orientar e escolher as “maiores”, mostra que ter poder decisão direto sobre as escolhas a serem tomadas pelo jornal e mudar o pensamento de seus leitores. Declarando-se apartidário, desatrelado de governos, grupos econômicos, facções políticas, candidaturas e mantendo suas páginas abertas a representantes de diversas tendências ideológicas e políticas, o Valor Econômico pode entrar em contradição ao afirmar as idéias acima e ser elitizado e voltado as classes sociais mais abastadas e dar pouca importância para os acontecimentos que mais podem beneficiar as camadas mais populares. Ou então piorar a situação, ao omitir ou não publicar em suas páginas, algo que realmente interesse ou que beneficie os mais pobres, como a diminuição dos preços ou a quebra de um cartel. O Valor Econômico, ao ser uma empresa produtora de informações econômicas em todos os formatos e em todas as mídias, influência diretamente os que querem investir seus capitais, seja na indústria, agropecuária ou em finanças. Acima de tudo, produz notícias relevantes, antecipa negócios e aponta direções e tendências na política e no comportamento econômicos do país. Por isso, deve-se tomar cuidado, devido a tamanha interferência. Não se sabe se pode ser positiva ou negativa, mas entende-se que para o jornalismo isso não é benéfico, pois cria a sensação de que existe um quarto poder e que ele está aí para nos guiar, independente de qual seja a lógica ou os interesses. Há ainda nessas palavras, a possibilidade de inserção, nem que seja de forma sutil, a manipulação das informações em benefício do privado. Apesar de toda à crítica feita ao Valor Econômico, deve-se reconhecer que o jornal participa ativamente da política brasileira e desempenha o papel de fiscalizador das esferas públicas do poder. Além disso é um jornal bem desenhado, com um projeto gráfico bem elaborado. No entanto, o Valor Econômico, ao trazer um noticiário financeiro ‘hard’ e ser algo diferenciado, poderia ter mais responsabilidade social junto ao que publica e dar mais vazão para que as classes sociais mais pobres não fossem tão exploradas e exprobradas como são.

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