sábado, 1 de dezembro de 2007

O galo - Parte I


José Alves Camargo de Pompeu, conhecido como Zé Pompeu, era um sujeito muito pobre que vivia de pequenos biscates. Sua vida sempre foi assim e sua mulher reclamava muito de que ele nunca trazia o suficiente para dentro de casa. Devia arrumar um emprego fixo. Apesar das dificuldades, não era preguiçoso e ia muito à igreja pedir a Deus que o ajudasse a arrumar um bom emprego que garantisse o sustento da esposa. Para ele, Matilde era a pessoa mais importante do mundo. Ele a conhecera no salão de beleza que ele freqüentava. Namoraram três anos e há cinco estão casados.
Pompeu achava a vida ingrata por não lhe ter dado condições para sustentar a família. Matutava uma maneira de conseguir dinheiro suficiente para tirá-los do aperto, comprar móveis novos e montar um salão para Matilde, que até hoje trabalha no mesmo lugar.
Os dias passavam e Pompeu nada conseguia, além de serviços que lhe rendiam o suficiente para uma semana. Ainda assim, sonhava em comprar um carro novo ou roupas no shopping para Matilde. Queria dar luxo e conforto à sua companheira e, por não conseguir, achava-se um fracassado. Em seus devaneios, acreditava que poderia melhorar sua condição humana.
Numa noite, sonhou com o capeta. Ele era muito feio e tinha o rosto desfigurado. Estava envolto numa capa preta, cheirava a enxofre e tinha dois chifres que pareciam cornos de zebu. O demo, que um bafo forte, fez a seguinte proposta para o coitado:
- Pompeu, se você quiser ser um cara rico, faça um pacto comigo. Vá de preto à feira de domingo e arrume, para mim, um galo e uma galinha preta que ponha ovos marrons e choque cinco pintos. Depois, pegue a galinha, corte o pescoço e beba seu sangue comigo. Depene a danada e a coloque numa encruzilhada com um maço de velas pretas, uma garrafa de pinga, pipoca, um maço de cigarros e carne de rabanada. Quando fizer isso, abrirei todas as portas e caminhos. Você ganhará muito dinheiro e terá tudo que quiser. Mas não se esqueça, se voltar atrás, algo de ruim o atormentará para sempre. Sua vida será um purgatório e quando morrer, queimarás no fogo do inferno. E aí, aceita o pacto comigo?
Pompeu, ensopado em suor, acordou estupefato às três horas da manhã. Matilde perguntou o que havia acontecido e ele respondeu que teve um pesadelo. No outro dia, numa sexta-feira, ela foi para o salão e Pompeu ligou para um amigo, o Jeca Marica, dono de uma chácara, e lhe perguntou se ele tinha um galo e uma galinha preta. Marica riu e perguntou se Pompeu queria fazer despacho ou macumba. Enrubescido, disse que ia satisfazer a vontade da mulher, que estava com desejos de comer frango com polenta. Esclarecido o mistério, o amigo pediu para Pompeu se dirigir a chácara para escolher as aves. Antes de sair, pensou se isso era certo e imaginou se tudo aquilo não passava de alucinação os devaneios.
- Será que a cobiça e a ganância levam o homem a fazer pactos e ficar frente-a-frente com seus piores inimigos?, pensou.

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