terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Com 79 anos, Nelson Ferreira recorda que “roubou” a esposa Lourdes Ferreira.


Vindo de Cornélio Procópio em meados de 1944, aos cinco anos de idade Nelson Ferreira (79) teve seu primeiro emprego como entregador de leite. “Eram 90 litros por dia, onde o retireiro da Chácara Beltrão colocava as sacolas com as garrafas para mim no cavalo. Como o pagamento da mercadoria era mensal, deixava o litro na casa do cliente e recolhia o casco vazio. Nos primeiros dias, como não conhecia a rota, automaticamente o cavalo parava em frente as casas, demonstrando que era adestrado”, recorda. Com o passar do tempo, ele observou que deveria ter uma profissão. Assim, começou no ramo de serraria na fábrica de carrocerias do Antônio Calsavara, onde aprendeu a fazer, além das carrocerias, rodas de carroça e longarinas para caminhões.                                                                                                               
Tocador de vários instrumentos, aos 14 anos ele conheceu a esposa Lourdes Daniel Ferreira num baile onde tocava sanfona. No inicio eram apenas amigos, mas com o tempo se apaixonaram e decidiram namoram. No entanto o pai de Lourdes, Salvador San Daniel, era contra o relacionamento. “O Salvador era muito bravo. Além de fazendeiro era inspetor de quarteirão, uma espécie de delegado na época. Como não havia consentimento fugimos de Sertanópolis, da Água do Tigre, para a Ibiporã, onde morava minha família. Eu tinha 17 anos e ela 14. Com o passar do tempo ela entrou em depressão e todos os dias chorava com saudades da família. Até que num determinado sábado, após chegar do trabalho, resolvemos ir à casa de seus pais. Fomos de ônibus e ainda andamos mais dois quilômetros na estrada de terra para chegar à propriedade. Ao chegarmos sua mãe começou a chorar e ela entrou na casa. Em todo o momento fiquei do lado de fora e como já era tarde, dormi na casa de meus familiares que moravam próximos. No outro dia, pela manhã, meu cunhado me chamou para almoçar e ao chegar à família estava reunida. Salvador Daniel, que estava na cabeceira da mesa armado com um revólver, me fez sentar-se ao seu lado. A minha reação foi a seguinte: caso haja ameaça, tomo o revólver de sua mão e saio correndo. Mas, com o fim do almoço ele pediu para todos saírem e disse: - Você sabe que não gostava de você e não queria o casamento, mas agora queira ou não você é meu genro. Ao menos uma vez por mês você trará a minha filha para ver a mãe. Nossa amizade foi tamanha, que na sua velhice ele vendeu suas propriedades, dividiu o dinheiro para os filhos e veio morar conosco”, recorda.                                       
Com a aceitação do casamento, Nelson Ferreira foi trabalhar na Serraria São Lourenço em Londrina. Nesta época ele conheceu Denir Machado de Bela Vista do Paraiso, que fez várias encomendas de carrocerias para caminhões Dodge, De Soto e Fago. “O trabalho demorava o dia todo e ele aguardou vendo meu trabalho. Disse que serrava manualmente cerca de 12 metros cúbicos de madeira por dia. Ele afirmou que tinha uma serra melhor, mas que cortava apenas três metros cúbicos por dia. Assim ele me convidou para ir a sua serraria em Bela Vista do Paraiso. Propus-me a ir de bicicleta, mas como era longe ele pagou a passagem de ônibus. Na serraria observei que havia muitos erros e devido a isto a produção era pequena. Com os acertos e vendo que melhorei a qualidade e quantidade do corte de madeiras ele me fez uma proposta de trabalho: 20 contos por mês, mais casa, água, lenha e luz. Na época ganhava 15 contos, não era registrado e não recebia horas extras. Pensei muito e fiquei de dar uma resposta posteriormente. Assim, comuniquei a proposta ao meu patrão e de forma irônica disse que era para ter aceitado. Na mesma hora pedi demissão e peguei minhas ferramentas”, afirma.                         
Após um período em Bela Vista do Paraíso ele voltou para Londrina e trabalhou na fábrica de móveis Tupi por três anos. No entanto observava que mesmo com 35 anos de idade não tinha grandes aumentos de salário, mal tirava férias e ainda andava de bicicleta. Com toda esta situação resolver trabalhar por conta. “Arrendei uma oficina em meados de 1960 e estabeleci a Madeireira Mauá, onde tinha em minha clientela muitos fazendeiros que traziam caminhões cheios de toras”, recorda. Hoje, com 79 anos, ele esbanja saúde e ainda recebe muitas propostas de trabalho, o qual recusa todas. “A serraria tornou-se um hobby devido à idade”, pontua Nelson, que é músico e toca vários instrumentos na igreja, como acordon, guitarra e cavaquinho.





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