Nos últimos anos, paralelamente ao surgimento da novas mídia e das tecnologias interativas, ressurge a discussão sobre uma “inacabada” revolução das comunicações. Se considerarmos que a primeira foi um evento predominantemente prático e mecânico que produziu o telefone, rádio e a impressora gigante: a segunda foi de natureza tanto teórica como pratica, com a introdução da cibernética e das técnicas de motivação de massa; a terceira – a “revolução digital” - está diluindo as diferenças entre as telecomunicações, os mass média e a informática; a mais nova e ao mesmo tempo a mais antiga revolução, porque permanente, refere-se à redescoberta da comunicação humana como dialogo em oposição à comunicação como monólogo, identificada com a manipulação e a persuasão.
É possível argumentar todavia, que a auspiciosa redescoberta da comunicação como dialogo nestes tempos de globalização sofre de uma limitação séria: uma comunidade ideal de iguais é constituída em substituição ao mundo real de relações sociais conflitantes, denominação política e desigualdades crescentes. Pode se considerar o dialogo como um contexto abstrato e a comunicação como que pairando acima das relações sociais de poder e das distorções historicamente provocadas pelos sistemas de dominação.
Dois teóricos que, embora oriundos de práticas diferentes – religiosa e educacional –se aprofundaram no tema do diálogo são Martin Buber e Paulo Freire. É para eles, entre puros entusiastas da comunicação dialógica, que alguns estudiosos tem se voltado
Existe uma questão decisiva sobre Buber e a visão dialógica da qual ele se constitui em principal paradigma: é a sua ambigüidade política – a bidirecionalidade radical de Buber está expressa como uma alternativa renovadora, mas sua sensibilidade política parece adormecida ou até mesmo inexistente.
Freire baseia-se inteiramente na comunicação como diálogo. Ele aceita seus pressupostos básicos: o amor como fundamento, a auto-suficiência como tabu, a confiança recíproca como “bem supremo” e o homem como ser de relação a priori. O próprio Freire referencia o Eu e Tu de Buber quando discute a “co-laboração entre sujeitos” em sua “teoria da ação dialógica”.
Freire busca estabelecer o diálogo como centro do processo de libertação humana. Ele é um claro exemplo de como o compromisso e o engajamento religioso influencia profundamente a teorização e a atividade de uma pessoa.
Diálogo entre antagonistas
O primeiro paradoxo envolve a impossibilidade do diálogo entre antagonistas. Freire coloca uma grandiosa tarefa: a dos oprimidos libertarem ao mesmo tempo a si mesmos e a seus opressores. Ele insiste que o diálogo não é possível entre oprimidos e opressores, isto é, entre os que desejam dar nome ao mundo e as coisas e os que impedem o processo de nomeação.
Segundo Freire, “não é possível o diálogo entre os que querem a pronúncia do mundo e os que não a querem; entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os que se acham negados deste direito”
Como é então possível que os oprimidos libertem os opressores, se eles não estabelecem o diálogo uns com os outros? Se o diálogo só pode ocorrer entre não opressores (oprimidos e “oprimidos convertidos), o que deverá ocorrer com os opressores ? O diálogo não é uma condição humana e universal ?
É necessário observar que a analise de Freire é, na realidade, feita em dois níveis distintos: o nível dos “indivíduos” (opressores) e o nível da classe social (opressora).
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