domingo, 20 de novembro de 2016

Por uma adversidade, Zé Brás criou sozinho quatro filhos


A história de José Resende Moreira em Jataizinho, o popular Zé Brás, se inicia em meados de 1959, quando veio de Ibiporã, da Água do Sabão. Lá ele era construtor, na época em que as casas eram feitas de peroba, madeira ainda vista em muitos imóveis e conhecida pela resistência ao tempo. “Com peroba fiz escolas, pontes e outras edificações. Não havia energia elétrica e ela se obtinha por motores a diesel e gasolina. As ruas eram de terra e com a vinda do asfalto, o município se desenvolveu. Vim para cá devido uma febre e a impossibilidade de trabalhar no ramo da construção”, afirma.                                       
Por conta das adversidades, Zé Brás, que é marceneiro, foi esfaqueado numa briga e viu a primeira mulher adoecer devido o câncer. Com parcos recursos, gastou o que tinha com remédios. Na época, o prefeito de Jataizinho, Dionízio Striquer, lhe doou um terreno de 800 metros para a instalação duma fábrica de charretes e carrocerias de caminhão. Como a prefeitura da época não tinha veículos, ele doou uma charrete para o recolhimento e transporte de lixo. “O terreno, desde 1920 era duma família de turcos, mas não era legalizado. O Atanásio Belo, dono de um hotel em Londrina, deu aprocuração e a escritura do terreno”, lembra José Braz, hoje com 85 anos.                                              
Apesar de conquistar o terreno, uma adversidade dificultaria sua vida: a morte da esposa Rosalina Farias, em 1960. Por conta disto, criou “na marra” os quatro filhos: Vanda Resende Moreira (agricultora), Irineu Moreira (soldador), Lúcio Moreira (já falecido) e Beatriz Moreira, uma artista plástica de renome internacional. Com os filhos maiores, Zé Brás se casou com Nereide Farias Moreira, funcionária pública estadual que atuava no posto de saúde. “Criei as crianças com ajuda dos vizinhos e na lei da natureza”, cita.                            
Quanto à marcenaria, ele aprendeu a fazer tudo sozinho e hoje constrói e reforma cadeiras, mesas e carrocerias. “Aprendi o que sei quando jovem ao trabalhar de ferreiro numa usina em São Paulo. Mesmo aposentado, continuo no ramo e na juventude era especialista em rodas de carroça fundida a ferro quente”. Católico praticante, ele vê com alegria os domingos, pois vai à missa e há 40 anos senta no mesmo lugar, acompanhado de José Carlos de Lima, o Zezinho Mineiro, hoje com 63 anos.
                                                            
Nestes 55 anos, Zé Brás viveu muitas histórias. Uma dela foi quando chegou a televisão, em 1964. “Havia apenas dois aparelhos de televisão na cidade e um era meu. As pessoas se reuniam no terreiro de casa para assistir filmes e atrações como o Rim TimTim e Bonanza”, recorda.Outro fato marcante foi quando ao vir de Assai, com o caminhão carregado de toras e o mesmo quebrou na estrada. “Sinalizei a via com um lampião, mas veio um ônibus e bateu contra ele. A batida destruiu parcialmente ambos os veículos e a empresa de ônibus moveu uma ação judicial contra mim. Na audiência, juiz e promotor questionaram o porquêde ter deixado o caminhão quebrado na rodovia, com uma tora de quatro metros para trás. Ele afirmou que devia existir uma sinalização com pano vermelho. Indignado, respondi: Se o motorista não viu a tora, como ia ver um pano vermelho? Ao mover outra ação contra a empresa de ônibus, ganhei a causa, no entanto, a empresa não o pagou e para minha tristeza perdi o caminhão”, lamenta. 

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