quarta-feira, 8 de junho de 2011

O inconsciente

O inconsciente é um termo psicológico com dois significados distintos. Em um sentido amplo, genérico, é o conjunto dos processos mentais que se desenvolvem sem intervenção da consciência. O segundo significado, específico, provém da teoria psicanalítica e designa uma forma específica de como o inconsciente (em sentido amplo) funciona. Enquanto a maior parte dos pesquisadores empíricos está de acordo em admitir a existência de processos mentais inconscientes (ou seja, do inconsciente em sentido amplo), o modelo psicanalítico tem sido alvo de muitas críticas, sobretudo de pesquisadores da psicologia cognitiva. Para evitar a confusão entre os significados, alguns autores preferem utilizar o adjetivo "não-consciente" no primeiro significado, reservando o adjetivo "inconsciente" para o significado psicanalítico, que define um complexo psíquico (conjunto de fatos e processos psíquicos) de natureza praticamente insondável, misteriosa, obscura, de onde brotariam as paixões, o medo, a criatividade e a própria vida e morte.

O conceito de inconsciente de Carl Gustav Jung se contrapõe ao conceito de subconsciente ou pré-consciente de Freud. O pré-consciente seria o conjunto de processos psíquicos latentes, prontos a emergirem para se tornarem objetos da consciência. Assim, o subconsciente poderia ser explicado pelos conteúdos que fossem aptos a se tornarem conscientes (determinismo psíquico). Já o inconsciente seria uma esfera ainda mais profunda e insondável. Haveria níveis no inconsciente mesmo inatingíveis. O inconsciente não se confunde com o id. Este é em pequena parte consciente, enquanto o ego e o superego possuem porções inconscientes.

Outra definição de inconsciente remete ao termo utilizado na psicologia para descrever "qualquer tipo de conteúdo da mente existente ou operante fora da consciência". Apesar de ser um termo pouco usado na terminologia científica, é muito difundido na cultura popular, sendo utilizado para indicar, de maneira geral, todo o conteúdo da mente que não é acessível à consciência. Neste sentido mais amplo o inconsciente é a parte da mente não diretamente acessível ao indivíduo, mas alcançável através de técnicas diversas como a hipnose, a psicoterapia e mensagens subliminares.

O termo foi utilizado pela primeira vez pelo psiquiatra francês Pierre Janet, contemporâneo de Freud, para indicar os conteúdos da mente que se encontram em um nível inferior de consciência. Janet desenvolveu uma complexa teoria da mente, baseada nos conceitos de subconsciente e de dissociação, e foi o primeiro a propor que os conteúdos inconscientes dissociados, ou reprimidos, estejam na origem de alguns sintomas de tipo neurótico.

O sonho foi para Freud o caminho por excelência da descoberta do inconsciente. Os mecanismos (deslocamento, condensação, simbolismo) evidenciados no sonho em “A interpretação de sonhos” de 1900 e constitutivos do “processo primário” são reencontrados em outras formações do inconsciente (atos falhos, chistes, lapsos, etc.), equivalentes aos sintomas pela sua estrutura de compromisso e pela sua função de “realização de desejo”. O inconsciente freudiano é, em primeiro lugar, indissoluvelmente uma noção tópica e dinâmica, que brotou da experiência do tratamento. Este mostrou que o psiquismo não é redutível ao consciente e que certos “conteúdos” só se tornam acessíveis à consciência depois de superadas certas resistências.

O termo “inconsciente” havia sido utilizado antes de Freud para designar de forma global o não-consciente. Freud afasta-se da psicologia anterior, por uma apresentação metapsicológica, isto é, por uma descrição dos processos psíquicos em suas relações dinâmicas, tópicas e econômicas. Este é o ponto de vista tópico, que permite localizar o inconsciente. Uma tópica psíquica não tem nada a ver com a anatomia, refere-se a locais do aparelho psíquico. Este é “como um instrumento” composto de sistemas, ou instâncias, interdependentes. O aparelho psíquico é concebido sobre o modelo de um aparelho reflexo, do qual uma extremidade percebe os estímulos internos ou externos, encontrando sua resolução na outra extremidade, a motora. É entre esses dois pólos que se constitui a função de memória do aparelho, sob a forma de traços mnésicos deixados pela percepção que é conservado, mas sua associação, por exemplo, conforme a simultaneidade e semelhança. A mesma excitação encontra-se, portanto, fixada de forma diferente nas diversas camadas da memória. Como uma relação de exclusão liga as funções da memória e da percepção, é preciso admitir que nossas lembranças tornam-se logo inconscientes.

No artigo “O inconsciente” em 1915, Freud denomina-os “representante da pulsão”. Com efeito, a pulsão, na fronteira entre o somático e o psíquico, está aquém da oposição entre consciente e inconsciente; por um lado, nunca se pode tornar objeto da consciência e, por outro, só está presente no inconsciente pelos seus representantes, essencialmente o “representante-representação”.

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