domingo, 21 de setembro de 2008

O corno viu o chifrudo - Parte II


Chegou o dia da comemoração do aniversário de Joana, que por coincidência, se dava na quaresma, numa noite de lua cheia. O Coronel preparou uma festança regada a orgias com bebidas para celebrar a data. Ao chegar à cidade, para comprar bebidas, encontrou um ancião na porta do boteco que lhe fez um questionamento:

- Coronel, vossa senhoria vai fazer entrar na bebedeira hoje? Justamente na Quaresma?
- Irei sim senhor! Qual o problema?
- Mas o senhor não conhece a lenda do chifrudo que aparece nas noites de quaresma para os incrédulos não guardam respeito à data?
- Larga de ser besta homem! Isso tudo é mentira.

Ocorrido o episódio, o Coronel foi para casa preparar a festa, não dando atenção ao caboclo que clamou e avisou quanto os perigos dos pecados carnais.
Ao escurecer, uma tromba d´agua decantou-se e alguns convidados tiveram receio e medo de participar da festa, permanecendo em casa com a família. Outros, assanhados, nem pensaram e partiram (alguns tomando pinga pelo caminho) para o salão. O que não faltava bebida e dança. Alcoolizados, embalavam danças e algazarra pela noite afora.
Quando o relógio bateu exatamente meia noite, algo diferente aconteceu: entrou no salão de festas um jovem vistoso, com terno e capa negra, gravata vermelha e chapéu de abas longas. No entanto, por onde passava, resplandecia um rastro forte de urina, enxofre e podridão que tomava conta do ambiente. O cavalheiro dançou com todas as moças, com passos que pareciam flutuar nas nuvens, acompanhadas da magnífica valsa. Ele seduzia e encantava as moças e seus passos cadenciados hipnotizavam os corações das donzelas. Quem poderia ser? Um homem tão vistoso, elegante, mas que tinha um cheiro estranho.
Com um olhar profundo e um sorriso, o cavalheiro convida Joana para dançar. Ela cai em seus braços e a cada instante a valsa torna-se envolvente e sedutora. As outras donzelas ficam de olhos arregalados e remoídas de inveja. Seu pai, enfurnado na pinga, percebe que o chapéu do estranho convidado cai ao chão e para surpresa geral, aparecem dois grandes cornos, em espiral, na sua cabeça. A fisionomia do homem não era a mesma e aos poucos se transformou numa horrível criatura de corpo e fisionomia grotesca. Ninguém tinha dúvidas: era ele mesmo, o cramunhão que saíra das estórias e do imaginário popular e que levava os incrédulos e pecadores a lugares desconhecidos que não tinham volta como o inferno de chama e fogo. Sua capa preta caiu e um manto vermelho, que pegava fogo, resplandeceu-se e se estendia pelo seu corpo, cheio de pêlos e finalizado por um rabo com ponta. Num toque de mágica, um tridente e cinco seres medonhos e bizarros se materializam. As criaturas emanavam uma risada sinistra que lembrava a hiena. Em conjunto, amaldiçoavam os que corriam assustados pelo acontecimento bizarro:

- Viemos do inferno para possuir o pensamento e alma de vocês.

Continua...

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