sábado, 20 de setembro de 2008

Lendas Urbanas - O corno viu o chifrudo (Parte I)


Segundo a Wikipédia, lendas urbanas são mitos, lendas ou pequenas histórias de caráter fabuloso ou sensacionalista. São freqüentemente narradas como fatos de conhecimento público. Muitas são antigas, tendo sofrido alterações ao longo dos anos ou mesmo traduzidas e incorporadas a outras culturas.

Quanto ao fato que será narrado, não posso afirmar se é ou uma lenda urbana. Mas foi uma história contada pela minha avô, que um dia morou numa aldeia indígena.

"Nas noites de lua cheia, a meia noite as feras estão soltas nas ruas e todo o mal perseguirá os malfeitores, desordeiros e incrédulos. Lembrava a minha avó, uma velha índia guarani, com a pele parda da cor da terra e com os cabelos lisos, longos e brancos como a neve. Ela fora capturada e amarrada a uma arvore, logo após o fazendeiro ficar com medo da sua “braveza”. Era uma selvagem que ia todas as noites a sua propriedade catar um bezerro para levar a aldeia, até que o fazendeiro a descobriu e a amarrou numa árvore. Para alimentá-la, ele colocava um pedaço de carne num pau e a dava. A avó-índia foi civilizada e sociabilizou-se entre os não-índios.
Ela aprendeu costumes católicos e dizia, na beira do fogo a lenha, que nas noites de quaresma aconteciam fenômenos diferentes daquilo que é explicado pelo homem. Caso algo de estranho acontecesse, deveria ser respeitado e para a “coisa ruim” não pegar, deveríamos se ajoelhar e rezar um pai nosso e três Ave Marias, assim estaríamos com o corpo fechado e protegido de todo o mal.
Certa noite, enquanto estávamos numa dessas fogueiras, minha avó lembrou-se da estória de Joana. Uma bela moça com os olhos da cor de esmeralda que completava 18 anos numa noite que a chuva fazia um barulho ensurdecedor e tenebroso. Estavam na quaresma e o clima sombrio metia medo em todos. Tanto é, que ninguém tinha coragem ou gostava de sair pelas ruas, ou fazer caretas na frente do espelho com medo do rosto ficar torto e não voltar ao normal. O pai de Joana era um rico fazendeiro de gado e café. Suas posses eram tão imensas, que abrandava diversas cidades. O “cabra” era dono de uma manada com mais de um milhão de cabeças de gado, quinhentas mil cabeças de ovelhas, além de imensas pastagens. Porém, o Coronel, como era conhecido, carregava em seus ombros a mais pura maldade por razão de terras, inveja e um presente de exploração e escravização de funcionários que sofriam maus-tratos nas mãos de jagunços e pistoleiros. Para o Coronel, só havia a presença de Deus no céu e sua estátua glorificada na Terra, tão destemido e poderoso que era o fazendeiro. Outro fato marcante eram os abusos e exagero nas bebidas, gerando desentendimentos familiares, noites agonizantes de discussões e quebra-quebra generalizado de móveis e veículos.
A mãe de Joana, dona Raquel, era uma dama bonita e com bom gosto. Por outro lado era adultera, colocando “chifres” no corno do seu marido fazendeiro. Alegava ao “chifrudo”, que gostava de jogo e bebedeira, que iria à casa de uma amiga qualquer ou ao cabeleleiro, mas na verdade estava debaixo dos lençóis cometendo pecados imorais com outros homens. Era uma pecadora incrédula que não acreditavam em nada e não resguardava o temor a Deus, deixando que a iniqüidade e a perversão, tomasse conta de sua vida.
Com tanta riqueza, o Coronel, para explorar ainda mais seus pobres funcionários, por muitas vezes atrasava seus salários ou os deixava meses a fio sem receber. O corno do Coronel gostava de ver o sofrimento alheio e a penúria de pobres caboclos que dedicavam sua vida ao cultivo da terra e o tratamento honesto dos animais.
Tonico, o filho de um caseiro, sempre ficava doente e o “chifrudo” fizera descaso da doença da criança, maltratando-o com xingamentos. O sofrimento da criança era tal, que seu pai o amarrava na cela do cavalo e cavalgava até a cidade para consultar-se com o médico pediatra e comprar remédios com dinheiro emprestado. Porém, o chifrudo não fizera conhecer do dito popular que: “tudo que aqui se faz aqui se paga”.

Continua...

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