domingo, 30 de outubro de 2016

Infância, juventude e os livros da Cosac & Naify (Por Aldo Moraes)

No mês da criança, vamos direto ao ponto: num país que clama por leitores e formação de novos apaixonados pelo livro (esse objeto que leva ao sonho e ao impalpável, culto da mente e da alma), iniciativas de grupos culturais pelo Brasil contrastam em dificuldades e falta de estrutura com a editora paulista Cosac & Naify (que fechou as portas este ano) e cuja direção, declarou recentemente ter o interesse em incinerar cerca de 100 mil títulos. Uma das mais importantes no mercado, a empresa argumenta que doar custa caro e ainda acarretaria em diminuição futura no valor comercial de seus autores.                                                        
Ocorre que o Brasil é grande e a doação destes títulos a bibliotecas, centros culturais, coletivos e escolas públicas ajudaria na divulgação dos autores e na formação de público para novos lançamentos. Pensamos ser fundamental estimular o gosto pela leitura e torná-la acessível a todas as camadas e faixas etárias. Reclamar que o Brasil é um país com baixo índice de leitura e ter uma atitude deste nível é um enorme paradoxo. Tanto quanto divagar no valor comercial dos autores no futuro e não avaliar o futuro de crianças e jovens impactados pelo livro e com a cidadania e o alcance intelectual limitados pela falta de bibliotecas e melhor estrutura nas escolas do país.                                                  
A formação de leitores, o gosto pelo livro, música e artes ganha muito quando começa na infância e se consolida na juventude. Estes livros (com produção extremamente caprichada e de bom gosto) poderiam ser inseridos no cotidiano de espaços culturais, comunidades e escolas e promover aventuras e paixões através de enredos, versos e imagens. Pois quem nega a imensa e por vezes dolorosa aventura em Clarice Lispector? A dureza estética e o sofrimento em Graciliano Ramos? Ou as desventuras de Vadinhos, Tietas e Arcanjos nos textos imprevisíveis de Jorge Amado? O que seríamos sem o universo mágico de Monteiro Lobato, Ana Maria Machado e Ruth Rocha? Nesta matéria fina e tão sólida ao mesmo tempo se concebem retratos do Brasil rural e urbano; lendas e nossa cara de índio, negro e branco. Ainda mais: No Brasil, o rigor e a beleza da MPB e do samba agregam conteúdo poético e estético a literatura. Obras para teatro, cinema e muitos da nova geração completam os mares aos quais temos acesso e que só podemos desfrutar com quando iniciados nas águas do livro, um batismo para o que há de na cultura.                                                                            
Num contraponto ao anúncio da editora, projetos e coletivos culturais nos quatro cantos do Brasil produzem leitores, autores e uma moçada politizada que quer discutir e ir de encontro ao país real. Estas iniciativas sobrevivem de apoios, doações e da clara certeza de seus realizadores de que fazem a parte para as mudanças que o povo merece e precisa. No contexto das comunidades, o livro é ferramenta de estudo, conhecimento, aventura e possibilidade de novas estradas para crianças, adolescentes e jovens que enxergam na cultura o elo com a educação e a cidadania para dias melhores e iguais para todos.

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