sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Sim, comem-se cachorros em Guangzhou, no sul da China. "Só no sul da China, não em todo o país", destaca o guia. Estima-se que sejam abatidos cerca de 15 milhões de cães por ano. E comem-se também escorpiões no espeto, que podem ser comprados vivos em Qingping, em tinas destampadas. Mas eles não sobem pelas paredes das tinas? Não. Eles ficam apenas em frenética movimentação, amontoados no fundo do tacho. Branquinhos, nem despertam nojo.

Não dá para ir à China sem visitar Xian, na região central, que foi capital do país ao longo de várias dinastias. Numa delas, em 246 aC, o imperador Qin Shi Huang ordenou a construção do exército de terracota, para que eles o protegessem depois de sua morte. Essas imagens de barro (alguns exemplares estiveram no MASP, em São Paulo), foram descobertas por agricultores de Xian em 1974. Desde então, os chineses desenterraram cerca de 8 mil delas, de homens e de cavalos, todos em tamanho natural, muitas em cacos que tiveram de ser recompostos. As estátuas são coloridas, mas, ao entrar em contato com a atmosfera, perdem a cor em pouco tempo. Por isso, os técnicos chineses pararam as escavações até que possam descobrir uma forma de manter as cores originais. Fizeram também dois enormes galpões para proteger a área.

Há coisas admiráveis na China, como os soldados de Xian, e outras nem tanto. Num dia, Pequim amanhece linda, banhada de sol. No outro, uma névoa amarela cobre toda a cidade o dia inteiro, a ponto de o sol parecer uma lua às 3 horas da tarde. Poluição? Não, apenas poeira vinda do deserto de Gobi, diz a guia. Surpreende também que as estatísticas indiquem uma população de 85% de ateus, mas que os prédios contemporâneos continuem sendo construídos sem o quarto andar por pura superstição em relação a número quatro, que significa morte. Os banheiros públicos assustam pela sujeira e pelo mau cheiro -- as mulheres reclamam porque não há vasos sanitários, apenas um buraco no chão. E muitos chineses continuam a cuspir sem receio nas ruas.

Para o leitor que conseguiu chegar até aqui, lá vai uma pitada de humor, uma quase-anedota contada por um guia chinês. "No ano 245 aC, o imperador Qin, o mesmo que mandou construir os guerreiros de Xian, enviou soldados a uma ilha do pacífico para buscar uma erva que teria o dom da imortalidade, uma obsessão do rei. Chegando à ilha, os soldados não encontraram a erva e, certos de que seriam executados se voltassem a Xian sem a encomenda do rei, decidiram permanecer naquele lugar inóspito. Essa ilha se chama hoje Japão." Está viva a rivalidade milenar entre chineses e japoneses.

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