quinta-feira, 12 de abril de 2018

Aos 87 anos, Alice dos Santos recorda o matadouro Pansardi e as casas de pau a pique, feitas de palmito.


A casa de Alice dos Santos é repleta de plantas exuberantes e pequenas criações de galinhas e cães. Vivendo com os filhos Elias e Lázaro dos Santos, ela nasceu em 18 de dezembro de 1928, foi casada com Francisco dos Santos e tiveram os filhos Antônio, Maria Eunice, Bendita, Gonçalo, Lázaro, Elias, Benedita e Maria Aparecida. 
Aos sete anos veio de Cornélio Procópio com a família, onde “abriram” a cidade para o café. Por conta dos fortes ventos e o clima frio se mudaram para Jataizinho. “Ao chegar deparamo-nos com aldeias indígenas e casas de pau a pique cobertas de sapê. Os índios participavam das festas religiosas adornados de penas e com arcos e flechas. Não havia violência e os ranchos de palmito ficavam abertos, sem risco de furto ou roubo. Tamanha era a quantidade de palmito, que usávamos a madeira para fazer casas e chiqueiros. A parte comestível vendíamos no hotel do João Manfrinato, que funcionava ao lado da atual Igreja Imaculada Conceição”, recorda.                                                                     
No terreno onde vive há mais de oitenta anos nasceram os filhos, o prefeito da época, Manoel Nowisky, vendo o crescimento de seus irmãos fez a casa de madeira para ajudar o pai de Alice, que trabalhava na linha de trem e posteriormente atuou na prefeitura com Antônio Brandão, antes de ser prefeito. A construção ultrapassa 60 anos.                       Com saudosismo ela se lembra do matadouro Jacob Pansardi, administrado por Joaquim Venâncio e localizado em frente a sua casa. Onde fica o Hospital São Camilo e o Maria Júlia eram partes do matadouro. “As boiadas e os tropeiros vinham pela Rua Benjamin Javarina. Existiam inúmeros comércios e quando não havia trabalho na roça, junto com outras mulheres trazíamos na cabeça latas de vinte litros de água, vendidas a um cruzeiro. Oriunda do poço artesiano da Serraria Velha ou na mina do Joaquim Venâncio, este, quando nos via com os baldes ficava bravo e corria atrás de nós”, recorda aos risos.   
Outra lembrança foram os diversos açougueiros que trabalhavam no matadouro, tendo na memória os apelidos de Lauro Mendes, Baiano (seu cunhado), Baianinho, Biju e Zé Soldado, este último boiadeiro. “Amarrava a corda no pescoço do boi para o abate com golpes na nuca. Com ele morto tirava e lavava a barrigada e as tripas para fazer lingüiça. Fervia a gordura no tacho do fogo a lenha, misturando palma e palha de milho no intuito de fazer sabão. Criávamos porcos e cabritos. A alegria das crianças na época era comer buchinho de porco assado, cozido, frito e recheado”, relembra.
Nestes oitenta anos Alice viu a sua rua, antes um carreador, se transformar em paralelepípedo. Os ranchos de pau a pique cobertos de sape viraram casas de madeira e depois alvenaria. Tudo está fresco na memória, como o sabão de soda, a água em baldes a um cruzeiro, a lenha e o machado, a colheita do algodão, o matadouro e a quebra do milho.


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