Após várias discussões sobre a política de cotas, a Universidade Estadual de Londrina, implantará no vestibular de Janeiro de 2005, a política de 40% de vagas para estudantes que cursaram o ensino médio integralmente nas escolas públicas. Isso representa 1.204 vagas das 3.010 disponíveis. Metade das vagas, 20% do total, será para alunos negros e pardos (será levada em consideração a documentação do candidato). Esse percentual se aproxima do índice da população negra em Londrina, que é de 23%, conforme dados do IBGE. No Paraná a população negra e parda chega a 21%. A justificativa da UEL é refletir na universidade a realidade da população. Atualmente Londrina abriga 85% dos alunos do ensino médio em escolas públicas e 15% em particulares. No vestibular, 43% dos aprovados são de escolas públicas e representam 2/3 dos cursos menos concorridos. Nos cursos mais concorridos a representação não passa dos 10%. A adoção de cotas no ensino público é algo que realmente pode mudar a concepção da educação em nosso país. Poucas são as pessoas oriundas de escolas públicas que conseguem ingressar na universidade, concluir o curso e tirar diploma que lhe dê possibilidades de garantir dignidade.
No Brasil, esta iniciativa vem de encontro com as necessidades das populações pobres e carentes. Muitos setores da burguesia, que tem filhos em colégios particulares e que tem possibilidades e condições financeiras de matriculá-los na universidade particular, afirmam que o aluno da escola pública pode prejudicar a qualidade do ensino com sua carência, sendo obrigado a comprar material, tirar xerox, tomar lanche e ir ao estágio. Muitos justificam o absurdo de que o pobre não consegue acompanhar o colega que tem condições financeiras.
A discriminação e o preconceito são reflexos da sociedade controlada pela minoria que observa para si mesmo, esquecendo-se das reformas essenciais para o país acabar com a pobreza, injustiça e desigualdade. A atitude da Universidade Estadual de Londrina é algo que pode mudar a concepção do ensino e dar oportunidade para a pessoa que quer estudar, mas não tem condições financeiras para freqüentar a Universidade particular. Segundo a Resolução nº 78/2004, o artigo 3º, inciso III da Constituição Federal, que define como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”. O sistema de cotas da UEL está baseado em compromissos internacionais formados pelo Governo Brasileiro com o Plano de Ação Durban, produto da III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, xenofobia e intolerância correlata, no qual governos e organizações da sociedade civil, de todas as partes do mundo, se reuniram no ano 2000 na África do Sul e se comprometeram com a elaboração de medidas globais contra o racismo e discriminação racial.
A medida irá vigorar por sete anos e foi aprovada em 23 de julho deste ano. Dos 45 conselheiros presentes com direito a voto, 31 votaram a favor da proposta. Outras universidades estaduais e federais, como a Universidade de Brasília e a Federal da Bahia aplicaram cotas para aumentar a representação do negro e diminuir a exclusão social com bons resultados e buscando diminuir a situação de inferioridade por que passa a maioria dos estudantes brasileiros. .
João Lino, de 53 anos é integrante do Conselho da Comunidade Negra. Desde o primeiro momento defende as cotas e entende que é através de medidas como essa ajudam a construção da sociedade passando da questão jurídica. As cotas não ferem a constituição, mas promove a igualdade e ajuda na formação da institucionalização e na luta para arrumar o passado, corrigir as injustiças e reorganizar o país.
Kabengele Munanga, antropólogo da Universidade de São Paulo, diz que cotas para pobres, negros, índios e pardos, parte para questões de desigualdades no trabalho, saúde, lazer, política e esporte. A partir da educação se cria possibilidades para acabar com a pobreza e desigualdades sociais. Os países desenvolvidos investem muito na educação. Nos países da África, Ásia e América Latina, as taxas de escolaridade e de vida são baixas, implicando na exclusão social. Nos anos 50 a Índia conheceu o sistema de cotas para legisladores, conselheiros públicos e universidades. Nos Estados Unidos, a luta dos movimentos afro-americanos, como os Panteras Negras, movimentou o cenário do país. A partir dessas lutas criaram-se práticas para inclusão. Em 1960, apenas 3% da população negra frequentava as universidades, hoje o percentual é de 33%. Além dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Inglaterra implantaram as cotas.
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