terça-feira, 17 de setembro de 2019

Há mais de 50 anos o Sindicato dos Ensacadores de Cambé preserva a memória do ciclo do café, além de representar a categoria dos “saqueiros”



É na Rua Belo Horizonte, em meio a apitos e o som da locomotiva nos trilhos que funciona o Sindicato dos Ensacadores de Cambé. Manoel Francisco Ramos Neto, presidente da entidade, se associou em 1973, vindo do KM 9 para atuar como carregador avulso. De 1989 a 1996 foi tesoureiro e depois assumiu a presidência. O sindicato intermedia a mão-de-obra para as empresas, que recolhem INSS e outras contribuições. “O Sindicato dos Ensacadores é um órgão de classe que defende a categoria e presta serviços nas áreas de carga e descarga, movimentação, acomodação, limpeza do local, arrumação, empilhamento e transporte de mercadorias enlatadas, a granel, ensacadas, pallets e demais produtos. Surgido para representar os ‘saqueiros’, hoje são em torno de 200 filiados e 70 estão na ativa atendendo dez empresas de movimentação focadas na soja, trigo, adubos, milho e óleo enlatado. Estas mercadorias chegam e saem de Cambé por caminhão ou trem, sendo este, detentor de um terminal na Rua Belo Horizonte”, declara.                                                            

O Sindicato dos Ensacadores se iniciou em julho de 1963, através do grupo que trabalhava para a Família Codato, grandes cafeicultores da época. Posteriormente tiveram como base o IBC (Instituto Brasileiro do Café). O 1º presidente foi Waldomiro Komaneski e a sede era na Belo Horizonte, próxima a rua Brasil. O imóvel atual, também na Belo Horizonte desde 1991, era de madeira e deu lugar para o de alvenaria.                                                                    
Manoel Neto ressalta que a mudança no modelo de serviço fez os trabalhadores saíram da base sindical para atuar nas empresas. Algo impensável no passado, uma vez que o ganho diário do saqueiro podia ultrapassar o salário mínimo, mas com jornadas de 12 a 16 horas entre sacarias de 60 quilos. “Hoje, o trabalho feito por trinta homens, no passado se fazia com dez, que carregavam doze vagões com 700 sacas de café cada. Não existia horário especifico, se ganhava por produção e as jornadas iam da cinco da manhã a meia noite. Apesar do trabalho árduo, a atividade era digna e os trabalhadores braçais, em pouco tempo, compravam carros, terrenos e casas para suas famílias. Era muito rentável, diferente de hoje, onde o piso é pouco maior que mil reais”, afirma.                                                                                                     
A categoria, que nasceu nos portos, teve seu crescimento em Cambé graças aos IBC, que funcionava onde hoje é a Secretaria de Educação. Com sua desativação em 1989 houve declínio no trabalho. “Em 1988 mudaram a Constituição e em meio a isto, ouvíamos o rádio desembarcando o café dos caminhões e embarcando nos trens. Quando o IBC acabou, a Cacique Solúvel tinha um grande estoque para consumo interno e exportação”, recorda.                        

Por mais antigo que seja o Sindicato dos Ensacadores, ele mantém no arquivo documentos com mais de 50 anos, como o de Francisco Luis Souto, já falecido. Ainda existe a carteira de sócio com normas aos sindicalizados, ficha cadastral, registro de ganhos, contribuições ao INPS (Instituto Nacional de Previdência Social) e dados de aposentadoria. Sua filha, Eronisa de Souto Severino, mora em Londrina e lembra que todos os anos no Natal havia festa aos associados, onde os familiares eram presenteados. “Morávamos na Belo Horizonte, em frente ao atual Restaurante Brasília. Meu pai tinha orgulho de trabalhar para o IBC, pois ali fez muitos amigos. Estudei no Olavo Bilac de manhã e à tarde, os filhos dos saqueiros iam ao sindicato para ter aulas de reforço com professores particulares contratados pela entidade”, recorda Eronisa.

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