sábado, 21 de fevereiro de 2009

Universidade para o índio

No princípio eles viviam nus, depois vieram os missionários para cobrir “suas vergonhas”. No caminho das riquezas chegaram os colonizadores abrindo o caminho para a escravidão. Após o combate desigual de bacamartes e canhões contra arcos e flechas, suas terras foram devoradas pelo “homem branco”, até serem confinados em reservas. Usos, costumes, medicina e cultura esvairam-se. Por isso o índio segue hoje mambembe e maltrapilho rumo ao desconhecido e mais nú do que nunca. Entretanto, a partir do momento que existe a oportunidade de mudar, seja através do estímulo a agricultura ou com a entrada na universidade, suas vidas se transformam completamente. É partir daí que há transformações culturais e econômicas que dão suportes e inspiração para arrumar o passado. Na Universidade Estadual de Londrina, existe um grupo indígena organizado que espera montar uma biblioteca e uma sala de atendimento especial que cumpra as necessidades básicas de quem sai da aldeia, como por exemplo recursos para alimentação, transporte, moradia e principalmente o bem estar social. Além dos índios, que na maioria são oriundos das aldeias da região não estarem interessados em conquistas pessoais, benefícios próprios, ou no mercado de trabalho, mas sim, pensar em retornar para suas aldeias de garantir o futuro aos jovens.
Leonardo Vargas da Silva, de São Jerônimo da Serra é o exemplo. Com 26 anos, casado e pai de dois filhos, fez todo o ensino fundamental na aldeia, porém teve que parar para trabalhar na roça, esta situação é comum pelo fato do índio não ter o costume de ter estudo. Depois, com a oportunidade de reiniciar os estudos, Leonardo fez supletivo do 1º e 2º grau e partiu para o magistério. Porém à vontade de entrar na universidade foi tanta, que iniciou o curso de pedagogia e após um ano, fez um novo vestibular e passou em medicina. Hoje, além de se qualificar como pediatra, uma das especialidades que as aldeias mais precisam, Leonardo se dedica a saúde mental através do combate as drogas, a DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e principalmente no combate a bebida, que é um dos principais males que atinge as populações indígenas. No futuro, ele espera se especializar em geriatria, uma área com poucos profissionais.
Outro indígena que está em sintonia para a preservação dos costumes e das tradições é Marciano Rodrigues, de 27 anos, aluno do 2º ano de Administração na UEL. Marciano, sempre atento para combater as injustiças e as possíveis questões que aflige e oprime seu povo, diz que a solução para tanta desigualdade pode ser encontrada através da educação e da colocação do índio como um indivíduo igual perante o branco e não como um ser marginalizado, como pensa a elite. Idealizador do projeto de Saúde Mental para a comunidade indígena do Paraná, Marciano está tão empenhado no projeto, que as reuniões, que acontecem as quartas-feiras, conta com a participação da comunidade universitária indígena, membros do SEBEC (Serviço de Bem Estar da Comunidade Universitária) e principalmente, com a presença de representantes da FUNAI (Fundação Nacional do Índio).
Apesar das facilidades que estão sendo criadas para que os indígenas tenham melhoria na qualidade de vida a partir da universidade, a Dra. Magali Cecili Surjus Pereira, afirma que as identidades culturais, sociais e lingüísticas, devem ser preservadas para que não haja enfraquecimento das tradições e contradições nos costumes. Com dois livros publicados pela EDUEL, a Editora da Universidade Estadual de Londrina: “Política de identidade: um estudo de caso com Kaingáng” e “Meninos e Meninas Kaingáng: o processo de socialização”, Magali afirma que os índios, através do convívio nas aldeias, conseguem manter as tradições sociológicas, como a língua, a pintura, o artesanato e as comidas, além das relações internas serem diferentes da sociedade branca, isto porque “a cultura está em ligação direta com o indivíduo”.
Segundo a autora, existem as Teorias da Representação Social e a Teoria Social do Sujeito de George H. Mead. A primeira afirma que o indígena, dentro do ambiente da aldeia, tem uma cultura particular que vai de encontro com seus costumes. Além de a mesma ser comum e individual. Já a Teoria Social do Sujeito de George H. Mead afirma que quando o indígena sai do ambiente e vai para a cidade, sua relação pessoal é perdida, sendo ocupada pela cultura do branco, é a partir deste processo que o índio perde sua cultura e começa a agir conforme o que está ao seu redor, no caso os costumes da cidade.

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