domingo, 6 de janeiro de 2008

Literatura Marginal - 157 Assalto a mão armada - Parte I

Quando a vi pela primeira vez não imaginei que ficaria tão apaixonado. Lúcia, 16 anos, uma linda morena dos olhos e cabelos negros. Suas madeixas eram longas e quando batia o vento movimentavam-se como as ondas do mar. Apesar dos nossos bairros serem vizinhos, nunca trocamos uma palavra. Ela vivia rodeada de amigos que me olhavam com ódio devido uma antiga rivalidade. Morava no Bairro da Linha e Lúcia na Vila dos Santos. Todo dia a cena se repetia. A bela morena passava com suas longas madeixas na rua de casa quando voltava da escola. Lá estava eu com os amigos do Bairro da Linha. Jamais conversamos, mas havia a troca insinuante de olhares. Certo vez, quando estava com suas amigas, cumprimentou-me por educação. Nunca esquecerei esse dia e o guardo na lembrança e no coração. Minha paixão por Lúcia transformou-se em platônica, mas ela nunca me daria atenção devido a rivalidade. Sempre receoso de sofrer um ataque dos inimigos do bairro vizinho, me preocupava em não "vacilar" e sempre evitava determinados lugares. Apesar disso, minha vida era normal. As vezes a ociosidade era eterna e tinha que arrumar uma ocupação. Ficava em casa o dia todo em pensamentos banais ou buscava uma idéia brilhante que rendesse dinheiro. Naquele tempo, era jovem e muito "malandro". Fazia furtos em pequenas lojas, mercados e caixas de ônibus coletivos. Nesse depoimento, relato que ninguém da minha família tinha conhecimento destas atividades ilícitas. Em hipótese alguma fui preso. Não levava isso a sério, era apenas uma distração baseada em romances policiais, literatura marginal e filmes de ação, apesar de precisar de uma grana extra. Quando era início de mês e os assaltos rendiam um pouco mais, chegava em casa feliz, com dinheiro, carnes, verduras e roupas novas. Minha família estranhava, pois não tinha emprego. Dizia que a verba provinha do ofício de carregador de caixas na central de distribuição de hortifrutigranjeiros, onde ganhara as carnes e as verduras. Com o tempo fiz mais furtos, amizades no crime, parceiros de assaltos e conheci alguns traficantes. Por influência deles comecei a fumar maconha. Nunca havia provado a "erva maldita" até assaltar um coletivo e ganhar R$50. Tinha um parceiro no crime com apelido de Maluco que morava numa favela próximo a minha residência. O Maluco dizia que maconha abria o apetite...

Continua......

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