terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Frei Timóteo: o fundador de Jataizinho.
Jataizinho
pode se considerar uma das cidades mais antigas do país. Localizada no norte do
Paraná e banhada pelo Rio Tibagi, ela tem na sua história a lendária figura de
Frei Timóteo, um de seus fundadores.
Devido
as constantes ameaças de invasão pela Argentina, Paraguai e Uruguai, D. Pedro
II assina o decreto imperial em 1851 para a criação da Primeira Colônia Militar
do Império no Porto Arroio Jatai. O estabelecimento do aldeamento indígena era preciso
devida a existência de nativos que representavam ameaças. Estabelecer o contato
pacífico com essas sociedades beneficiaria o povoamento branco, com intuitos de
resguardo de fronteiras e da colonização do interior paranaense.
Frei
Timóteo chegou à Jataizinho em 1854 e foi o responsável pelo aldeamento. Ele viveu
em meio à mata virgem e entre os nativos de várias famílias até 1895, quando
faleceu.
Sua
história foi transmitida às gerações por meio da oralidade e o mito foi registrado
através da escrita para não se perder. Da época que viveu às margens do Tibagi,
na tentativa de “educar” e pacificar os índios, se passaram muitos anos, mas a
história do homem que viveu nesses recantos permaneceatravés do tempo.
Contam
os antigos moradores, o que em parte ficou registrado na história através dos
relatos do próprio Frei Timóteo, em cartas escritas aos superiores religiosos
da Igreja e administrativos do Império, nas quais faz referência a tarefa de
civilização, quase impossível, dos bravios Kaingángs. Esses índios eram muito
arredios. Destruíam lavouras, saqueavam tulhas repletas de alimentos produzidos
pelos índios Kayioá, escravos e colonos do Aldeamento São Pedro de Alcântara.
Os Kaingángs agiam dessa maneira para manifestar repúdio. Rebelavam-se contra a
ação dos brancos nas terras que não lhes pertenciam desde o descobrimento do
Brasil. Na tentativa de contatos pacíficos com os Kaingángs (kaing= mato ang=
gente), há um relato da estratégia utilizada pelo Frei para conseguir em
partes, seu objetivo: a aproximação pacífica dos nativos. Certa vez, os Kaingángs
chegaram às proximidades do Aldeamento e o pavor tomou conta do local. Eram uma
constante ameaça ao “processo civilizador”. Fizeram o Frei refém e prenderam-no
em uma tulha durante o dia e, em cânticos de guerra comemoravam a ação
vencedora, pois capturaram o diretor do aldeamento. O Frei, temeroso, achando
que seria seu fim, conseguiu fugir e se escondeu na mata. Viu que atearam fogo
ao local onde ficou preso, iluminando a escuridão da mata e assombrando os
bichos. No dia seguinte, pela manhã e sem que ninguém percebesse sua presença,
foi ao local onde restavam as cinzas e deitou-se, cobrindo-se totalmente com
elas ainda quentes de uma maneira que não percebessem seu corpo e sua
respiração. Frei Timóteo sabia que essa era uma das poucas tentativas de
contato que lhe restava. Aguardou imóvel os índios e ao perceber a aproximação,
levantou-se e se impôs de maneira firme e quase que prateado, reluzente pelas
cinzas impregnadas em seu corpo e vestes, iluminados pelos raios do sol. Transcendente,
seguiu deixando marcas de cinzas em seus passos sobre a terra, em meio aos
nativos, pregando a palavra do Cristo Vivo e “ressuscitado” como o Pai.Os
nativos ficaram pasmados pelo fato do Frei permanecer com vida após o fogo ter
destruído tudo. A partir disso, passaram a respeitá-lo e a crer no Deus Cristão
tão poderoso que poderia tornar alguém imortal.
Quanto
à realidade desse fato cabe uma indagação, mas resta a evidência do mito que
permanece na memória da coletividade, em sua ação real na história do Brasil
como o gigante catequético do rio Tibagi que tinha sob sua
jurisdição os aldeamentos da Província do Paraná e São Paulo. Um homem
pragmático no passado que continua atravessando as barreiras do tempo através
de seus relatos e na memória das pessoas, em um busto de bronze com olhos
zelosos voltados à Igreja Matriz de Jataizinho, na praça que leva seu nome.
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