quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Centenário do samba, por Aldo Moraes

“O samba é alegria, falando coisas da gente
Se você anda tristonho, no samba fica contente “...
(Paulinho da Viola)



Em 2016 se inicia as comemorações em torno do centenário do samba, tendo como ponto de partida a gravação de “Pelo Telefone”, composição de Donga e Mauro de Almeida. Os primeiros sambas tinham o ritmo acelerado, influência do maxixe e as letras falavam do cotidiano urbano com humor e leveza. A primeira fase do samba tem na Bahia e Rio de Janeiro os principais criadores e a figura da Tia Ciata se destaca por agregar talentos em sua casa e proteger os músicos da ação policial, já que o violão e a música popular eram vistos como atividade de vagabundo no início do século XX. A essência musical do samba é tão cheia de possibilidades que logo surgiram subgêneros: samba-choro, batucada, samba-canção, partido-alto, pagode e bossa nova.                
Os anos de ouro do rádio viram surgir compositores essenciais para a história da música brasileira e que solidificaram a forma do samba: Noel Rosa, Ary Barroso, Dorival Caymmi e Lupicínio Rodrigues por exemplo. Um carioca, um mineiro, o baiano e o gaúcho para mostrar que já se fazia samba em todo o país e que as temáticas iam da filosofia ao amor perdido, cantar as glórias do Brasil e o mar infinito do Nordeste.                                                                                  
Profundamente enraizado no cotidiano brasileiro, o samba absorveu a melodia da modinha portuguesa e a poesia dos trovadores urbanos contribuindo para a formação do que se conhece hoje por MPB. Conta a lenda que na preparação de um LP, um produtor perguntou a Elis Regina o que era aquela mistura de estilos e ritmos que ela cantava e porque ia misturar samba com bolero. Elis respondeu que o samba era um elo e que isso se chamava MPB. A partir daí, a música nacional se inseriu na multiplicidade de cores e ritmos que conhecemos...                                                                                                       
A Bossa Nova levou sua versão de samba para o mundo e até hoje é cantada e admirada em capitais culturais como Londres, Nova Iorque e Tóquio. O samba foi se atualizando e se fundindo com o rock e o funk.                                             
Durante a ditadura, sambas antológicos foram escritos relatando de maneira cifrada e metafórica o que acontecia no Brasil. É o caso de “Apesar de Você” (Chico Buarque), “Comportamento Geral” (Gonzaguinha) e “O bêbado e o equilibrista” (João Bosco/Aldir Blanc). O complexo de ritmos de que se constitui a MPB, no qual o samba está inserido, também deu grande espaço a mulher: Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes, Elza Soares, Dona Ivone Lara e Clementina de Jesus, que foi empregada doméstica e descoberta cantora aos 60 anos de idade.                                
O samba também deu espaço a poetas populares que nasceram em favelas e morros cariocas como Cartola, Zé Ketti, Martinho da Vila e Nelson Cavaquinho. Em nossa região, o londrinense Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção (que saiu de Cambé para o mundo) escreveram sambas com a estética urbana das grandes cidades e a poesia concreta.                                                      
As novas gerações conhecem mais o pagode romântico e o samba bem humorado de Zeca Pagodinho e Dudu Nobre. Mas, este gênero que representa o Brasil é essencial para conhecer nossa história política e social nos últimos 100 anos. Do período Vargas a Nova República; do feminismo a poesia moderna; do urbanismo desorganizado das cidades ao resgate dos nossos sonhos e esperanças, tudo passa pelo samba!

“O samba é o pai do prazer
O samba é o filho da dor
“O grande poder transformador” (Caetano Veloso)


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