É numa casa de perobada cor azul localizada na Rua Benjamin
Giavarina que reside o casal Manoel Vicente Salomão e Rosa Salomão. Aos 83,
nascido em Belo Horizonte, Minas Gerais, ele chegou ao Paraná em 1950 para
trabalhar na Fazenda Monte Belo, de Potiguara Medeiros, em Frei Timóteo. Ele
era administrador e lidava com gado e café. Um de seus patrões, na propriedade,
foi Sebastião Toledo. Segundo Manoel Salomão, posteriormente a fazenda foi
vendida para Augustinho Ducci, de Cornélio Procópio. “Guardo lembranças de
quando vivia na Fazenda Monte Belo e lembro do rosto de cada pessoa que
conheci, como o João Moya, onde ia à sua venda e trazia as compras na carroça
ou à cavalo. Ou mesmo quando Potiguara Medeiros comprou um caminhão da 2ª
Guerra Mundial que nos levava à cidade, ou das viagens no trem misto, que
partia da Estação de Frei Timóteo”, recorda.
Vindo morar em 1964 na
área urbana, na casa de peroba que vive até hoje, ele criou dez filhos. Na cidade
pôde trabalhar na Irpasa, a antiga Indústria de Óleo Tibagi, em Ibiporã e
depois na Anderson Clayton, em Londrina, como ensacador de algodão. Foi na Irpasa
que ele presenciou uma grande tragédia que lhe causou deficiência auditiva e a
morte de oito companheiros no qual recorda o nome de alguns: Vicente de Paula,
Osvaldo Fernandes, Expedito de Andrade e José Pereira. “Havia um vazamento de
gás no armazém que trabalhávamos. Ele permaneceu assim por vários dias e mesmo
cientes do problema, nenhuma atitude foi tomada. Num determinado dia um
parafuso caiu na hélice do moinho, gerando uma faísca, posteriormente um ciclone
de fogo e um grande incêndio. Como o ambiente estava repleto de gás e as
pessoas o inalavam, eles morreram por queimaduras internas”, afirma. Manoel
Salomão foi o único sobrevivente porque fazia tratamento médico e se ausentou
do armazém, não respirando o gás. Em sua lembrança, era desesperadora a cena
dos amigos se debaterem em chamas junto aos vagões de trem.
Nesta
época ele já era um dos moradores mais antigos da rua Benjamin Giavarina e fez diversos
amigos, como Joaquim e Madalena Lopes, onde os filhos das duas famílias foram
criados juntos, num período que não havia asfalto eenergia elétrica. Com a
tragédia Manoel Salomão se acomodou. Mas antes disso era reconhecido por ser um
homem trabalhador e que gostava de lidar com animais, especificamente no retiro
de leite e em domar cavalos. “Sempre fui carroceiro. Pegava animais brutos e os
colocava na carroça para os amansá-los. Os domava no próprio trabalho, onde os
levava num carrinho e o outro na carroça, os ensinando a puxar o veículo”, recorda.
Da rua Benjamim
Giavarina as lembranças afloram a cada palavra, como a imagem do comerciante
Climax Chaves e do saudoso José Oliveira Lima, o Zé Mineiro. “São muitos que
não estão entre nós, como o Antônio Loci, que era da Folia de Reis e do
Cedilho, que vendia galinhas até para São Paulo, onde um caminhão vinha buscar
os animais vivos. Numa destas empreitadas, como tinha carroça que transportava umas
50 galinhas, fui com o Joaquim Lopes comprar os animais no atual Clube de
Campo. Inesperadamente fomos assaltados no caminho e levaram todas as
galinhas”, pontua.
A custo do
trabalho Manoel Salomão comprou várias casas e hoje vive de aluguel. “Com a
graça de Deus criei filhos e netos. Nesta vida posso me orgulhar de um dia ter
sido retireiro de leite, saqueiro, além de carroceiro”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário