“Quando o oleiro vê o barraco, ele se inspira para fazer tijolos.
Sua vida se restringe à olaria”. Nesta frase, Vicente Pereira define a vida do
oleiro. Aos 90 anos, ele não recorda a época que chegou a Jataizinho e, após se
estabelecer não retornou à terra natal, Muriaé, em Minas Gerais. Vindo direto para
a Água Branca, na antiga Maria Fumaça, ele é mais um mineiro que colonizou o
Norte do Paraná. Exibindo saúde e lucidez, sua única reclamação é a diabetes e
dores nas pernas, decorrentes da idade. Mesmo assim ainda roça e capina o mato
da propriedade.
Hospedado
na casa de parentes, seu primeiro trabalho foi com o saudoso Sebastião Corsino
e logo após, foi para a Fazenda São José, onde lidou sete anos com gado. Após
isso se casou e montou a olaria V.P. em Frei Timóteo com o sogro Artur Damásio.
Vivendo no local há 58 anos, Vicente Pereira recorda que a idéia de montar a
olaria se deu da seguinte maneira: Sempre que passava na Estrada de Frei
Timóteo, às margens do Tibagi, via um barranco de barro. “Chamei o dono das
terras, o fazendeiro Severino Félix, para montar o negócio. Com o passar dos
anos a propriedade foi vendida e em comum acordo entre vendedor e comprador foi
decidido que eu ficaria na propriedade”, recorda. Mesmo com o bom rendimento
financeiro, Vicente Pereira perdeu diversos animais como burros, vacas e bois,
investidos no negócio. “Com a decadência das cerâmicas perdi quatro burros e
vendi as vacas para manter o empreendimento”, recorda Vicente Pereira, que ao
mesmo tempo se orgulha de ter ajudado a construir grandes cidades e se
entristece por não ter construído sua casa.
Casado
com Benedita Damásio Pereira, de 74 anos, e pai de Florizia Pereira Damásio
Leite, Neuma Aparecida Risique e Celso Pereira Damásio, o oleiro cita que a
marca V.P. é vista em construções antigas, nos tijolos maciços e comuns. “Começamos
a produção em meados de 1955, com fabricação artesanal e diária de 1500 unidades,
feitas por cinco pessoas. Os produtos V.P. são vistos em diversas cidades e a Cerâmica
Jacutinga foi um grande comprador, chegando a adquirir 30 mil tijolos de uma
única vez”, pontua.
Quanto
à passagem do tempo muito se transformou, principalmente a Estrada de Frei
Timóteo. Bem movimentada, é a única barreira que separa a antiga olaria do
Tibagi, local de onde Vicente Pereira tirou muito barro. “Fiz uma passagem por
cima da linha do trem e usava carroças para puxar barro. Era um sacrifício. E,
nestes quase 60 anos, houve declínio na quantidade de peixes do rio. Nos tempos
áureos, o número de peixes era tamanho, que após as pescarias minha esposa não
agüentava ver tanto peixe e mandava devolver ou doar. Os mais antigos se
recordam do período como a Época do Barbado. Infelizmente hoje tem pouco peixe
e muito pescador”, pontua.
Foi nesta época que se desenvolveram
diversas olarias de famílias tradicionais, como Galli, Risique, Perti,
Odovaldo, Dionisio Stricker, Zé Mineiro, Bialta, Furlan, Olivio Tini, Domingos
Diana, Angelin Causa, Alberto Negro, Augusto Lourenço, João Dib, Paulo e Moacir
Contierio, São Chapina e a do José Luis, popularmente conhecido como “Cachorro
Louco”. Onde hoje é o Clube de Campo havia uma cerâmica. Às margens do Tibagi,
após um levantamento, há vinte anos, numa extensão de vinte quilômetros
contou-se mais de oitenta olarias entre Ibiporã e Jataizinho.
Vicente
Pereira recorda com saudosismo de Mauro Pierro, ex-prefeito de Ibiporã e também
contador em Jataizinho. Ele cuidava dos negócios de várias cerâmicas. O
escritório, que ainda existe, hoje é administrado pelo filho, Mauro Pierro
Filho.
Na
história de Jataizinho, as cerâmicas e olarias foram de extrema importância
para o crescimento de várias cidades, além de trazer dinheiro de fora para
aplicar aqui. O desenvolvimento imobiliário e da construção civil se deve a
este profissional: o oleiro.
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